Maioria dos transtornos mentais aparece aos 14 anos, mostra estudo

Pesquisa liderada pelo Hospital Clínic de Barcelona conclui que grande parte dos desequilíbrios começa durante os primeiros 25 anos de vida; foco deveria ser na prevenção em idade mais baixa

Foto: BBC Brasil
Maioria dos transtornos mentais aparece aos 14 anos, mostra estudo

A adolescência é uma idade particularmente difícil. E um estudo mostra agora um pouco mais por que. De acordo com uma pesquisa publicada na revista Molecular Psychiatry, do grupo Nature, a idade em que a maioria dos transtornos mentais aparece é aos 14 anos, quando o cérebro passa por importantes mudanças relativas ao amadurecimento. Especialistas afirmam repensar o sistema de saúde mental, que atualmente é estruturado em atendimento infantil e adulto conforme a pessoa é mais velha ou mais jovem.

A pesquisa, liderada pelo Hospital Clínic de Barcelona, ​​foi realizada a partir de uma meta-análise de outros 192 estudos que incluem 708.561 pacientes para determinar a idade em que os diferentes transtornos mentais costumam ser declarados.

De acordo com o estudo, a idade média em que a ansiedade social aparece é aos 13 anos, a anorexia aos 17 e a depressão, aos 30. Os 17 transtornos analisados ​​aparecem antes dos 35 anos, em média. A idade média é aquela em que 50% dos casos aparecem antes dessa idade, e a outra metade, depois.

Os pesquisadores observaram que a maioria dos transtornos mentais aparecem sem interrupção durante os primeiros 25 anos de vida.

Joaquim Raduà, chefe do grupo de pesquisa do Institut d'Investigacions Biomèdiques August Pi i Sunyer (Idibaps), afirma que o ideal seria otimizar a prevenção para evitar o aparecimento de distúrbios ou mesmo um agravamento.

"Se pudéssemos detectar a tempo qualquer alteração que alertasse sobre um possível transtorno mental, talvez pudéssemos corrigir e fazer o cérebro amadurecer de forma saudável, evitando o aparecimento do transtorno".

Existem diversos fatores de risco para os transtornos mentais, segundo a psicóloga clínica e psicoterapeuta Neus García:

"Principalmente, é uma questão genética e ambiental".

Raduà cita questões sociais, como “maus tratos” ou pertencimento a “grupos étnicos minoritários”, que podem gerar “discriminação”.

"Essas adversidades precisam ser reduzidas", afirma.

García garante que os primeiros anos de vida são a chave para reduzir estes riscos:

"O primeiro ano de vida formam a base da sua personalidade. A disciplina afetuosa é o que mais ajuda alguém a crescer. Às vezes, eles caem em superproteção, e isso não os prepara, pois as frustrações não são superadas. Ou, ao contrário, os limites são muito agressivos, e há uma falta de afeto que prejudica a autoestima", explica.

Silvia Picón, especialista em trauma emocional, aponta um conceito específico: “segurança emocional”.

"Cobrir as necessidades emocionais é básico", pontua.

Raduà destaca a importância de oferecer um programa preventivo "na idade específica" em que cada transtorno se inicia para que a prevenção seja eficaz.

Picón responde quase que instantaneamente:

"O suporte emocional é o maior fator de prevenção".

Diretor da Fundação Eulália Torras de Beà, de apoio psicológico a jovens, Lluís Diaz concorda em reduzir a idade no trabalho de prevenção.

"Investir na primeira infância é salvar o sofrimento de indivíduos e famílias, construir uma sociedade mais tolerante e, com isso, melhorar a qualidade de vida das pessoas".

Quando são detectados transtornos mentais, o reparo deve ser buscado o mais rápido possível, segundo García.

"É importante encontrar o remédio rapidamente, mas depende de cada patologia. Os casos de autismo são mais difíceis de tratar. Os desequilíbrios alimentares custam caro, mas dão certo, e as fobias, por exemplo, têm melhor solução", especifica a psicóloga.

O tratamento dessas patologias, porém, tem uma pedra no sapato. O sistema de saúde mental é principalmente dividido em dispositivos diferenciados entre menores de idade e adultos.

"A partir dos 18 anos, os jovens são encaminhados para outros centros, e muitos já não continuam com o apoio porque a mudança os incomoda", avisa Raduà.

Nessa linha, Diaz afirma repensar o sistema.

"Há muito tempo acreditamos que o corte de 18 anos é obsoleto. Não reflete a realidade da clínica de adolescentes e jovens adultos", lamenta.

Diaz, no entanto, está otimista com a mudança de paradigma que o setor está passando após a pandemia.

"Há mais visibilidade da saúde mental. A pandemia o catalisou. Há mais consciência do sofrimento mental e da necessidade de pedir ajuda", comemora.