Primeiro trago: fumar um cigarro já é o suficiente para prejudicar a saúde

Mesmo quem fuma uma vez por dia ou fumou pela primeira vez já consegue sentir os efeitos malignos que o cigarro pode causar ao organismo; veja

Cigarro é capaz de provocar danos às vias respiratórias no primeiro trago; ao longo do tempo os pulmões são prejudicados
Foto: shutterstock/Reprodução
Cigarro é capaz de provocar danos às vias respiratórias no primeiro trago; ao longo do tempo os pulmões são prejudicados

Apenas um trago. Essa é a quantidade suficiente de interação com o cigarro para que sua saúde já comece a sentir os malefícios da nicotina. Diferente do que muitas pessoas acreditam, o primeiro contato com a droga é capaz de provocar sintomas imediatos que ajudam a indução ao vício .

O hábito, que está relacionado a diversas doenças, como câncer, hipertensão e derrame cerebral, faz parte da rotina de um em cada dez adultos brasileiros. Apesar dos efeitos a longo prazo, o primeiro cigarro da vida de alguém também já pode provocar dificuldades para respirar, ansiedade e sentimento de nariz entupido.

Por ter como base a nicotina, uma das drogas que mais causa dependência física, não é preciso muita prática para que o consumo do cigarro passe a ser periódico – e os estragos fiquem cada vez mais intensos. Entenda como o corpo reage ao primeiro contato com o cigarro.

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Respiração diferente

Fumar é basicamente a simulação de asma para aqueles que não herdaram a condição. Os sintomas primários da doença são os broncoespasmos, que ocorrem quando os músculos que alinham as vias aéreas de repente se apertam. Isso pode levar à falta de ar e a ataques de sibilos (chiados no peito), deixando fumantes e asmáticos ofegantes.

No caso dos narcóticos, à medida que o fumo viaja mais profundamente pelos pulmões, os estragos instantâneos não param de acontecer. A fumaça, ao ter o primeiro contato com toda a via aérea, queima a região, provocando uma reação inflamatória por conta de sua temperatura.

Com o tempo, a combustão proveniente dessa agressão térmica produz partículas de oxigênio, conhecidas como radicais livres, que podem oxidar as estruturas celulares e até mesmo destruir os pulmões .

Com isso, a produção de muco nos pulmões - que atua para capturar qualquer coisa que não pertença a ele, incluindo fumaça e outras toxinas – aumenta. O excesso desse fluido espesso pode tornar a respiração ainda mais difícil ao revestir e bloquear as pequenas vias aéreas dentro dos pulmões.

Normalmente, pequenos pelos em movimento dentro dos pulmões, chamados de cílios, limpam esse muco, mas o fumo paralisa esses filtros naturais quase que instantaneamente e para o resto do dia. É só de noite, enquanto o indivíduo dorme, que eles começam a se recuperar, voltando à vida e coletando muco.

É por isso que muitos fumantes de longa data ​​podem ter uma tosse profunda e úmida pelas manhãs, já que seus organismos tentaram limpar o muco e as toxinas durante a noite.

Coração trabalha com dificuldade

Assim que você traga, a fumaça começa a interferir com a forma como a gordura se acumula e fica dividida em seu corpo. Ao mesmo tempo, seu coração pode começar a bater mais forte e ter que trabalhar mais.

O colesterol ruim causa mais prejuízos aos corpos de fumantes, que também têm níveis mais baixos de colesterol bom. Isso porque a nicotina prejudica a capacidade do corpo para quebrar lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) de forma adequada, então essas gorduras "ruins" derivam mais livremente na corrente sanguínea, onde podem juntar-se e causar a formação de placas nos vasos.

Estas placas se formam ao longo do tempo, congestionando o fluxo de sangue, mas os níveis de LDL começam a aumentar imediatamente quando você fuma.

Simultaneamente, o tabagismo também reduz os níveis de enzimas e proteínas que produzem boas lipoproteínas de alta densidade (HDL) inacessíveis ao corpo. O HDL ajuda a eliminar o colesterol ruim do sistema, de modo que níveis mais baixos aumentam o risco de acumulação prejudicial.

A nicotina também é um estimulante, aumentando instantaneamente a frequência cardíaca de qualquer pessoa que fuma, mastiga ou a obtém de qualquer outra forma em seu organismo. É importante destacar que um coração que bate mais rápido também pode se cansar mais rapidamente ao longo do tempo, e está ligado a um maior risco de morte súbita, mesmo em jovens.

Acidez prejudica o estômago

Foto: Getty Images
Sensação de queimação no estômago também pode ser provocada ou acentuada pelo consumo do cigarro

Fumar pode induzir o refluxo ácido quase que instantaneamente. A nicotina reduz o revestimento protetor do estômago enquanto aumenta a quantidade de ácido que o órgão produz.

O estômago precisa desses ácidos para quebrar alimentos em energia utilizável, mas é revestido com um revestimento base que é mais alcalino, que ajuda a neutralizar o ácido necessário.

No caso dos fumantes, seus estômagos ainda produzem essa base, mas a nicotina e a fumaça tornam-na menos alcalinas, reduzindo seus efeitos neutralizantes e levando ao refluxo ácido.

Isso faz com que esse ácido também se espalhe no esôfago, porque, quando você fuma, os músculos que controlam a abertura entre ele e o estômago também não funcionam, deixando a irritação passar até o órgão sem impedimentos.

Enquanto seu estômago está ocupado produzindo ácido, a capacidade de absorver micronutrientes como vitaminas C e E e ácido fólico fica menor. A escassez destes nutrientes pode rapidamente fazer com que a pessoa se senta fraca e deprimida.

Nariz inflamado

Os seios da face são revestidos com o mesmo tipo de pelos minúsculos que mantêm os pulmões livres de muco. A fumaça os afeta exatamente da mesma maneira. Assim que ela chegar ao nariz, os pelos se congelam, permitindo que o muco se construa nos seios, tornando o organismo vulnerável à infecção e à inflamação.

Além disso, é possível a pessoa passe a sentir dificuldade para respirar, fique com a sensação de nariz entupido e passe a fungar durante algumas horas.

Ansiedade

Muitos fumantes afirmam que fumar os acalma e relaxa. Mas pesquisas mostram que o hábito provoca exatamente o oposto para o cérebro logo quando o cigarro acaba.

A nicotina atinge o cérebro muito rapidamente e, momentaneamente acalma áreas que controlam as emoções, causando sensação de direção e habilidades para planejar. Mas essa sensação só dura alguns segundos.

Quando acaba, o cérebro fica com uma sensação de perda, que o faz sentir ansiedade. Conforme o indivíduo fuma, os receptores do cérebro de dopamina - neuroquímico responsável pela sensação de saciedade e recompensa por fazendo coisas que são boas para a sobrevivência, como comer e beber – acabam sendo destruídos.

Isso significa que, mesmo quando comportamentos que deveriam fazer a pessoa sentir bem são realizados, o cérebro de um fumante não consegue processar completar a reação química que dá o sentimento de felicidade, tornando as atividades que costumavam causar esse sentimento cada vez menos prazerosas.

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