SP tem baixa adesão à vacina da gripe antes da fase crítica

Estado tem cobertura estimada de 26,7% entre os grupos prioritários, ainda distante da meta de 90%

Cobertura vacinal entre os grupos prioritários é de 26,7%
Foto: Reprodução: Freepik
Cobertura vacinal entre os grupos prioritários é de 26,7%

A campanha de vacinação contra a gripe  no estado de São Paulo teve um leve avanço após o Dia D de mobilização, realizado no último sábado (10): passou de 21% para 24,41% de cobertura entre os grupos prioritários.  Nesta segunda-feira (19), a percentagem subiu para 26,7%. Apesar do crescimento, a adesão segue muito abaixo do esperado e da meta de 90% , conforme informado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES-SP) ao Portal iG.

"O ideal é que a maioria das pessoas que fazem parte dos grupos prioritários r ecebam a vacina antes do período de maior circulação do vírus da Influenza, que é justamente agora no inverno", diz Lígia Nerger, diretora da Divisão de imunização da SES-SP.

De acordo com a diretora, o estado já observa um aumento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). É uma tendência em todo o país, segundo o último boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na quinta-feira (15): foram registrados 56.749 casos de SRAG no Brasil em 2025.

Entre os casos das últimas quatro semanas epidemiológicas, a maioria - 30,1% - foram atestados como Influenza A. É daí que vem a importância de se vacinar quanto antes contra a gripe, diz Lígia.

"Há necessidade das pessoas se vacinarem para estarem protegidas nesse período de maior circulação. O tempo médio para elas criarem anticorpos é de 15 dias, então quanto antes elas tomarem a vacina, melhor", afirma.

O que impede as pessoas de se vacinarem?

Em entrevista ao Portal iG, o médico infectologista Alexandre Naime explica que, apesar dos esforços das autoridades, a vacinação contra a gripe enfrenta uma série de fatores que ajudam a explicar a baixa adesão, mesmo em comparação com outras vacinas do calendário básico.

"No caso da influenza, há, sim, uma hesitação maior por parte da população, motivada principalmente por desinformação, circulação de fake news e uma percepção equivocada de que a gripe é sempre uma doença leve", diz o médico.

Segundo ele, há uma percepção distorcida da gravidade da gripe.

"Muitas pessoas não se consideram em risco ou acreditam que não terão complicações caso sejam infectadas, o que gera uma falsa sensação de segurança. Isso é particularmente preocupante, já que a influenza tem sido uma das principais causas de hospitalizações e mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave nesta temporada, sobretudo entre os grupos prioritários", afirma.

Além disso, para o infectologista, a maneira como as pessoas percebem o risco da gripe e recebem informações sobre a vacina tem sido um problema maior do que a dificuldade de acesso, já que "a logística, embora relevante, costuma ser mais facilmente resolvida com estratégias pontuais, como o Dia D de vacinação".

O maior desafio, segundo ele, é vencer a hesitação vacinal com campanhas contínuas, claras e baseadas em evidências.

"A resposta está, portanto, menos na dificuldade de acesso e mais na necessidade de reconstruir a confiança da população na importância de se vacinar contra a gripe todos os anos", conclui.

Vacinação preocupa entre crianças

Segundo Lígia, a cobertura vacinal varia bastante entre os grupos prioritários. O índice mais baixo é o das crianças maiores de 6 meses e menores de 6 anos, com apenas 15,61% vacinadas até agora. Entre os idosos, a taxa é de 32%, e entre gestantes, de 23%.

Crianças entre 6 meses e 6 anos estão entre as prioridades do governo
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil - 26/01/2022
Crianças entre 6 meses e 6 anos estão entre as prioridades do governo

Para o infectologista Alexandre Naime, o dado acende um alerta. "Estamos deixando desprotegida uma população mais suscetível a formas graves da influenza e que também tem papel central na transmissão, especialmente em ambientes como creches e escolas", afirma.

Segundo ele, além do acesso, é preciso melhorar a comunicação com pais e responsáveis. "Campanhas específicas, vacinação nas escolas e o envolvimento de pediatras podem ajudar a aumentar a adesão", sugere. De acordo com Lígia, alguns municípios já estão mobilizando a imunização nas escolas.

Naime também destaca que a baixa cobertura infantil impacta toda a família. "Crianças pequenas, mesmo assintomáticas, transmitem o vírus dentro de casa, colocando em risco principalmente os idosos, que são mais vulneráveis", conclui o médico infectologista.