Nos últimos anos, muito se falou a respeito do consumo do glúten. Por falta de informação ou modismo várias pessoas, inclusive celebridades, passaram a demonizar a proteína e restringi-la à alimentação.
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Mas, um estudo publicado nesta semana nos Estados Unidos pretende acabar de vez com essa fama de vilão. De acordo com a análise, a presença do glúten não é prejudicial à saúde de pessoas não celíacas. E o mais importante: ao evita-lo o indivíduo pode estar fazendo mal ao próprio coração.
De acordo com as informações da pesquisa divulgada pelo periódico científico “ British Medical Journal ”, a menos que a pessoa seja celíaca – intolerante à proteína – retirar alimentos que contenham essa substância poderá fazer com que haja redução no consumo de produtos que servem para prevenir doenças coronarianas, que atingem os vasos sanguíneos do coração.
A nutricionista e mestranda em Nutrição e Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública (USP) Angélica Carreira destaca que a dieta sem essa proteína não pode ser feita por todo mundo. “Não há nenhum benefício na dieta sem glúten para pessoas não celíacas. Ao excluir essa substância, você retira o fator de proteção contra doenças coronarianas, por conta da exclusão de grãos integrais que protegem o organismo desse mal”.
Método de avaliação
Para realizar a análise foram selecionados quase 65 mil mulheres e 45 mil homens norteamericanos, sem a doença celíaca, para serem observados quanto a seus hábitos alimentares. Divididos em grupos, eles foram separados conforme a quantidade de ingestão da proteína e, a partir dessa informação, os cientistas cruzaram os dados com a quantidade de infartos sofridos por cada um dos participantes do estudo.
O resultado mostrou que quem consumia mais alimentos com a substância tinha menos chance de desenvolver doenças cardiovasculares do que os que quase não consumiam.
Por se tratar de um estudo de acompanhamento de população, onde profissionais da saúde foram questionados de quatro em quatro anos, desde 1986 até 2010, os autores da pesquisa afirmam que as conclusões não podem ser levadas como verdades absolutas. Porém, a partir do que foi analisado, eles não encorajam a população sem a doença celíaca a aderir uma dieta sem a proteína.
A moda das dietas sem glúten
Presente em cereais, como trigo, centeio e cevada, o glúten tem sido excluído da dieta de quem quer emagrecer, com a promessa de que, além de perder peso, a pessoa estaria se prevenindo de problemas intestinais e outras doenças, como diabetes. No entanto, nunca houve um estudo que comprovasse essa relação.
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Angélica explica o motivo pelo qual muitas pessoas costumam associar a perda de peso com a exclusão da substância. “Quando uma pessoa faz restrição dessa proteína, ela acaba cortando alimentos com alto teor de carboidratos, como pães e massas, o que faz com que ela emagreça, mas na verdade não é necessariamente a retirada do glúten que provoca esse efeito, e sim da farinha branca.”
De acordo com Beatriz Botéquio, consultora em nutrição da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (ABIMAPI), “muitas pessoas aderiram ao modismo de banir a substância da dieta sem prescrição médica, devido a esta forte tendência de medicalização dos alimentos. Mas esta restrição pode trazer graves riscos à saúde”.
Beatriz ainda completa que ninguém precisa abrir mão dos carboidratos e da proteína para ser saudável. "O importante é manter uma alimentação equilibrada com todos os grupos alimentares, em quantidade adequada e de preferência na versão integral.”
Celíacos
Pessoas diagnosticadas com a doença celíaca, também conhecida como Enteropatia sensível ao glúten, não podem ingerir nenhum alimento com essa substância. “Ao ingerir esses alimentos, quem tem essa condição sente sintomas como diarreia, inchaço abdominal, fadiga e anemia, porque a doença causa má absorção de nutrientes no intestino”, esclarece Angélica.
A nutricionista também informa que ao insistir em consumir esses alimentos, o celíaco aumenta a reação imunológica do intestino, causando inflamações severas. “Por isso que, para esses indivíduos, a dieta sem a proteína é recomendada”.
Apesar de não ter cura, quem tem intolerância à proteína pode ter uma vida normal e saudável se levar o tratamento à sério. “Ao perceber os sintomas da doença é importante procurar um gastroenterologista para fazer o diagnóstico e, depois, um nutricionista que irá receitar a dieta”, orienta ela.
Alimentos como trigo, aveia, maionese, catchup, mostarda e outros condimentos, devem ser evitados. “E, em alguns casos, até evitar o consumo de alimentos que sejam preparados no mesmo ambiente que contenha alimentos com glúten”, finaliza Angélica.
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