Cientistas de Hong Kong revelam imagem de microscópio da variante Ômicron
Reprodução/ Universidade de Hong Kong
Cientistas de Hong Kong revelam imagem de microscópio da variante Ômicron

Uma pesquisa conduzida por um grupo de pesquisadores brasileiros, publicada na revista especializada 'Viruses', apontou a alta probabilidade do surgimento de novas - e mais perigosas - variantes da covid-19  no país.

Os cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Sírio-Libanês revisaram mais de 150 artigos analisando todos os aspectos do vírus, considerando a imunidade da população e a eficácia da vacinação.

Em entrevista exclusiva ao iG, Cristiane Guzzo, professora do ICB-USP e principal autora do artigo, afirmou que há uma falsa sensação de segurança no país desde que as medidas de prevenção foram relaxadas.

"Nesse momento, o número de casos e óbitos decaiu. Os valores são inferiores ao pico da pandemia, então isso dá uma sensação de que a tendência agora é que a pandemia acabe. Não temos tantos óbitos ou casos de infecção como no pico da pandemia - é claro que o ideal seria que não tivessemos nenhum caso. Mas isso dá uma sensação de conforto", analisa.

A principal conclusão do trabalho, no entanto, é que "não devemos deixar o vírus circular", pois segundo os especialistas, "não sabemos como serão as variantes nos próximos meses", afirma.

Na esteira desse resultado, Cristiane considera que a liberação do uso de máscaras e o fim da emergência de saúde pública em todo o país prejudicam o combate aos novos casos.

"Tirar a máscara dá a sensação para a população de que a pandemia acabou, de que tudo está sob controle, e não está. Só temos um cenário de baixo número de infectados. Mas com o histórico do coronavírus, sabemos que ele se adapta ao ser humano, que tem essa característica de se modificar, então isso [novas variantes] é esperado", diz.

"Relaxar as linhas de segurança passa uma sensação de que não existe uma preocupação. Cria uma sensação de que é uma gripezinha, e aí que mora o perigo. No meu ponto de vista [o 'rebaixamento'] é sim um erro. Acelera o surgimento de uma nova variante de preocupação, sem levar em consideração o pós-covid, ainda não sabemos quais serão os problemas, se serão para a vida toda ou se serão tratáveis", completa.

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Outro fator que preocupa os pesquisadores é a transmissibilidade, iniciada cada vez mais cedo entre os que são infectados.

Segundo Cristiane, 74% dos casos de transmissões da delta foram feitas por pacientes assintomáticos. Se na cepa original o paciente passava a transmitir um dia antes dos sintomas, no caso da Delta, isso passou a acontecer dois dias antes.

"Isso é extremamente perigoso, é bom para o vírus, porque assim ele consegue continuar evoluindo, se camuflando e se mantendo na sociedade."

Para além da vacina, os pesquisadores recomendam a manutenção das medidas sanitárias, como uso de máscaras, higiene das mãos, além da etiqueta da tosse, para evitar a contaminação.

A pesquisadora afirma que falta um esforço coordenado entre países para que novas ondas não aconteçam.

"Cada país em um momento toma medidas diferentes. Isso dificulta o controle da pandemia. Imagina que, logo que soubéssemos que a China estava enfrentando esse problema, já tivéssemos feito bloqueios. Falta uma coordenação internacional. A pandemia veio para nos mostrar que o único caminho que a gente tem é pensar em unidade, e não como um fragmento de país, tratando isso de forma independente. As atitudes deveriam ser universais", finaliza.

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** Filha da periferia que nasceu para contar histórias. Denise Bonfim é jornalista e apaixonada por futebol. No iG, escreve sobre saúde, política e cotidiano.

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