Produção para campanha antecipada da vacina contra gripe está em fase final

Após confirmação do coronavírus no Brasil, Instituto Butantan acelera esforços para entregar antes do previsto os lotes de vacina contra a gripe

A vacina influenza trivalente, que abastece a campanha nacional contra a gripe, está em fase final de produção, diz o Instituto Butantan. Referência na produção nacional de soros e vacinas, a instituição pública acelera os esforços depois que o Ministério da Saúde decidiu antecipar a vacinação como forma de ajudar a debelar o coronavírus .

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Após confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, a campanha nacional da vacina contra gripe foi antecipada em 23 dias

Embora a vacina contra a gripe não seja diretamente efetiva contra o novo coronavírus, a imunização ampliada, dizem autoridades da saúde, pode auxiliar na redução da capacidade de infecção nos próximos meses. E, ainda, evitar sobrecarga no sistema de saúde com testagens e diagnósticos.

A vacina influenza trivalente protege contra três cepas do vírus influenza: H1N1, H3N2 e B. Age, principalmente, para evitar complicações da influenza, como a síndrome respiratória aguda grave, que pode levar à internação e à morte. Agora, pode também ajudar a reduzir complicações em um cenário de coinfecção com o coronavírus.

O Instituto Butantan afirma que está sendo feito "um esforço para acelerar a produção". A fábrica fica junto à Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo, e passou desde o ano passado por obras de ampliação e adequação às exigências da Organização Mundial da Saúde (OMS), também de olho na produção para o mercado internacional — essa parte, ainda sem previsão.

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Segundo a instituição, a produção da vacina contra a gripe está quase concluída e será entregue por lotes. A nova data para campanha é o dia 23 de março, 23 dias antes do previsto.

Pelo cronograma inicial, a campanha começaria em meados de abril. Com a entrega por lotes, o Instituto Butantan teria até o dia 30 de maio para concluir todo o fornecimento das 75 milhões de doses já previstas para 2020 ao Ministério da Saúde. Com a mudança, corre contra o relógio para disponibilizar os primeiros lotes em março.

"O Instituto Butantan tem trabalhado para atender ao pedido", afirma a instituição, em nota. Em 2019, foram produzidas e entregues ao governo federal 65 milhões de doses da vacina influenza trivalente. A produção deste ano, 75 milhões, é um recorde. "A política de logística e de distribuição da vacina aos estados cabe ao Ministério", acrescentou o instituto.

A antecipação da campanha nacional de vacinação contra a gripe foi anunciada nesta quinta-feira pelo Ministério da Saúde. Na ocasião, o titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta, explicou que ela pode ajudar a diminuir o avanço da nova doença no país.

“A vacina deixa o sistema imunológico de 80% dos que tomam a vacina protegido contra as cepas virais que estão circulando e são milhares de vezes mais comuns que o coronavírus. É um instrumento importante porque diminui a espiral de epidemia de outros vírus que podem ocorrer e confundir a população”, afirmou Mandetta.

Especialistas explicam que a infecção por influenza predispõe as pessoas a terem outros eventos, como pneumonia causada por bactérias. Daí que a vacina da gripe seja especialmente importante neste ano. A esperança é que a imunização ajude indiretamente a prevenir a coinfecção com outro vírus respiratórios, como o coronavírus.

primeiro caso confirmado no Brasil foi de um empresário de 61 anos que esteve no Norte da Itália no começo deste mês.

Tetravalente e pneumonia

O Instituto Butantan também se prepara para desenvolver uma vacina tetravalente contra a gripe, que ofereceria proteção contra mais uma cepa da influenza. A ideia é que seja ofertada no SUS - hoje, a vacina contra pneumonia existe apenas na rede privada. Os ensaios clínicos em humanos devem começar em abril. E a vacina deve passar por aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes da produção.

Além disso, o Butantan trabalha no desenvolvimento de uma vacina contra a pneumonia, em parceria com pesquisadores do Boston Children’s Hospital, da Universidade Harvard (Estados Unidos). A ideia é que ela seja de maior alcance e mais barata.

Os resultados obtidos até o momento, diz o instituto, demonstram que a nova vacina deve proteger contra todos os sorotipos da bactéria Streptococcus pneumoniae. Há mais de 90 deles pelo mundo.