Covid-19: Anti-inflamatório pode reduzir em 38% mortalidade de doentes graves
Estudo preliminar diz que medicamento para artrite reumatoide mostrou bons resultados em teste para tratar pacientes graves de Covid
Um medicamento para artrite reumatoide mostrou ótimos resultados em teste para tratar pacientes graves de Covid-19, reduzindo em 38% a mortalidade entre os infectados.
"Isso significa que, aproximadamente, a cada 20 pacientes, uma vida foi salva recebendo o remédio", conta Adilson Cavalcanti, infectologista que coordenou o estudo no Hospital Anchieta, de São Bernardo do Campo (SP), ligado à Universidade Federal do ABC (UFABC). Com isso, a droga passou a ser avaliada para autorização de uso permanente no Brasil.
Com o nome de baricitinibe, o medicamento atua primordialmente no controle do processo inflamatório desencadeado pelo vírus. O resultado foi anunciado por médicos que conduziram a pesquisa em 12 diferentes centros clínicos do país.
O trabalho foi patrocinado pela multinacional Eli Lilly, fabricante do medicamento. O braço brasileiro do estudo integrou uma colaboração internacional, que testou a droga em 1.525 voluntários. O resultado, que deve ser publicado em breve num periódico acadêmico, já foi divulgado como estudo preliminar.
No estudo, os pesquisadores administraram o remédio a alguns pacientes junto do tratamento de suporte padrão, que incluiu uso de medicações, como corticoides, dexametasona e ventilação mecânica quando necessário. No outro grupo, os pacientes receberam o mesmo tratamento, mas com um placebo no lugar da droga em teste.
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Os profissionais também analisaram separadamente a resposta ao medicamento nos pacientes voluntários que precisaram do suporte da ventilação mecânica. A redução da mortalidade nesse subgrupo foi de 46%, ainda que o medicamento não tenha conseguido impedir a doença nesse estágio.
“Apesar de a redução da progressão da doença não ter atingido significância estatística, o tratamento com o baricitinibe junto da terapia padrão (incluindo a dexametasona) reduziu a mortalidade significativamente”, escreveram os autores do estudo internacional, liderado pela Universidade Emory, de Atlanta (EUA).
Uso nos EUA
Na opinião do infectologista Mauro Schechter, professor titular da UFRJ, o resultado do estudo ainda representa um estágio inicial de evidência, mas já justifica um pedido de uso para pacientes graves. Segundo ele, controlar a tempestade inflamatória provocada da Covid-19 é uma das medidas mais importantes.
"O que me deixa intrigado é que não está totalmente claro ainda o mecanismo biológico do medicamento", diz Schechter.
O GLOBO apurou que a Anvisa deve dar uma resposta em poucos dias para o pedido. Cientistas estão otimistas, porque o medicamento já tem autorização provisória da FDA (autoridade regulatória dos EUA) — o aval foi em 28 de julho.
Segundo a médica Raquel Stucchi, professora de infectologia na Universidade Estadual de Campinas, ainda não está claro o impacto que o baricitinibe pode ter na prática clínica em UTIs de Covid-19, onde já há algumas outras drogas em teste.