Casos de AVC em jovens aumentam quase 60% no Brasil

Em dez anos, o número de internações pela doença dobrou

Foto: peterschreiber.media
O AVC é a interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro, causada por obstrução ou rompimento de vasos, que pode gerar sequelas graves ou até levar à morte

Algumas doenças antes associadas ao envelhecimento estão atingindo cada vez mais jovens. Dados do Ministério da Saúde mostram que, na última década, as internações de pessoas com até 39 anos por acidente vascular cerebral (AVC)  cresceram cerca de 59%.

O designer gráfico Guilherme Teodoro sofreu um AVC aos 26 anos, em 2022, durante um dia comum de trabalho.

Eu estava no escritório, tinha ido almoçar e, quando voltei, comecei a sentir um calor intenso e uma dor de cabeça absurda. Na hora de beber água, a garrafa caiu da minha mão esquerda. Pouco depois, minha fala enrolou e meu lado esquerdo paralisou. Eu não sabia que era um AVC, achei que tomaria um remédio e iria embora ”, relembra.

Foto: Arquivo pessoal
Guilherme utiliza a câmera fotográfica durante as sessões de fisioterapia


O caso de Guilherme não é isolado. O neurologista Diogo Haddad, coordenador do Núcleo de Memória ALTA, explica que o AVC em jovens está se tornando mais frequente.

Antes, o AVC era visto como doença de idosos. Hoje, fatores de risco como hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo e obesidade aparecem cada vez mais cedo. Além disso, doenças genéticas, alterações cardíacas, uso de drogas ilícitas e até complicações de infecções podem contribuir ”, afirma.









Durante a internação, Guilherme enfrentou dias de incerteza. 

“Passei 15 dias entre exames e remédios. Foi um choque para mim e para os médicos, porque não tinha histórico familiar, pressão alta ou problemas arteriais. Estava tudo normal, exceto pela tomografia. Quando tive alta, percebi que não conseguia andar, usar a mão esquerda ou tomar banho sozinho. Minha vida mudou completamente.”

Segundo o neurologista, os sintomas do AVC são os mesmos em qualquer idade: fraqueza ou dormência em um lado do corpo, dificuldade para falar, perda súbita de visão, desequilíbrio ou dor de cabeça muito intensa. A diferença, alerta, é que em jovens muitas vezes esses sinais não são reconhecidos de imediato.

Nem o próprio paciente, nem familiares ou até profissionais pensam em AVC quando se trata de alguém com 30 ou 40 anos. Isso atrasa o diagnóstico, e o tempo é crucial: quanto mais cedo o tratamento, maiores as chances de recuperação ”, explica.

A reabilitação de Guilherme segue até hoje e afeta não só a rotina, mas também a de toda sua família.

Minha mãe precisou dedicar 100% do tempo para me ajudar. Amigos e familiares se afastaram, meu próprio pai nunca me procurou. O AVC aconteceu em segundos, mas a recuperação é uma luta interminável ”, diz.

Para o neurologista, a prevenção ainda é o principal caminho.

Até 80% dos casos poderiam ser evitados com hábitos saudáveis como controlar a pressão, diabetes e colesterol, não fumar, praticar exercícios, ter uma alimentação equilibrada e buscar acompanhamento médico em caso de histórico familiar. O estilo de vida atual, marcado por estresse, sedentarismo, noites mal dormidas e alimentação ultraprocessada, está antecipando doenças que antes só víamos em idosos .”