A imunização contra a poliomielite acontece nos primeiros meses de vida da criança e um reforço é dado até os cinco anos
Arquivo Agência Brasil
A imunização contra a poliomielite acontece nos primeiros meses de vida da criança e um reforço é dado até os cinco anos

Na última quarta-feira (25), data em que é celebrado o Dia Mundial contra a Pólio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que, neste ano, apenas 12 casos de crianças com poliomielite foram registrados em todo o mundo.

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A informação é um sinal de que a erradicação da doença está próxima, considerando que há quase 30 anos, em 1988, quando a OMS se integrou ao programa mundial para acabar com a poliomielite , as estatísticas apontavam que a cada 15 minutos 10 crianças ficavam paralíticas por conta do vírus transmissor, conhecido como poliovírus.

No entanto, a entidade reforça que a luta para acabar com a doença deve persistir. Essa é uma enfermidade infecciosa, causada por um vírus que provoca a paralisia incurável e compromete até hoje a vida de milhares de pessoas.

Até o momento, três países ainda apresentam casos da enfermidade: a Nigéria, Paquistão e Afeganistão. Apesar de controlada, ainda é importante que esses lugares reforcem os esforços para garantir a vacinação de toda a população.

"Estamos perto do nosso objetivo [de erradicação], mas ainda temos muito o que fazer", diz Mohammed Mohammedi, coordenador do programa de erradicação da polio da OMS , em nota.

“Precisamos ter por foco que nenhuma criança deixe de ser vacinada, não importa o quão difícil seja chegar até a elas", completa Mohammedi, que está há 20 anos no programa da OMS de erradicação da doença.

Em nota, a entidade também afirma que pobreza, conflitos e um sistema de saúde fraco são características que fazem com que as taxas de vacinação no país sejam baixas, o que colabora para que a região fique vulnerável ao vírus, e a uma possível volta do patógeno, como é o caso da Somália.

Pensando em reforçar o esquema de vacinação e prevenção da doença, a OMS dispõe de estratégias para assegurar que todas as crianças sejam vacinadas. As principais são:

  1. Procurar por sintomas da polio - muitas vezes um braço ou perna com flexibilidade fora do normal - para garantir que a criança seja testada para o vírus e políticas de controle sejam colocadas em curso.
  2. Vacinar todas as crianças e não dar chance para que o vírus tenha lugar para se esconder - "só quando todas as crianças estiverem imunizadas, o vírus desaparecerá", diz a entidade.

Brasil

Por meio de campanhas de vacinação em massa com a vacina oral contra a pólio, a estratégia contribuiu para livrar o Brasil do problema em 1989, quando o último caso foi registrado, segundo o Ministério da Saúde. Em 1994, toda a região das Américas foi certificada como livre da circulação do poliovírus.

Mas, mesmo há décadas sem registro, o País tem seguido a orientação e disponibilizado vacinação em postos municipais, assim como efetivado campanha anual de imunização. A última ocorreu em setembro deste ano.

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Pós-poliomielite

Para alguns brasileiros, contudo, a pólio não acabou efetivamente. Eles sofrem com a síndrome pós-pólio, que desde 2010 consta no Catálogo Internacional de Doenças (CID 2010). Trata-se de outra doença, mas associada à primeira porque, de acordo com as explicações mais recorrentes e reconhecidas pelo Ministério da Saúde decorre do desgaste de neurônios motores que, por estarem próximos dos que foram destruídos pelo poliovírus, desenvolveram ramificações que foram usadas intensamente para suprir os comprometidos pela doença. Com o passar do tempo, esses neurônios vão se esgotando, gerando, com isso, degeneração.

A pós-pólio pode acometer quem teve poliomielite aguda na infância, sobretudo aquelas pessoas com histórico de poliomielite paralítica grave. Embora já catalogada, ela ainda é pouco conhecida, o que compromete a qualidade de vida das pessoas afetadas. Thibério Limaverde conta que só tomou conhecimento da nova síndrome após ver uma reportagem sobre o tema na televisão. Há três anos, ele vinha sentindo fraqueza e, mais recentemente, dores. No início, atribuiu os sintomas ao sedentarismo. Depois de saber da pós-pólio, passou a investigar o problema e concluiu que as dores decorriam da fadiga sentida pelos neurônios.

“Antes, não existia preocupação nem mesmo estudos que comprovassem que esses neurônios tinham ocupado espaço dos outros. Pensava-se que o que acontecia é que alguns sobreviviam e outros morriam e que a sequela ficava naqueles que tinham morrido”, relata Thibério, que ao longo da vida conviveu com as sequelas, mas não imaginava que poderia ter mais problemas decorrentes da pólio.

Submetido a exames físicos e levantamento da anamnese, soube mais do que sofreu na infância e de seus impactos. “A pós-pólio é uma doença degenerativa e progressiva, então todo o sistema pode vir a ser afetado, inclusive a parte respiratória, de fala, deglutição”, explica, pontuando que muitos profissionais ainda não têm a vivência da doença e não estão sendo formados para abordá-la, embora existam registros dela na literatura científica desde o século XIX, segundo Thibério.

Saber da doença possibilita a adoção de cuidados adequados. A recomendação que ele tem seguido, agora, não é mais a recorrente ideia de praticar muitos exercícios, mas sim de guardar a energia de cada parte do corpo. “A gente perde a força e sofre fadiga intensa. Como é uma coisa que você não pode sobrecarregar a musculatura, o tratamento, a terapia, é mais de manutenção”, diz Thibério, que tem feito todo o acompanhamento no Sistema Único de Saúde (SUS).

O Ministério da Saúde desenvolveu, em outubro de 2016, guia para ações de reabilitação da pessoa com pós-pólio e co-morbidades. O órgão explica que tem desenvolvido ações tendo em vista a necessidade de cada paciente, como fisioterapia e orientação nutricional, pois não há uma forma geral de tratar todos os casos de pós-pólio. Ainda não há dados sobre a ocorrência no Brasil, mas o documento aponta que 60% dos indivíduos com sequela de poliomielite paralítica e 40% dos casos não paralíticos desenvolvem a síndrome.

*Com informações e reportagens da Agência Brasil

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