Carolina é mãe de um menino de quatro anos e de uma bebê que nasceu ainda em março%2C no início da pandemia
Foto: Reprodução/Instagram
Carolina é mãe de um menino de quatro anos e de uma bebê que nasceu ainda em março, no início da pandemia

Na madrugada da última sexta-feira, dia 27, a médica Carolina Lucas, de 32 anos, se aproximava do fim de um plantão de 24 horas em uma emergência particular de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Os atendimentos naquele dia escancaravam o cenário que especialistas vêm alertando: o aumento no número de casos de Covid-19 no estado. A exaustão após o trabalho particamente sem pausa levou a médica a escrever e publicar um desabafo que viralizou nas redes sociais.

— Há pelo menos três semanas a gente já vinha percebendo um aumento no número de pacientes com Covid-19 chegando na Unimed de São Gonçalo. Naquela sexta-feira, foi o cúmulo. Quando cheguei para trabalhar já havia três pacientes esperando transferência para internação. Ao longo o dia essa fila foi aumentando, com a chegada de 10, 20 pacientes buscando atendimento e alguns muito graves. Éramos quatro médicos revezando, sem conseguir parar no almoço, engolindo a comida para voltar ao trabalho. Eu só consegui fazer uma pausa às 3h, quando deitei um pouco para descansar e todos os pacientes foram transferidos. Foi quando escrevi o desabafo — conta a médica.

Carolina é mãe de um menino de quatro anos e de uma bebê que nasceu em março, no início da pandemia. A médica voltou ao trabalho em agosto e foi infectada pelo novo coronavírus em outubro.

— Em março, quando começaram as restrições, eu fiquei em casa assustada acompanhando as notícias e o trabalho dos colegas de longe. Sempre me questionei como estaria a situação quando voltasse. Eu tinha esperança de que as pessoas já estivessem mais conscientes do que estamos enfrentando, mas não foi o que aconteceu. Em agosto tudo parecia mais controlado, mas em meados de outubro, quando fiquei infectada, percebi que a situação foi piorando novamente — diz.

Formada há oito anos, a médica especialista em neurologia mora em Niterói e trabalha no CTI de outros três hospitais: o Hospital Oceânico, em Niterói, o Hospital Federal de Ipanema, na Zona Sul do Rio, e o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na Zona Norte.

Carolina conta que a atuação em diferentes unidades de saúde a ajuda a ter um panorama da doença no estado, e reforça a piora no cenário de pandemia.

— Vejo as dificuldades de quem pode arcar com um plano de saúde e os desafios ainda maiores de quem não pode. O cenário é ruim em todos os lados. É muito frustrante ver que as pessoas não estão se cuidado. Chego no trabalho já agoniada vendo pessoas nas ruas sem máscara, sem manter distanciamento nenhum — lamenta.

Carolina espera que a repercussão do desabafo contribua de alguma maneira para conscientizar a população sobre os perigos da Covid-19, e a importância de continuar seguindo medidas para diminuir a transmissão da doença.

— Para quem precisa trabalhar, não tem jeito, é seguir ao máximo regras de distanciamento, usar máscara, lavar as mãos com frequência. O problema mesmo são as pessoas indo para festas, saindo e se aglomerando para situações que não são essenciais. Queria que as pessoas não perdessem o medo da doença. A pandemia não acabou. É necessário equilíbrio e seguir as regras para evitar o pior — ressalta.

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