Hábito comum dos brasileiros, automedicação pode ter consequências graves

Tomar remédios por conta própria sem consultar um médico traz riscos à saúde e afeta negativamente o sistema imunológico; entenda os perigos

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Automedicação pode ter conquências graves para a saúde

Um levantamendo divulgado pelo Minsitério da Saúde neste ano informou que mais de 60 mil pessoas foram internadas em hospitais públicos brasileiros por conta da automedicação entre 2010 e 2015. A prática, que é extremamente comum entre os brasileiros, é a principal causa de intoxicação em seres humanos no País desde 1994. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 16% dos casos de morte por intoxicação no Brasil são causados por medicamentos.

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Alergia a substâncias que fazem parte da composição de um determinado remédio, interação medicamentosa, mascaramento de sintomas de doenças graves, aumento da resistência de microorganismos, enfraquecimento do sistema imunológico e colapso em diferentes órgãos do organismo são os mais perigosos efeitos colaterais da automedicação .

O caso das alergias é um dos mais perigosos, uma vez que não existem muitos testes para descobrir alergias medicamentosas. Por isso, a recomendação é que remédios para crianças sempre sejam administrados apenas após a consulta com um profissional.

A interação medicamentosa, por sua vez, é quando duas ou mais drogas, utilizadoa em um curto espaço de tempo, causam uma reação inesperada no organismo.

Quando se toma muitos antibióticos , as bactérias começam a se tornar cada vez mais resistentes ao tratamento. Por conta disso, existem as chamadas superbactérias. O sistema imunológico funciona de maneira semelhante. Quando se toma medicamentos demais a defesa natural do organismo cai.

O colapso nos órgãos pode acontecer pela alta quantidade de remédios, pela interação medicamentosa, ou pelo paciente tomar um medicamento errado. Os rins e o fígado são os órgãos mais afetados pelas drogas, mas os sistemas cardiovascular e nervoso também podem ser afetados.

O problema não é novo e, em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como umas das principais metas para a década seguinte promover a o uso racional de remédios. No entanto, os números da indústria farmacêutica continuaram crescendo nos anos subsequentes.

Para a pediatra Cristina Fares, da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Santana do Parnaíba, são vários fatores que contribuem para o cenário: "O primeiro é o falta de informação. As pessoas compram remédios por orientaçao de parentes, amigos e até mesmo de balconistas de farmácia sem saber para o que serve o medicamento", explica a médica.

"A indicação é, quandos os sintomas são muito fortes, tomar um remédio contra a dor ou um antitérmico, em caso de febre, que já tenha sido prescrito anteriormente por um médico, observar os sintomas e, caso não apresente melhora, procurar uma unidade de saúde", diz. Ela também recomenda que, mesmo no caso de medicamentos como analgésicos, é preciso ter moderação e não utilizar para qualquer tipo dor. "É preciso ter bom senso."

A profissional alerta, no entanto, que muitas vezes os próprios médicos podem ser responsáveis pelo alta quantidade de remédios utilizados. "As vezes os pacientes são mal orientados. No caso de crianças, muitos pais querem sair do atendimento com a prescrição de um medicamento, senão reclamam do profissional. Por conta disso, muitos médicos jovens se senterm pressionados e prescrevem remédios quando não é necessário", analisa.

Dados da OMS corroboram com a opinião. De acordo com a organização, mais de 50% de todos os medicamentos receitados em todo o mundo são dispensáveis ou vendidos de forma inadequada.

O analista de sistemas Jean Cruz levou um susto por conta da automedicação. Sentindo dores de cabeça, ele tomou um analgésico fornececido por uma colega de trabalho e teve uma severa reação alérgica. "Comecei a me sentir mal, fiquei sem ar e me levaram para o hospital. Lá, os médicos me diagnosticaram com alergia medicamentosa", relembra. De acordo com os profissionais que o atenderam, a reação poderia ter causado sequelas graves por conta da falta de oxigenação no cérebro.

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De acordo com o jovem, ele nem sequer sabia que a droga pudesse ter um efeito colateral tão forte. "Sempre pensei que esses remédios vendidos sem receitas não causavam problemas graves. Agora, sempre procuro me informar antes de ir à farmácia e não tomo medicamentos que eu não conheço", conta.

A internet também tem um papel importante nas decisões dos pacientes. A facilidade de obter informações pode se tornar uma armadilha quando sites com dados falsos são acessados ou quando bulas e outros textos técnicos são interpretados incorretamente por pessoas sem treinamento médico.

"Muitas pessoas buscam apenas pelos sintomas que estão sentindo e não leem sobre as doenças com atenção. Muitas crianças com gases ou gastrite são levadas para o pronto socorro com suspeita de apenticite por conta da dor abdominal", relata a Dra. Fares. "Com os remédios é a mesma coisa. As pessoas procuram pelo sintoma e tomam ser ler a bula completa", diz.

Para ela, o problema também esbarra na cultura brasileira. "É tudo muito banalizado, falta bom senso para as pessoas não tomarem remédios para qualquer dor e nem levarem crianças pequenas para o hospital, onde elas podem pegar doenças graves, por qualquer motivo", opina. "Isso não tem classe social, é um fenômeno nosso", completa.

Ainda segundo a pediatra, esse tipo de pensamento, somado a saúde pública "sucateada" no País faz com que os pacientes não tenham confiança nos médicos: "O paciente brasileiro não está preparado para ouvir e acatar a posição de um profissional de saúde. Ele está interessado apenas na resolução do seu problema, que é o sintoma, e isso causa a automedicação ", finaliza.