
Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) , com objetivo de focar na relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a depressão , descobriu que uma dieta com alto teor desses produtos tem grande impacto no risco de desenvolver a doença.
A pesquisa envolveu mais de 14 mil pessoas, com dados coletados ao longo de oito anos, e teve apoio do Laboratório de Fisiopatologia no Envelhecimento (Gerolab) , que investiga o envelhecimento e as doenças crônico-degenerativas associadas. O artigo também contou com a participação de profissionais do Instituto de Psiquiatria (IPq) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
Foram separados pelos pesquisadores três períodos de avaliação (ondas): 2008 a 2010, 2012 a 2014 e 2017 a 2019. Foi observado que, dentre os 13.870 participantes anteriormente livres da doença, o grupo que consumia alimentos não processados ou minimamente processados não apresentou depressão em nenhuma das ondas avaliadas.
Relação entre alimentação e depressão

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) , a depressão afeta quase 6% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 12 milhões de pessoas. No mundo, são mais de 300 milhões de diagnósticos.
O tratamento envolve terapia e medicação, mas o gerenciamento da doença também passa pela busca de um estilo de vida mais saudável, priorizando atividade física, alimentação e sono equilibrados. Há estudos em diversos países que apontam a associação entre esses fatores.
Naomi Ferreira, pós-doutoranda da FMUSP, conta que “muito do que se sabe vem de pesquisas conduzidas em países ricos”, e que não há muitos dados que considerem a realidade dos países de baixa e média renda.
Métodos utilizados
Pesquisadoras da Faculdade de Saúde Pública (FSP) colaboraram com o cientista brasileiro Carlos Monteiro, responsável pela primeira classificação dos alimentos ultraprocessados. Esse sistema, amplamente adotado globalmente, divide os alimentos em quatro categorias: in natura ou minimamente processados; ingredientes culinários processados; alimentos processados; e ultraprocessados, que incluem aditivos como corantes e emulsificantes.
No estudo, os primeiros dois grupos foram combinados, pois seus ingredientes são frequentemente utilizados na preparação de alimentos naturais.
Para medir a incidência de depressão nos pacientes, foi utilizado o Clinical Interview Schedule-Revised (CIS-R), um método de entrevista validada para identificar sintomas psiquiátricos. O CIS-R avalia cinco aspectos principais: fadiga, dificuldades de concentração ou memória, distúrbios do sono, depressão e ideias depressivas.
Os dados coletados foram comparados com as respostas de um questionário de frequência alimentar, que avalia padrões alimentares no período de um ano com base em 114 itens.
Depois, foi realizada uma análise que informa o risco do indivíduo desenvolver a depressão ou não, de acordo com seus hábitos. “Aqueles que consumiam mais ultraprocessados no início do estudo apresentaram um risco 30% maior de desenvolver o primeiro episódio de depressão”, realça a Dra. Naomi.
“O que comemos não tem impacto apenas sobre o intestino, mas sobre o perfil de nutrientes que o sangue fornece para as células”, explica a pesquisadora.
Aqueles que registraram maior consumo de ultraprocessados no início do estudo tiveram mais diagnósticos nas outras avaliações: em relação ao grupo 1, o risco de depressão persistente dos integrantes do grupo 2 foi 30% maior; o risco do grupo 3 foi 39% maior, e com relação ao grupo 4, o risco foi 58% maior.