O começo do ano é, para muitos, um momento de reflexão e planejamento. É a hora de olhar para o passado e estabelecer metas a serem cumpridas nos meses seguintes. O movimento Janeiro Branco foi criado a partir desse rito, definindo o primeiro mês do ano como um “portal entre ciclos que se fecham e ciclos que se abrem nas vidas de todos nós”.
Na sua décima edição, o tema da campanha de 2023 é “ A Vida Pede Equilíbrio ”, com o objetivo de incentivar o cuidado da saúde mental frente as demandas de diferentes áreas da vida. Apesar do nome, o movimento é ativo o ano todo.
Para Leonardo Abrahão, psicólogo e presidente do Instituto Janeiro Branco, um dos principais caminhos para se atingir o equilíbrio emocional é o autoconhecimento . “Pense, você no trânsito, ou numa igreja, numa escola, no trabalho: o que te tira do sério? O que faz com que você passe a agir de forma desequilibrada, insensata, às vezes agressiva, ou às vezes até patologicamente passiva, não reagindo ao que deveria reagir?”, pergunta.
A psicóloga e vice-presidente da organização, Valéria Ribeiro, completa: “Cedo ou tarde, sem equilíbrio, as coisas desandam. Se a minha relação com o trabalho estiver desequilibrada, se eu estiver dando mais atenção para um lado que para o outro, alguma coisa vai acontecer de ruim.”
Equilíbrio emocional pós-pandemia
A Organização Mundial da Saúde divulgou, em março de 2022, que os índices de depressão e ansiedade ao redor do mundo aumentaram mais de 25% apenas em 2020, o primeiro ano de isolamento.
Leonardo Abrahão também pontua que a campanha em prol do equilíbrio vai de encontro com as discussões sobre o bem-estar psicológico despertadas pela pandemia. “2020 e 2021 acrescentaram novos desafios às antigas demandas da saúde mental, mas, também, destacaram, sobremaneira, a sua importância para a humanidade”, diz.
O médico psiquiatra Rodrigo Silveira aponta que um dos pilares para o equilíbrio é o convívio social, que foi diretamente impactado pela pandemia. "Ficou tão evidente o quanto a gente se conectar com as pessoas, o quanto a boa relação com as pessoas é o que ajuda a sustentar o nosso equilíbrio mental, a nossa felicidade",
diz.
Mas, se durante a pandemia a sociedade sofreu para se adaptar a uma vivência mais restrita, com as vacinas e o retorno das atividades normais, houve também a dificuldade para sair desse contexto, retomar a socialização e estabelecer novas rotinas. É o que aponta um estudo desenvolvido por pesquisadores do Women’s Health Research, na Universidade de Yale: a ocorrência de sintomas de estresse pós-traumático e fobia social relacionados a pandemia de COVID-19 atinge, em média, 25,8% da população.
Rodrigo Silveira entende que a digitalização do mundo se fortaleceu durante a pandemia e desgastou as habilidades de socialização e tolerência. "A gente precisa, nesse tempo de pós-pandemia, manter o resgate da qualidade das relações humanas. Precisamos, cada vez mais, desenvolver nossa capacidade de escuta, nossa capacidade de realmente entender o outro, de se colocar no lugar do outro, de ter paciência de escutar e absorver o que o outro tem a dizer sem muita pressa, sem tirar muitas conclusões", afirma.
Nesse sentido, Abrahão diz que uma nova definição para o conceito de equilíbrio. “Hoje, significa o resgate da sensatez e da lucidez em relação a todos os aspectos das nossas vidas: o resgate do afeto, do diálogo, das soluções políticas, da honestidade intelectual, do respeito às ciências, aos direitos humanos, da dignidade pessoal e da justiça social”, explica.
Afinal, como cultivar o equilíbrio emocional?
O psiquiatra Rodrigo Silveira afirma que é importante obsevar os excessos no âmbito físico e mental, que impedem o cultivo de uma vida equilibrada.
"Nos tempos que a gente vive, em que muitas vezes somos empurrados para o sedentarismo, para uma alimentação muito industrializada, a gente precisa ter atenção para resgatar o que traz equilíbrio para o nosso corpo", diz. "E quando pensamos na nossa mente, a quantidade muito grande de tempo que a gente fica na internet, a quantidade muito grande de informações que a gente consome e nos dificulta de manter o equilíbrio da nossa mente", conclui.
Para ele, a prática de atvidade física é o primeiro item da lista para uma vida mais equilibrada. "O primeiro passo, não há dúvida, é a atividade física. Se conectar com o próprio corpo, observar a própria respiração, ter um esporte para chamar de seu", diz.
Ele aconselha a escolha por uma atividade física que também auxilie no cultivo do equilíbrio emocional. "Uma atividade física que, preferencialmente, nos ajude a conectar com outras pessoas, reconhecer e entender como a gente age a partir das próprias emoções", diz.
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