Tratamento com hormônio reduz problemas em relação à Síndrome de Down

Estudo mostra que reposição do GnRH proporcionou benefícios para o raciocínio e para a memória, e elevou as conectividades cerebrais dos participantes

Foto foi feita por outra paciente que estava na enfermaria
Foto: Reprodução
Foto foi feita por outra paciente que estava na enfermaria

Um novo tratamento baseado na reposição de um hormônio melhorou o desempenho cognitivo e as conectividades cerebrais de pessoas com Síndrome de Down em um estudo recém-publicado na revista científica Science. Embora preliminares, os resultados inéditos são um sinal de esperança para o melhor controle de uma síndrome presente em aproximadamente 1 a cada mil nascimentos, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Conduzido por pesquisadores do Laboratório de Neurociência e Cognição da Universidade de Lille, na França, e do Hospital da Universidade de Lausanne, na Suíça, o trabalho teve início com a identificação em modelos animais de que a disfunção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) estava ligada aos impactos cognitivos da Síndrome de Down. De acordo com os cientistas, essa neurodegeneração leva 77% das pessoas com a condição a apresentarem sintomas semelhantes aos da doença de Alzheimer com o tempo.

Eles decidiram testar então uma terapia com injeção do GnRH nos camundongos com um modelo animal da síndrome que apresentavam deficiência cognitiva e olfatória. Após 15 dias, a equipe constatou que a estratégia havia melhorado os sintomas nos animais. O próximo passo foi avaliar se esse mesmo impacto seria observado também em humanos.

Os pesquisadores desenvolveram então um teste clínico piloto com sete homens com Down, de idades entre 20 e 50 anos. Os participantes receberam uma dose do hormônio GnRH a cada duas horas, durante um período de seis meses, por meio de um dispositivo colocado no braço. Antes e após o período, foram realizados testes de cognição e de olfato, além de ressonâncias magnéticas cerebrais.

Os resultados dos testes mostraram que a performance cognitiva aumentou em seis dos sete pacientes, com melhorias na compreensão de instruções, no raciocínio, na atenção e na memória. As imagens dos exames cerebrais confirmaram as mudanças, revelando uma elevação significativa nas conectividades funcionais do órgão. A terapia, no entanto, não teve efeito nas deficiências olfativas dos participantes.

Para os pesquisadores, os dados do estudo sugerem que o tratamento atua no cérebro por meio do fortalecimento da comunicação entre certas regiões do córtex – camada externa do órgão, rica em neurônios, e ligada ao desenvolvimento de habilidades como cognição e memória.

“A manutenção do sistema GnRH parece desempenhar um papel fundamental na maturação do cérebro e nas funções cognitivas. Na síndrome de Down, a terapia com GnRH parece promissora, especialmente porque é um tratamento que já existe sem efeitos colaterais significativos”, afirma o diretor de pesquisa do laboratório da Universidade de Lille, Vincent Prévot, um dos autores do estudo, em comunicado.

Os resultados foram promissores, mas o trabalho inicial ainda é um primeiro passo para que eventualmente a nova terapia seja incorporada na prática clínica. Os cientistas pretendem agora lançar um novo estudo, em maior escala, para avaliar o tratamento não apenas para pessoas com Síndrome de Down, mas também com outras doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

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