
A alfabetização é um dos marcos mais significativos da infância, mas para muitos pequenos, esse processo pode ser dificultado por um fator que costuma passar despercebido: a visão. Entenda os sinais que indicam a hora de procurar um especialista.
Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam algum tipo de problema visual, sendo os erros de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo, os mais comuns. Como 80% do conteúdo escolar é assimilado visualmente, qualquer dificuldade ocular pode comprometer o desempenho, gerar frustração e até afetar a autoestima da criança.
Para o médico e oftalmologista Arthur Franzão Gonçalves, integrante da metodologia Em Um Piscar de Olhos, um dos principais desafios é a expectativa comum de que a criança vá reclamar ou dizer que não está enxergando bem. Na prática, isso não acontece.
“ A criança tende a se adaptar às dificuldades visuais, mesmo que isso a leve a copiar errado da lousa ou a perder o interesse pela leitura. Por isso, é essencial que pais e educadores estejam atentos aos sinais e comportamentos, além de manter uma rotina de exames oftalmológicos, especialmente nos primeiros anos escolares ”, alerta o especialista.
5 alertas para a saúde ocular na infância
- Aproximação excessiva de telas ou livros
Se a criança costuma se sentar muito perto da televisão, segura o celular colado ao rosto ou se aproxima mais do caderno para escrever, isso pode ser um indicativo de miopia ou dificuldade de foco.
“ Esse comportamento é comum porque a criança enxerga melhor objetos próximos, mas tem dificuldade com o que está distante, como a lousa ou placas na rua. Esse sinal é um dos mais fáceis de observar em casa e deve ser levado a sério, especialmente se for recorrente
”, declara Franzão.
- Dores de cabeça frequentes após atividades escolares
A dor de cabeça infantil, especialmente após momentos de leitura ou uso de telas, pode estar relacionada ao esforço visual.
“ Quando a criança tem algum grau de hipermetropia ou astigmatismo, ela precisa forçar os olhos para enxergar com nitidez, o que gera cansaço ocular. Esse esforço constante pode provocar dores de cabeça, irritabilidade e até dificuldade de concentração. Se os sintomas aparecem com frequência após a escola ou tarefas de casa, é hora de investigar
”, alerta.
- Olhos vermelhos, lacrimejantes ou piscando em excesso
Esses sinais podem indicar sensibilidade à luz, esforço ocular ou até presença de algum grau de inflamação. Crianças que piscam demais ou esfregam os olhos com frequência podem estar tentando compensar algum desconforto visual.
“ Embora esses sintomas também possam estar ligados a alergias, é importante considerar a possibilidade de problemas de refração ou outras alterações oftalmológicas. Um exame simples pode esclarecer a causa e evitar que o incômodo afete o rendimento escolar
”, declara o médico.
- Dificuldade para copiar da lousa ou acompanhar textos
Esse é um dos sinais mais evidentes dentro da sala de aula. Crianças com dificuldade para enxergar à distância podem copiar palavras erradas, pular linhas ou demorar mais que os colegas para concluir tarefas. Já aquelas com problemas para focar de perto podem perder o acompanhamento da leitura, pular sílabas ou se confundir com letras parecidas.
“ Os professores costumam perceber esses comportamentos, mas é essencial que os pais estejam atentos e conversem com a escola
”, acrescenta.
- Desinteresse pelas atividades escolares
Quando a criança não enxerga bem, ela pode associar o aprendizado a uma experiência frustrante. Ler se dificulta, escrever exige esforço, e acompanhar a aula vira um desafio.
“ Com o tempo, isso pode gerar desmotivação, queda no desempenho e até problemas de comportamento. Muitas vezes, o desinteresse não está ligado à falta de vontade, mas sim à dificuldade de enxergar. Identificar essa causa pode transformar completamente a relação da criança com a escola
”, finaliza.

Projeto social
Pensando em ampliar o acesso ao diagnóstico precoce, a metodologia Em Um Piscar de Olhos surgiu em 2021 com a proposta de realizar triagens oftalmológicas em apenas seis segundos, sem necessidade de dilatação da pupila. Utilizando uma tecnologia portátil e de alta precisão, o projeto já atendeu mais de 189 mil crianças e adolescentes, a partir dos seis meses, em diversas regiões do Brasil.
Após a triagem, são organizados mutirões de exames oftalmológicos para confirmação dos diagnósticos, seguidos pela entrega gratuita de óculos para os estudantes que necessitam de correção visual. A iniciativa torna o cuidado com a visão mais acessível e contribui diretamente para que dificuldades visuais não se tornem barreiras no processo de alfabetização e aprendizado.
O projeto é realizado em parceria com as Secretarias de Saúde e Educação dos municípios e, às vezes, conta com o apoio de instituições privadas. Atualmente, o projeto já passou esteve em dez estados .
Não há uma inscrição específica. A escola que recebe o projeto avisa os pais e responsáveis, informando as datas e os horários em que será realizado o mutirão para triagem. A partir da triagem as crianças que forem diagnosticadas com algum problema são encaminhadas para a consulta com o oftalmologista e após alguns dias os óculos são entregues.