Mosquito do gênero Haemagogus é um dos principais transmissores de febre amarela silvestre no Brasil
Divulgação/Fiocruz
Mosquito do gênero Haemagogus é um dos principais transmissores de febre amarela silvestre no Brasil

Nos últimos dois anos o Brasil enfrentou um grande surto de febre amarela, considerado um dos eventos mais expressivos da história da doença, que abrangeu principalmente os estados da região Sudeste, como Minas Gerais e Espirito Santos. No período entre junho de 2016 a junho de 2017 foram confirmados 779 casos humanos e 262 óbitos. Todos os casos se referem à forma silvestre da doença.

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“Inicialmente, entre 2014 e 2015, a transmissão de febre amarela se deu na região Norte, com posterior expansão no sentido leste e sul do país, onde afetou prioritariamente a região Centro Oeste entre 2015/2016”, relembra o Ministério da Saúde em seu último boletim epidemiológico.

Agora, em 2018, a transmissão foi retomada e os registros estão aumentando nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde, segundo o ministério, já foram intensificadas ações da vacinação e da vigilância.

Porém, apesar de não ser essa a primeira vez que a população brasileira enfrenta a doença, o tema ainda gera muitas dúvidas sobre a atualização da vacina, métodos de prevenção e como a doença é transmitida. Para esclarecer as principais questões sobre a enfermidade, o iG consultou alguns especialistas e instituições e reuniu todas as respostas aqui. Confira a lista abaixo.

A doença

  • O que é febre amarela?

É uma doença infecciosa febril aguda, não contagiosa, provocada por um vírus transmitido por mosquitos vetores, e possui dois ciclos de transmissão: silvestre, quando há transmissão em área rural ou de floresta, e urbano.

  • Como a febre amarela é transmitida?

Segundo a Sociedade Brasileira de Dengue/Arboviroses (SBD-A), a transmissão acontece por meio da picada de insetos, especialmente os mosquitos dos gêneros  Aedes - o mesmo que transmite a Dengue, a Chikungunya e Zika – nos ambientes urbanos, e pelos gêneros Haemagogus  e  Sabethes  que são encontrados no ciclo silvestre.​

  • Qual diferença entre febre amarela silvestre e urbana?

A SBD-A esclarece que o que diferencia as duas formas da doença são o local geográfico e o gênero do mosquito transmissor. No ambiente urbano, o mosquito Aedes aegypti é o responsável pela transmissão da doença ao picar o indivíduo. Já nas regiões de mata, há diversas espécies diferentes de mosquitos responsáveis pela transmissão, sendo os principais os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes . É importante ressaltar que todos os casos registrados desde 1942 no Brasil até o momento foram do tipo silvestre .

  • Macacos podem transmitir febre amarela?

Não. Quem transmite a doença são os mosquitos e os macacos também são alvos dos insetos, assim como os humanos.

A SBD-A orienta que a população não mate esses animais, já que o extermínio de primatas não interfere na continuidade do ciclo de transmissão do vírus.

Além disso, a entidade ressalta que quando esses animais são encontrados mortos pela doença, pode-se considerar a ocorrência como um marco da previsibilidade da proximidade da transmissão para seres humanos.

  • Quais são os sintomas?

Em geral, as pessoas infectadas apresentam febre baixa, dores musculares em todo o corpo, principalmente nas costas, dor de cabeças e nas articulações, náuseas, vômitos e fraqueza. Em média, o tempo de incubação da doença, período que antecede a aparição dos sintomas, oscila entre 3 e 6 dias, podendo chegar até 10 dias.

“Pode haver uma melhora no terceiro dia, mas, em seguida, pode vir a ocorrer piora a partir do quarto dia quando então predominam os fenômenos inflamatórios, sendo o fígado órgão frequentemente acometido nessa fase”, explica a SBD-A.

