
Seis meses após o diagnóstico de uma deficiência rara , médicos salvaram a vida de um bebê com um tratamento personalizado de edição genética que corrigiu a mutação fatal , que afeta 1 em 1,3 milhão de indivíduos e mata metade dos bebês na primeira infância.
A doença causa deficiência da substância carbamoil-fosfato sintetase 1 (CPS1) e é responsável pelo acúmulo de amônia no sangue .
A intervenção que ocorreu no Children’s Hospital of Philadelphia , nos Estados Unidos, foi acelerada devido à gravidade extrema da variante apresentada pela criança, o que “significou que precisávamos acelerar o caminho para a terapia personalizada em que já estávamos trabalhando”, afirmou a Dra. Ahrens-Nicklas, autora principal do estudo, ao ABC News.
Desenvolvimento da técnica
Em apenas seis meses, a equipe elaborou um protocolo, chamado de CRISPR, que troca um único trecho do DNA sem cortar as duas fitas do gene.

Primeiro, identificaram a mutação exata do bebê e projetaram um editor de bases que corrigia apenas essa posição.
Depois, encapsularam o RNA mensageiro (mRNA) correspondente e o editor em nanopartículas lipídicas, delicadas bolhas de gordura capazes de alcançar especificamente as células do fígado quando administradas por infusão.
Foram realizadas duas infusões, aos sete e aos oito meses do paciente.
As nanopartículas entregaram o material genético diretamente aos hepatócitos, células principais do fígado, onde o editor de bases alterou permanentemente a sequência defeituosa .
Diferentemente de transplantes de fígado, que só podem ser feitos quando o bebê atinge peso e idade minimamente seguros e não revertem danos já instalados, essa abordagem atua precocemente, antes mesmo que sequelas cerebrais se consolidem.
Evolução clínica
Sete semanas após a segunda dose, o bebê apresentou melhora nos parâmetros bioquímicos e tolerou ingestão de mais proteína na dieta, enquanto foi possível reduzir em 50% a dose de medicamentos usados para controlar a amônia, sem efeitos adversos relatados.
Esse resultado sinaliza não só a eficácia imediata da correção genética, mas também a viabilidade de novas doses no futuro, se necessário.
Os detalhes desse caso inédito foram publicados na New England Journal of Medicine e apresentados na reunião anual da American Society of Gene and Cell Therapy.
Os autores defendem que, com os mesmos componentes principais, nanopartículas lipídicas e mRNA padronizados, bastará trocar as “instruções” genéticas para tratar outras mutações em poucos meses.
Visão de futuro
“Pense nisso como um sinal de GPS”, comparou o Dr. Kiran Musunuru, diretor do Programa de Origens Genéticas e Epigenéticas de Doenças do Instituto Cardiovascular da Pensilvânia, ao ABC News. “Você pode mudar o destino conforme a sequência específica de genes que precisa ajustar.”
O objetivo agora é estabelecer centros genômicos de excelência, capazes de gerar, em tempo real, terapias sob medida para cada paciente, ampliando o acesso a tratamentos únicos para doenças raras.