Nem mesmo a garoa e o frio da capital paulista neste sábado (19) atrapalharam a festa que o Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo preparou para as crianças do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci), antecedendo o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, celebrado no dia 23 deste mês.
O evento ocorre desde 2008 e, neste ano, reuniu cerca de 300 crianças, além dos familiares e voluntários, no 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo, na região da Luz. E a festa começou cedo, antes mesmo das 9h, na Avenida Dr. Arnaldo, ponto de partida de uma carreata animada.
A alegria das crianças (dos pais e de qualquer pessoa que pode participar do evento) teve início já na carreata, pois este foi o grande dia em que os “heróis da vida real” se encontraram com aqueles que vivem na nossa imaginação: afinal, elas puderam conhecer o Super-Homem, o Capitão América, o Batman, o Homem de Ferro, a Mulher Maravilha, a Mulher Gato, além de diversos outros personagens.
Assim, a emoção contagiava cada morador que cruzava com os carros e as crianças, mesmo que precisassem parar um pouquinho o que estavam fazendo para deixar a carreata passar. E olha que a fila de carros e motos era bem longa.
“É uma festa em celebração a vida. Nós fechamos São Paulo e, no caminho, vamos falando sobre doação de sangue, pois nossas crianças precisam muito, e também de medula”, explicou uma das fundadoras do Itaci, Darcy Carvalho. Ela brincou, ainda, que um mês antes do evento nem mesmo pode aparecer no hospital, já que, na mesma hora em que chegava, as crianças já começavam a enchê-la de perguntas sobre o evento.
Depois da carreata, quando os pequenos homenageados chegaram ao Batalhão, tiveram uma bela surpresa: o sol também decidiu participar e a festa ficou completa, já que cada criança pôde aproveitar o dia com seus amigos e familiares da melhor maneira possível. “A gente não tem palavras para descrever a beleza. Eu assisto diariamente essas crianças aos berros para tirar sangue, tomar as injeções, passarem pela quimioterapia... De repente, estou vendo cada uma delas dançando, comendo, se esquecendo de que estão doentes”, completou Darcy.
O comandante do Policiamento de Choque, Coronel Nivaldo César Restivo, conta que quem mais se beneficia de todo o evento são as próprias pessoas que estão envolvidas com a preparação da festa. “Acabamos saindo com uma energia muito boa. É um sábado para ficar na memória de todo mundo que está aqui.”
Restivo acredita que oferecer um dia fora do leito hospitalar pode ajudar no tratamento das crianças com câncer. “E, sem duvida alguma, não vamos parar nunca com isso”, completa.
Histórias de lutas
Cada sorriso e cada risada que foram percebidos no Batalhão de Choque da Polícia Militar neste sábado escondiam histórias de muita luta. Greiciele Vittorazzi, de 29 anos, esteve na festa pela primeira vez com o filho João Pedro, de oito anos, que luta contra o câncer desde que nasceu.
“Está maravilhoso, ele estava superansioso com o dia de hoje e está amando”, afirmou a mãe. Ao lado de palhaços que não deixavam ninguém com carinha triste, João disse que estaria ótimo no fim do dia.
Greiciele não trabalha e fica ao lado do filho, assim como o boliviano Emerson Vila, de 32 anos, que chegou há dois meses ao Brasil e ainda não sabe direito falar o português. “Minha filha precisa de um transplante e eu sei que aqui vou conseguir um tratamento melhor. Normalmente, não a deixam fazer nada, ela nem mesmo convive com outras crianças, sempre em tratamento. Está tudo lindo”, contou.
Agarrada à perna do pai, a pequena Ana, de três anos, olhava timidamente para tudo o que estava acontecendo a sua volta. Passados alguns minutos, já corria de um lado para outro com uma tiara da Mulher Maravilha.
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Não é difícil encontrar pessoas que deixaram suas casas e famílias para buscar um tratamento no Itaci. A manicure Inês Gomes da Silva, de 31 anos, já traz o filho Gustavo, 14 anos, há uma década para se tratar no instituto, mesmo morando em Rondônia. Eles acabam ficando seis meses ou até um ano em São Paulo para conseguir os cuidados do hospital.
Se, em 2015, Gustavo estava de muleta e sonda, neste sábado fazia a alegria dos motoqueiros que o acompanharam nas outras festas. Hoje, o adolescente faz apenas o acompanhamento do quadro, mas já finalizou os tratamentos. O jovem disse que acha a festa muito legal, principalmente a parte da carreata, além de poder presenciar a alegria das outras pessoas.
Padrinhos famosos
Os irmãos Kiko e Bruno, da banda KLB, foram escolhidos como padrinhos honorários e afirmaram estar muito honrados com o convite. “Parabenizo o Choque e os voluntários. Que muitos e muitos anos possam existir na vida dessas crianças”, disse Kiko.
Também estiveram presentes no evento do Batalhão de Choque da Polícia Militar, os atores Marcos Pasquim, Raul Gazolla e Oscar Magrini.
“É o quarto ou quinto ano que venho participar com o pessoal das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam). Fico muito feliz. Só não venho mais vezes porque, normalmente, estou trabalhando aos sábados”, explicou Magrini, que atualmente se divide entre as gravações do filme “Vai Que Cola” e a série brasileira “Malhação”.
Já Pasquim esteve na festa pela primeira vez este ano. “Espero que seja a primeira de muitas. Estou adorando e quero ajudar da melhor forma possível”, assegurou.
Festa
O tempo inteiro da festa, crianças passavam com pipoca e algodão doce na mão. Elas também puderam jogar videogame e brincar com cães terapeutas. Durante a apresentação da Rocam Show, teve até mesmo pedido de casamento para animar todo mundo.
“É muito emocionante ver que, de alguma forma, a gente pode ajudar estas crianças. Eu já tinha conhecimento do evento, mas estar presente pela primeira vez é muito gratificante”, afirmou Major Ambar, da Polícia Militar. Ele lembra que esta é apenas uma de tantas ações que a PM faz como forma de aproximação à comunidade.
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Ao longo do ano, o Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo também recolheu camisas de time assinadas por importantes jogadores dos times Santos, Corinthians e São Paulo, que serão posteriormente leiloadas pela equipe do Itaci. Uma moto também foi doada para que o instituto consiga arrecadar dinheiro e investir em melhorias no hospital. E como diz o lema do Itaci: viva a vida!