Cepa AY.33 não causou nova onda de infecções no Reino Unido nem em outros lugares, mas requer mais estudos para medir sua transmissibilidade, afirma especialista
Matheus Magenta - Da BBC News Brasil em Londres
Cepa AY.33 não causou nova onda de infecções no Reino Unido nem em outros lugares, mas requer mais estudos para medir sua transmissibilidade, afirma especialista

Uma mutação da variante Delta do coronavírus conhecida como AY.33 foi identificada em Belém, no Pará, informou a Secretaria de Saúde do município (Sesma). A cepa está presente em mais de 20 países, mas ainda faltam estudos sobre seu grau de transmissibilidade, afirma especialista.

A AY.33 foi detectada após o sequenciamento de 116 amostras do vírus SARS-Cov-2 obtidas de pacientes de Belém do Pará pelo Departamento de Vigilância à Saúde, em parceria com o laboratório de Genética Humana e Médica do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará.

A origem do caso confirmado de AY.33 na capital paraense não foi divulgada pela Secretaria. Estudos recentes mostram que a variante surgiu, provavelmente, na Bélgica ou no Norte da África, de onde teria se espalhado para mais de 25 países. Ainda não se sabe, porém, o grau de transmissibilidade da cepa.

"Mutações aparecem o tempo todo, mas para entender se são preocupantes, a gente precisa considerar algumas coisas em comparação com a Delta: se são mais transmissíveis, se causam doenças mais graves, se escapam das vacinas ou das defesas do organismo, e se não reagem a tratamento com anticorpos monoclonais [medicamentos produzidos em laboratórios que mimetizam a ação dos anticorpos produzidos pelo corpo humano]", explica Salmo Raskin, presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria. "A maioria das variantes não faz nenhuma dessas coisas."

Release publicado pela Agência Belém de notícias afirma que a subvariante "pode não ser detectada por testes rápidos e pelos protocolos padrões de RT-qPCR". No entanto, Raskin disse ao GLOBO que os possíveis problemas não prejudicam o diagnóstico.

Segundo Raskin, estudos recentes mostram que a AY.33 apresenta mutações fora da proteína spike, o que poderia causar “equívocos” no resultado de testes de sequenciamento do coronavírus, feitos exclusivamente para finalidade de pesquisa, mas não compromete a detecção da doença.

"Não é que [os testes que nós temos] não vão detectar essa nova variante", disse ele. "O que pode acontecer é ele não identificar a variante corretamente."

O geneticista explica que os reagentes dos testes produzidos em todo o mundo são desenvolvidos para grudar numa região do material genético do coronavírus que é justamente onde ocorrem as mutações, mas que isso não gera diagnóstico “falso negativo” de coronavírus, a partir de um exame do tipo PCR, por exemplo.

O especialista defende que a AY.33 seja monitorada em Belém, mas não vê grande risco para o país, já que a variante não causou novas ondas de contaminação nos países em que está presente. Mesmo no Reino Unido, onde os casos voltaram a subir este mês, após um pico em julho, os casos estão relacionados à subvariante AY.4.2, também conhecida como Delta plus , que já responde por 10% dos novos casos na Inglaterra.

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