Os cogumelos interceptados na Operação Psicose, deflagrada nesta quinta-feira (4) pela Polícia Civil do Distrito Federal , contêm psilocibina, substância psicoativa com potencial terapêutico em saúde mental.
Estudos apontam que o composto pode auxiliar no tratamento de depressão resistente, reduzir ansiedade em pacientes terminais e apoiar o tratamento de dependentes químicos.
“Alguns cogumelos, como o Psilocybe cubensis e o Psilocybe semilanceata, contêm psilocibina, um composto psicoativo que vem sendo estudado por seu potencial terapêutico em diferentes áreas da saúde mental” , afirmou o médico Nelson de Assis ao Portal iG .
Ele destacou que os efeitos da psilocibina dependem do contexto de aplicação e do acompanhamento profissional.
Em pesquisas clínicas, a substância é administrada em doses controladas, frequentemente em sessões de psicoterapia assistida. No organismo, a psilocibina é convertida em psilocina, que atua nos receptores de serotonina no cérebro, provocando alterações na percepção, no humor e na cognição.
Experiências relatadas por participantes incluem sensações de introspecção profunda, percepção alterada do tempo e aumento de conexões neurais, processo conhecido como neuroplasticidade.
Estudos indicam que a psilocibina pode promover mudanças comportamentais duradouras e gerar efeitos de bem-estar, criatividade e empatia.
Pacientes com depressão resistente demonstraram redução significativa nos sintomas, enquanto pessoas com transtorno de estresse pós-traumático ou dependência química podem se beneficiar da reconfiguração de padrões mentais proporcionada pelo composto.
Apesar do potencial terapêutico, o uso da psilocibina fora de ensaios clínicos autorizados é ilegal no Brasil. “O consumo sem acompanhamento profissional pode trazer efeitos adversos, como ansiedade intensa, experiências negativas ou desorientação”, alertou Assis.
Pessoas com histórico de esquizofrenia ou transtornos psicóticos são orientadas a evitar o uso da substância.
No Brasil, fora de pesquisas clínicas, o consumo é proibido e sujeito a investigação criminal, enquanto em outros países, como Canadá e partes dos Estados Unidos, há avanços na legalização para uso médico supervisionado.
Operação Psicose
Na Operação Psicose, os cogumelos eram vendidos de forma ilícita e anunciados com promessas de tratamento para depressão e ansiedade, diferente do protocolo científico.
A rede criminosa comercializava os produtos desidratados, encapsulados ou misturados a mel, e atingia jovens frequentadores de festas de música eletrônica.
A movimentação financeira chegava a R$ 200 mil por dia, totalizando R$ 26 milhões em um ano, segundo a Polícia Civil. Até o momento, nove pessoas foram presas e mais de 3 mil pacotes apreendidos.