Covid: Dose de reforço só alcança um terço dos idosos, diz Ministério da Saúde

Baixa cobertura pode elevar número de casos na faixa etária, uma preocupação diante da variante Delta, que já domina as infecções, e da chegada da Ômicron

Foto: Pixabay
Covid: Dose de reforço só alcança um terço dos idosos, diz Ministério da Saúde

Dois meses após o Ministério da Saúde anunciar que todos os idosos a partir de 60 anos poderiam tomar a dose de reforço da vacina contra a Covid-19, só 34,2% deles a receberam. Segundo dados do vacinômetro da pasta, só 10.403.093 tomaram o reforço até esta sexta-feira, dos 30.357.524 que compõem a população estimada da faixa etária.

Nesse cenário, há maior risco para internações e mortes diante do maior número de infectados, seja pela flexibilização de medidas restritivas, seja pela Ômicron.

A nova cepa pode figurar como um desafio para a pandemia, mas ainda faltam estudos para verificar se há maior taxa de transmissão e escape vacinal. Dessa forma, o reforço da imunização atuaria como uma barreira para o avanço dela pelo país.

"Esse dado (de 34,2%) é muito preocupante, porque esse público é preferencial para receber o reforço, porque a idade influencia na efetividade das vacinas. Então, ter uma dose de reforço é fundamental para garantir, para esse público que já tem maior risco para hospitalização e óbito, proteção contra esses desfechos mais graves", avalia o professor de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda.

Entre os gargalos para alavancar a cobertura entre idosos, especialistas avaliam que faltam campanhas de comunicação e de conscientização sobre a importância da dose de reforço para idosos, o que pode levar à menor procura nas revacinações. Nessa esteira, o pesquisador avalia que uma taxa de 95% seria satisfatória para o reforço dos idosos:

"Como esse público acima de 60 anos é de maior risco e foi o primeiro a receber vacina no início de 2021, é fundamental que estejam completamente vacinados e com a dose de reforço para que a gente não tenha impacto da chegada da Ômicron", continua o pesquisador.

Além disso, há hesitação diante de eventos adversos, como dor no braço e no corpo. Pesquisadores reiteram a segurança e a eficácia do reforço no combate à Covid-19, sobretudo para o grupo — que tem menor imunidade devido ao envelhecimento natural do sistema imunológico — diante da Delta, já alastrada pelo país, e da Ômicron, detectada em São Paulo e no Distrito Federal.

"Ainda temos poucos dados conclusivos sobre a Ômicron, mas muitos indicativos apontando que as vacinas podem conferir algum grau importante de proteção mesmo considerando essa variante. Por isso, é extremamente relevante fazer a busca por quem ainda não se vacinou, ampliar a cobertura vacinal para a segunda dose, e também para o reforço, em especial nessas populações mais vulneráveis", ressalta a biomédica e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise COVID-19.

Em novembro, o órgão reduziu de seis para cinco meses o intervalo para o reforço e realizou campanha de megavacinação, mas a cobertura segue em baixa. Motivada pelos 21 milhões de “faltosos” da segunda dose e pela baixa procura pelo reforço para idosos, a iniciativa realizada de 20 a 26 de novembro viu a baixa cobertura se manter. São Paulo diminuiu em mais um mês o intervalo na última quinta-feira, o que vai na contramão da pasta — que não estuda medida semelhante até o momento.

Para o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Renato Kfouri, o desafio é manter o interesse pela vacinação com o passar do tempo:

"Criar ‘pool’ de suscetíveis (quantidade de pessoas vulneráveis) aumenta o risco de novas ondas", afirma.

A pasta estendeu a dose de reforço a toda a população adulta que tenha completado o ciclo de imunização há pelo menos cinco meses. Estados e municípios, contudo, têm autonomia para definir os cronogramas de vacinação.

Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Saúde informou que já enviou todas as doses necessárias para o reforço da população apta a recebê-la. Contudo, a pasta não respondeu, até o fechamento desta publicação, a população estimada por mês de idosos que podem tomar essa dose e nem quais medidas estuda adotar para reverter a baixa cobertura.