No Brasil, o consumo diário de sal por pessoa é maior do que o dobro do indicado pela OMS
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No Brasil, o consumo diário de sal por pessoa é maior do que o dobro do indicado pela OMS

O Ministério da Saúde divulgou nesta terça-feira (13) que, desde 2011, a indústria conseguiu eliminar 17,2 mil toneladas de sal dos alimentos. Esse é o resultado de um acordo firmado com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), com o objetivo de reduzir o sódio em produtos alimentícios, que, quando consumido em excesso, pode ser um fator importante no desenvolvimento de doenças crônicas.

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Com a mudança, até o momento, o sal retirado dos alimentos expostos nas prateleiras dos mercados daria para preencher o equivalente a 60 quilômetros de estrada. Parece muito? Mas a ideia é que até 2020 mais 11,3 mil toneladas não façam mais parte da fabricação dos alimentos, resultando num total de 28,5 mil toneladas de sal a menos desde que o tratado foi feito. Porém, para isso, é preciso contar com a participação, voluntária,  das empresas alimentícias e do consumidor.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirma que está acompanhando o esforço da indústria. “Temos que entender que isso é uma parceria entre governo e indústria e a motivação é dada pelo próprio consumidor. Considero que estamos cumprindo a nossa meta e vamos fazer um grande esforço para alcançá-la", declarou ele.

Atualmente, estima-se que o brasileiro consome 12 gramas de sódio por dia, o que seria mais do que o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de apenas 5 gramas.

Segundo o ministro da Saúde, a quantidade excessiva de sódio no organismo pode ser responsável por desencadear doenças como hipertensão, diabetes e obesidade. Segundo a pasta, essas enfermidades, somadas a problemas cardiovasculares, respiratórios e câncer correspondem a 72% dos óbitos que ocorrem no Brasil.

Governo quer fim do refil de refrigerante

Ministério da Saúde vê em refil de refrigerante oferecido pelos restaurantes um problema para o consumo do sódio
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Ministério da Saúde vê em refil de refrigerante oferecido pelos restaurantes um problema para o consumo do sódio

Uma das medidas que poderá abalar muita gente, caso ela se efetive, é a que prevê a proibição do refil de refrigerante , muito comum em restaurantes e redes de fast food nos últimos anos. Nesses lugares, a pessoa pode pagar pela bebida uma vez, e preencher o copo do mesmo líquido quantas vezes ela quiser.

De acordo com Barros, a pasta tenta negociar com o setor para que essa prática seja banida, já que, segundo ele, pelo menos mil lojas oferecem essa opção aos clientes, o que contribui para o aumento de 30% no consumo desta bebidae quando há a opção de repor o refrigerante. “Isso vai contra a meta que estamos estabelecendo para a nutrição”, alerta o ministro.

Outra iniciativa que está sendo estudada para ser posta em prática é a obrigação das empresas de passarem a informar, no rótulo dos produtos, o teor de sódio e açúcar contido em cada alimento e bebida, além de incluir um dosador nos pacotes de sal.

"Com o dosador será possível recomendar as quantidades específicas nas receitas caseiras. Cada pessoa deverá ter a capacidade de controlar. Quando se fala em uma colher de chá, pode ser uma cheia ou mais rasa. Com o dosador, a medida será padrão", explicou  o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados, Cláudio Zanão.

O ministro Ricardo Barros reafirma que está negociando as providências com os setores cabíveis, mas não descarta a possibilidade de transformar essas medidas em projetos de lei.

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Etapas

Até o momento, quatro etapas de redução já foram completadas. A última, no entanto, apresentou resultados menores do que as duas fases anteriores.

A quarta etapa apontou que 718 produtos, como linguiças, sopas instantâneas, mortadela, queijo muçarela e empanados, foram revisados, resultando na diminuição de 2.361 mil toneladas de sal.

Já o segundo ciclo conseguiu eliminar 5,8 mil toneladas, revisando produtos, como biscoitos, batatas fritas, misturas para bolo, rocambole, salgadinhos e batatas fritas. A terceira fase, responsável por analisar margarinas, cereais matinais, temperos e caldos em cubo e em gel, foi capaz de reirar 7,2 mil toneladas de sódio desses alimentos.

Mas, é normal que a redução fique mais difícil nas últimas etapas, conforme afirma o presidente da Abia, Edmundo Klotz. “A dificuldade, no primeiro momento, era menor, era retirar o excesso de sódio. Depois, houve a substituição do sódio. Agora, será necessária a completa reformulação dos produtos. É mais complicado, mas será feito. Estamos caminhando muito bem", encara ele.

Klotz ainda ressalta que as empresas estão se empenhando para aperfeiçoar seus produtos, investindo em equipamentos e tecnologias que não deverão respingar no preço final de seus produtos.

Vilões

Entre os produtos mais visados, as sopas apresentaram uma redução bastante significativa. Esses alimentos tiraram, em média, 65% de sódio por cada 100 gramas da comida. As sopas instantâneas reduziram, em média, 49,14% por 100g.

No queijo muçarela, queridinho dos brasileiros, a redução foi de 23,15%. Os requeijões retiraram 20,47% do sal. Na outra ponta, a menor redução média percentual foi nos empanados, com apenas 5,7% de diferença nos produtos.

Novo acordo

Pães e massas vão entrar novamente em novo acordo com indústrias para tentar reduzir ainda mais o sódio
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Pães e massas vão entrar novamente em novo acordo com indústrias para tentar reduzir ainda mais o sódio

O governo também anunciou um novo acordo com a indústria, que deverá retirar a mesma meta de 28,5 mil toneladas de sódio de novos alimentos. Mas, dessa vez, as empresas terão apenas cinco anos para realizar a redução.

A primeira categoria a ser cobrada pelo novo tratado é a que comporta massas instantâneas, pães de forma e bisnaguinhas. Na primeira parte do antigo trato firmado em 2011 essa categoria foi analisada, mas os resultados não foram tão promissores, com apenas 1,8 mil toneladas de sal removidas.

Agora, o objetivo é que essa quantidade seja ainda maior, já que esses são produtos muito consumidos pela população brasileira. Para Zanão, o principal desafio será reformular os produtos, sem alterá-los.  "Não podemos descaracterizar os produtos. Não podemos esquecer a expressão ‘comida de hospital’. Ninguém vai comer se perder as características", alertou.

*Com informações da Agência Brasil

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