O distrito de Marsilac, na Zona Sul de São Paulo, é a localidade da capital paulista com a melhor distribuição de Unidades Básicas de Saúde. O índice, divulgado pelo Mapa da Desigualdade 2019 , em um primeiro momento, engana. Com 3,6 UBSs para cada 10 mil moradores, o dado faz parecer que a região, desprovida de muitos recursos e serviços públicos , é muito bem servida, considerando-se que a média da capital paulista no mesmo quesito é de apenas 0,4 unidades para cada 10 mil habitantes.

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Parelheiros aparece em segundo lugar no Mapa da Desigualdade, com uma unidade de UBS por dez mil habitantes
Ricardo Fonseca/Secom
Parelheiros aparece em segundo lugar no Mapa da Desigualdade, com uma unidade de UBS por dez mil habitantes

Hoje, o ideal, segundo pontua Jorge Kayano, médico sanitarista e pesquisador do Instituto Pólis, que integra o GT Democracia Participativa da Rede Nossa São Paulo, é ter uma UBS para atender 20 mil habitantes. "Então, essa 'conta abstrata' geral é igual a '0,5 UBSs para 10 mil habitantes'. Se estamos hoje com '0,4 UBSs para 10 mil', o déficit hoje estaria em torno de 20% da rede atual", constata.

Atualmente, São Paulo conta com pouco mais de 460 UBSs. Para que a média fosse atingida, esse número deveria ser de pelo menos 575, um déficit de pouco mais de uma centena de postos de saúde. Mas o acesso a esses recursos varia de acordo com o distrito em que se habite.

Em pontos, como Tatuapé, por exemplo, a média é de 0,11 unidades para a mesma quantidade de pessoas. No entanto, abaixo dele, há seis lugares que, segundo a pesquisa, aparecem zerados: Barra Funda, Consolação, Jardim Paulista, Liberdade, República e Vila Mariana. “No geral, dá pra afirmar que a média da cidade é baixa, que certamente comporta e deveria ter um número maior de UBSs. A Rede Nossa São Paulo defende que nós deveríamos buscar acabar com os zeros em todos os indicadores”, diz o médico sanitarista. 

O profissional destaca que, no geral, a maior falta ocorre em distritos periféricos. “É onde existem bolsões com 20 a 30 mil habitantes sem nenhum serviço de atenção básica”, diz. Kayano defende que, uma “boa UBS”, padrão, hoje, é “composta por várias Equipes de Saúde da Família e poderia atender uma área com 20 mil habitantes.”

Benefícios de mais UBSs para a população

Valdete Lourenço é exemplo de que prevenção realizada na UBS funciona e salva vidas
Arquivo pessoal
Valdete Lourenço é exemplo de que prevenção realizada na UBS funciona e salva vidas

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ideal é ter um médico para cada 1.000 habitantes. No entanto, as UBSs possuem características diferentes. “Algumas são exclusivamente formadas por Equipes de Saúde da Família, enquanto outras têm médicos das três 'especialidades básicas' - clínico geral, pediatra e gineco-obstetra - e não têm agentes comunitários de saúde”, diz Kayano.

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Conforme explica o médico sanitarista, uma “UBS da Estratégia de Saúde da Família, por exemplo, deve ter (pelo menos como padrão) entre cinco e sete equipes - ou seja, no caso, cada equipe deveria ter um médico generalista com jornada de 40 horas.”

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Abaixo do número ideal, fato é que ter mais UBSs ajudaria a população a ter um diagnóstico precoce e a tratar doenças. “Este é o papel da atenção básica. Lembrar também a importante contribuição na prevenção de doenças, como exemplo a imunização, ação de vigilância sanitária e epidemiológica, além de ações de promoção da saúde”, pontua o Kayano.

Exemplo disso é Valdete Lourenço da Silva Rodrigues, de 51 anos, que passou a buscar atendimento gratuito após perder o plano de saúde e faz todo o tratamento na UBS Carlos Muniz, no Jardim Ponte Rasa. Há três anos, uma médica da unidade pediu exames de rotina e logo descobriu excesso de gordura no fígado.

Desde o diagnóstico, Valdete faz caminhadas e toma remédio para tratar a condição. “Tenho um exame marcado para dezembro para verificar em qual situação está”, pontua. Além disso, ela também acompanha a hipertensão, doença que descobriu em 2015 após sentir um mal estar por conta da pressão alta.

“Fui até uma farmácia e medi a pressão. Depois, fui na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) e, em seguida, encaminhada para fazer tratamento na UBS. Gosto do atendimento e os médicos são bem atenciosos”, diz ela. 

O panorama da prefeitura

Em junho deste ano, o prefeito Bruno Covas assinou a contratação de financiamento de US$ 100 milhões com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para projeto de reestruturação e qualificação das redes assistenciais de saúde da cidade de São Paulo, denominado “Avança Saúde”.

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No total, o investimento será de US$ 200 milhões (cerca de R$ 800 milhões), sendo que metade do valor será como contrapartida da Prefeitura. O programa será implantado em cinco anos e inclui diversas ações, como construções, reformas e aquisições de equipamentos para Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), UBSs e um novo hospital na zona norte. 

Procurada para tratar sobre o suposto déficit de unidades básicas de saúde, a prefeitura de São Paulo não retornou os pedidos até o fechamento desta reportagem.

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