Segundo o infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo Hermes Higashino, a maioria das pessoas melhora após estes sintomas iniciais. “No entanto, cerca de 15% apresentam um breve período de horas a um dia sem sintomas e, então, desenvolvem uma forma mais grave da doença. Nesses casos, o paciente pode apresentar sintomas como: febre alta, icterícia (a pele e os olhos ficam amarelos), hemorragia (de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina) e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos.

Em qualquer das formas clínicas da doença, o diagnóstico de certeza somente é estabelecido através de exames laboratoriais específicos.

  • Como é possível identifica-la?

Apenas um médico é capaz de identificar a doença corretamente. Segundo a Sociedade Brasileira de Dengue/Arboviroses, o diagnóstico mais exato da doença pode ser feito a partir desses exames:

  1. Métodos virológicos (isolamento do vírus em cultura de tecidos)
  2. Identificação de antígenos virais e do RNA viral
  3. Por intermédio de métodos sorológicos (dosagem de anticorpos específicos pelo método de IgM-ELISA que captura anticorpos IgM em ensaio enzimático ou conversão sorológica em testes de inibição da hemaglutinação).

  • Como é feito o tratamento?

Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento é apenas “sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente”. Ou seja, o tratamento consiste em controlar os sintomas e prevenir complicações. “É recomendado fazer repouso, ingestão abundante de água, boa alimentação e reposição sanguínea, quando indicado. Além disso, após a cura, não há riscos de reinfecção”, explica o infectologista Hermes Higashino.

A pasta afirma que nas formas graves da doença, o paciente deve ser atendido em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para reduzir as complicações e o risco de óbito. Medicamentos como AAS e Aspirina devem ser evitados, já que o uso pode favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas.

  • O que fazer se perceber algum sintoma da doença?

Depois de identificar sintomas em pessoas com histórico de exposição compatível com a febre amarela silvestre, deve-se procurar um médico na unidade de saúde mais próxima e informar sobre qualquer viagem ou atividade de risco em até 15 antes do início dos sintomas. A observação da morte de macacos assim como a picadas de mosquitos nos lugares de exposição devem ser informados ao médico e enfermeiros assim como sobre o histórico do uso (ou não) da vacina contra a febre amarela.

Vacina

Governo decidiu fracionar as doses da vacina contra febre amarela em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia
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Governo decidiu fracionar as doses da vacina contra febre amarela em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia


















  • A vacina é segura?

Sim. Ela estimula a produção de uma reposta imune que constitui a defesa necessária contra a febre amarela com detecção de anticorpos neutralizantes em 90% dos vacinados já no 10º dia e em mais de 99% após 4 semanas da vacinação.

  • Quem deve se vacinar?

O Ministério da Saúde recomenda a vacinação em residentes da  Área com Recomendação de Vacina  e em viajantes que se deslocam para essas áreas, com pelo menos, 10 dias de antecedência em relação à data da viagem.

Receberão a vacina crianças a partir de 9 meses de idade até adultos com 59 anos de idade. Pessoas com 60 anos de idade ou mais só devem receber a dose se residirem ou forem se deslocar para áreas com transmissão ativa de febre amarela.

Pessoas deste grupo etário deverão ser avaliadas antes da realização da vacinação. Gestantes (em qualquer idade gestacional) e mulheres amamentando só devem ser vacinadas se residirem em local próximo ao que ocorreu a confirmação de circulação do vírus (presença da doença em animais, em humanos e presença de vetores na área afetada).

Mulheres que estiverem amamentando, caso tenham que ser vacinadas, recomenda-se suspender o aleitamento materno por 10 dias após a vacinação, nos casos de lactentes menores de 6 meses de idade. A idade mínima para vacinação fica sendo a de 9 meses de idade.

“Enfatizamos que, de acordo com as novas recomendações, as pessoas que já receberam uma dose da vacina anteriormente são consideradas vacinadas, não havendo necessidade de novas doses”, informa a SBD-A.

  • Quem não pode se vacinar?

