A partir da semana que vem, o Sistema Único de Saúde irá incluir os medicamentos das profilaxias pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP) para pessoas que fazem parte do grupo considerado de risco, que inclui homens que fazem sexo com homens, gays, pessoas trans, profissionais do sexo e casais sorodiscordantes.
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O Ministério da Saúde irá distribuir, durante um ano, 3,6 milhões de PrEP de maneira gradativa e gratuita. No entanto, para receber o tratamento de prevenção à Aids , o indivíduo deverá ser submetido a acompanhamento médico, que inclui a realização de alguns exames, entre eles, o teste de HIV. O uso da medicação não é indicado para quem já está infectado.
O governo afirma que esse é um dos mais eficazes métodos para proteger homens que fazem sexo com homens, parcela da população em que a doença mais avança. O número é maior ainda entre os meninos de 15 anos a 19 anos que são gays ou fazem sexo com homens, conforme dados mais recentes do Ministério da Saúde .
De 2006 a 2016, a prevalência da infecção aumentou 140%, entre jovens do sexo masculino, com idades entre 18 e 25 anos. No caso das meninas, a prevalência é menor, mas preocupa o crescimento da taxa entre as mais jovens, na faixa de 15 a 19 anos.
Na última sexta-feira (1º), dia em que é celebrado a Luta contra a Aids no mundo todo, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, explicou que PrEP é um medicamento específico, de uso contínuo e diário e que “em hipótese alguma, podemos esquecer da camisinha”, frisou, em nota divulgada no site da pasta.
Os números de diagnóstico e de tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids melhoraram no Brasil, nos últimos anos, embora a doença esteja avançando entre a população mais jovem. Os dados ainda apontam que 830 mil pessoas convivem com o HIV , sendo que 112 mil não sabem que estão infectadas, portanto, sem tratamento.
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Exclusão
Apesar de ter sido elogiada por muitos especialistas, a iniciativa gera questionamentos e dúvidas em relação à forma de distribuição das pílulas. Isso poderá significar uma mudança na política de combate ao vírus, pois não o acesso será restrito e nem todos que forem ao posto de saúde e solicitar o tratamento pré-exposição conseguirão a medicação.
“Tenho pensado qual a primeira política de HIV e Aids no Brasil que não tenha sido universal, nesses anos todos”, questionou o sociólogo Alexandre Grangeiro, que já foi diretor do Programa Nacional de DST/Aids. “Talvez, a PrEP seja a primeira delas”, disse.
População negra
Para o advogado da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Oséias Cerqueira, com a escolha de grupos específicos, a distribuição da PrEP poderá deixar de fora outros grupos que também necessitam desse tipo de método preventivo, como jovens negros. O percentual de abandono do tratamento, por exemplo, é maior entre jovens negros (11%) que brancos (8%).
Cerqueira acrescentou que o contexto da desigualdade no país e a chamada vulnerabilidade estrutural é determinante para maior ou menor exposição ao HIV. “A Aids também é uma forma de extermínio da população negra no mundo”, frisou. Além disso, ele avalia que os tratamentos não são iguais para toda população.
“Estamos vendo que está morrendo no mundo quem tem acesso ou não a medicamentos”, criticou, em relação aos negros no Brasil e á África Subsaariana, a região mais atingida pela epidemia, no mundo. Para ele, por ter mais recursos e poder na sociedade, a população branca acaba sendo beneficiada. “A saúde é mercadoria [para quem pode pagar]”.
Representante do Ministério da Saúde, Paula Adamy, reconheceu o racismo estruturante na sociedade, que dificulta o acesso a serviços e nas próprias instituições de saúde. “Sabemos que não é a cor que vulnerabiliza, mas o racismo institucional. Isso cria barreiras de acesso, ponto que precisamos trabalhar, de maneira que não inviabilize o cuidado”, afirmou.
*Com informações da Agência Brasil
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