Um simples exame de sangue poderá indicar o desenvolvimento de um quadro de diabetes antes mesmo de os sintomas aparecerem. A descoberta é de pesquisadores da Universidade de Genebra (UNIGE), na Suíça, que identificaram uma molécula cujos níveis reduzidos sinalizaram um problema nas células responsáveis pela produção da insulina. Os achados foram publicados na revista científica Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.
Segundo a última edição da Pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, são cerca de 15 milhões de adultos – 9,14% da população com mais de 18 anos – vivendo com diabetes no Brasil. A doença é caracterizada pelo aumento do açúcar no sangue devido ao mau funcionamento da insulina, hormônio responsável por retirar a glicose da corrente sanguínea.
O tipo mais comum, associado a 90% dos casos, é o 2. Ele é provocado por hábitos de vida considerados ruins para a saúde, como sedentarismo e má alimentação, que levam o organismo a se tornar resistente à insulina.
Essa má absorção faz com que as células responsáveis pela secreção do hormônio, chamadas de beta, se esforcem para produzir ainda mais quantidade, mas eventualmente acabem sendo sobrecarregadas e morrendo.
Porém, há um estágio anterior ao diagnóstico chamado de pré-diabetes, quando o corpo começa a apresentar concentrações elevadas de glicose no sangue e perda de células beta, mas ainda não de forma tão drástica como na diabetes. Quando detectado de forma precoce, é possível reverter esse estágio e evitar o desenvolvimento da doença.
“Mas identificar a transição do pré-diabetes para o diabetes é complexo (...) Por isso, optamos por uma estratégia alternativa: encontrar uma molécula cujos níveis no sangue estariam associados à massa funcional dessas células beta para detectar indiretamente sua alteração na fase pré-diabetes, antes do aparecimento de qualquer sintomas", explica o professor do Departamento de Fisiologia e Metabolismo Celular e do Centro de Diabetes da Faculdade de Medicina da UNIGE, que liderou o trabalho, Pierre Maechler, em comunicado.
Com isso, os pesquisadores utilizaram técnicas de análise molecular com tecnologias de inteligência artificial para encontrar a molécula específica que seja ligada à pré-diabetes. A equipe conseguiu identificar, entre milhares de moléculas, uma que foi ligada à perda de células beta durante a fase pré-diabética, o 1,5-anidroglucitol. Trata-se de um pequeno açúcar, cuja diminuição no sangue em comparação a pessoas não diabéticas foi associada ao problema.
"Conseguimos observar uma diminuição desse açúcar em diabéticos, o que foi muito motivador, principalmente porque esse declínio era observável independentemente de seus sintomas, mesmo antes do início do quadro de diabetes", afirma Cecilia Jiménez-Sánchez, pós-doutoranda do Departamento de Célula Fisiologia e Metabolismo da universidade e primeira autora do estudo.
Agora, os cientistas afirmam que a descoberta abre novos caminhos para o diagnóstico precoce e a prevenção da diabetes, especialmente em pessoas com fatores de risco para a doença. Eles destacam ainda os benefícios de ser um simples exame de sangue, não envolvendo custos adicionais.
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