  1. Pessoas com histórico de reação anafilática - reação alérgica grave e imediata -, relacionada a substâncias presentes na vacina, como ovo de galinha e seus derivados, gelatina bovina, etc.
  2. Bebês com idade abaixo de 6 meses
  3. Pessoas com doenças que comprometam a imunidade, como infecção por HIV sintomática, disfunções do timo associadas com função imune alterada, Imunodeficiências primárias, câncer, pacientes em terapêutica imunodepressora: quimioterapia, radioterapia, corticóide em doses elevadas.

  •  Quais são os locais identificados como área de risco?

No Brasil, a vacinação é recomendada para as pessoas que residem ou que se deslocam para os municípios que compõem a Área Com Recomendação de Vacinação . No entanto, as áreas consideradas de maior risco de exposição são os locais de matas, florestas, rios, cachoeiras, parques e o meio rural que, em geral, abriga vírus, hospedeiros e vetores naturalmente, aumentado o risco de exposição ao ciclo natural da doença.

  • Quais são os efeitos colaterais da vacina?

A SBD-A alerta que é possível perceber que em 4% dos adultos observam-se efeitos como dores no local da aplicação, com duração de um ou dois dias, geralmente de intensidade leve a moderada. Manifestações como febre, dor de cabeça e muscular também são raras, apenas 4% dos vacinados pela primeira vez e menos de 2% para quem toma a segunda dose.

  • Quanto tempo demora para fazer efeito?

O Ministério da Saúde recomenda que a vacina seja administrada pelo menos 10 dias antes do deslocamento para áreas de risco, principalmente, para os indivíduos que são vacinados pela primeira vez.

  • Qual a diferença entre dose fracionada e dose padrão?

O Ministério da Saúde afirmou que a dose fracionada tem mostrado a mesma proteção que a dose padrão. Segundo a pasta, a única diferença está no volume: a dose padrão tem 0,5 Ml, enquanto a dose fracionada tem 0,1 Ml. É isso que faz com que o tempo de duração da proteção seja diferente.

Atualmente, o Ministério da Saúde utiliza a dose padrão da vacina de febre amarela. Porém, em alguns estados serão adotadas as doses fracionadas, que representam 1/5 da dose padrão. Um frasco com 5 doses da vacina de febre amarela, por exemplo, pode vacinar 25 pessoas e um frasco com 10 doses pode vacinar 50 pessoas.

No início de janeiro deste ano o Ministério da Saúde anunciou que entre fevereiro e março 75 municípios de São Paulo, do Rio de Janeiro e da Bahia irão adotar campanhas de vacinação contra a febre amarela com doses fracionadas . A decisão, segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, foi tomada mediante recomendação e autorização da Organização Mundial da Saúde (OMS).

  • Por quanto tempo a vacina fracionada protege? E a dose padrão?

A dose padrão protege por toda a vida, enquanto a dose fracionada protege por pelo menos oito anos, segundo estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos/Fiocruz

  • Quem já tomou a vacina contra a febre amarela deve se vacinar novamente?

Não. Uma dose já é o suficiente para proteger por toda a vida. Mesmo quem tomou uma dose há mais de dez anos e foi orientado a tomar uma dose de reforço depois desse período.

O Ministério da Saúde esclarece que desde abril de 2017, o Brasil adota o esquema vacinal de apenas uma dose durante toda a vida, medida que está de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Apenas crianças de 9 meses a 5 anos de idade que já receberam a dose devem receber o reforço após os 5 anos.

  • Além da vacina, quais outras formas de evitar a febre amarela?

Existem algumas condutas que podem e devem ser adotadas pela população para se proteger, como o uso de repelentes, mosquiteiros e roupas de mangas compridas que são métodos relevantes e eficazes para controlar a proliferação da febre amarela.

Em relação aos repelentes, produtos contendo DEET, Icaridina ou IR3535 oferecem proteção contra picadas de mosquitos incluindo o Aedes aegypti, com eficácia e duração de ação variadas e indicações específicas.

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