Doença de Chagas mata 14 mil por ano; veja situação no Brasil

Pará concentra 80% dos casos no país

A doença de Chagas é transmitida pelo barbeiro infectado
Foto: Reprodução/Fiocruz
A doença de Chagas é transmitida pelo barbeiro infectado

A doença de Chagas provoca cerca de 14 mil mortes por ano na América Latina, onde mais de 6 milhões de pessoas em 21 países vivem infectadas pelo parasita Trypanosoma cruzi . No  Brasil,  há cerca de um milhão de casos, segundo a Fiocruz, sendo que o Pará concentra 80% das ocorrências nacionais.

O estado amazônico sedia entre 10 e 21 de novembro deste ano a 30ª Conferência das Partes da Convenção‑Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada na capital, Belém . Durante o evento, a enfermidade foi tema das discussões sobre saúde e clima, que abordou a vulnerabilidade das populações afetadas por doenças tropicais em regiões rurais e amazônicas.

Descrita em 1909 pelo pesquisador Carlos Chagas, a enfermidade continua sendo um grave problema de saúde pública nas Américas. Apesar dos avanços no controle do principal vetor, o Triatoma infestans , conhecido popularmente como  inseto barbeiro, ainda há risco de transmissão em regiões amazônicas e áreas entre cidade e campo.

A doença é transmitida principalmente pelas fezes do barbeiro, que deposita o parasita Trypanosoma cruzi na pele após a picada.

Também pode ocorrer transmissão de mãe para filho, por transfusão de sangue, transplante de órgãos ou ingestão de alimentos contaminados, como açaí e caldo de cana.

A doença de Chagas é provocada parasita Trypanosoma cruzi
Foto: Reprodução/Fiocruz
A doença de Chagas é provocada parasita Trypanosoma cruzi


Na fase aguda, os sintomas mais comuns são febre, cansaço, dor de cabeça, inchaço no rosto e nas pernas, palpitações e dor no peito. Em muitos casos, a infecção passa despercebida.

Já na fase crônica, que pode se manifestar décadas depois, o parasita afeta o coração e o sistema digestivo, podendo causar insuficiência cardíaca e problemas digestivos graves.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é realizado por exames parasitológicos ou sorológicos, que identificam o parasita ou os anticorpos produzidos pelo corpo. Menos de 10% dos infectados nas Américas são diagnosticados, e menos de 1% recebe tratamento adequado, segundo a OMS.

No Brasil, o tratamento é feito com o medicamento benzonidazol, distribuído gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) . O fármaco é mais eficaz nas fases iniciais da doença. Além disso, estudos conduzidos pela Fiocruz buscam novas alternativas terapêuticas, como o uso de células-tronco e suplementação com selênio para reduzir os danos cardíacos.

Foto: João Risi/Ministério da Saúde
A doença de Chagas foi tema de debate no primeiro dia da COP30


Pará lidera casos

O estado do Pará lidera o número de casos no Brasil com cerca de 80% das ocorrências. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), 89% dos casos no estado ocorrem por transmissão oral.

Em 2023, foram 536 casos confirmados, número que caiu para 485 em 2024. De janeiro a março de 2025, o estado registrou 72 novos casos, concentrados principalmente nos municípios de Breves, Barcarena, Belém, Muaná, Ananindeua e Abaetetuba.

Para combater os números de casos, a Sespa tem intensificado ações de prevenção e monitoramento, com capacitação de profissionais de saúde e orientações sobre boas práticas de higiene na produção do açaí, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), o Ministério Público do Estado e a Universidade Federal do Pará (UFPA).

O paciente com suspeita da doença precisa comparecer à Unidade Básica de Saúde, ser logo notificado e imediatamente encaminhado para exame e início do tratamento ”, explica Éder Monteiro, coordenador do Programa de Controle da Doença de Chagas da Sespa. Ele ressalta que o tratamento é feito com medicamento específico por dois meses, seguido de acompanhamento médico por até cinco anos.

Casos agudos e mortes em outros estados

Apesar de o Pará ter a maioria dos casos de doença de Chagas no Brasil, o problema também acontece em outros estados, principalmente na região amazônica e no Centro-Oeste, segundo dados do Ministério da Saúde.

Entre 2010 e 2020, o Amapá teve 140 casos agudos da doença, quase todos em Macapá e Santana. No Amazonas, houve registros em cidades como Carauari, Barreirinha e Santa Isabel do Rio Negro. No Acre, foram confirmados casos agudos em Feijó, Marechal Thaumaturgo e Cruzeiro do Sul.

O Tocantins também aparece entre os estados com mais mortes, com cidades como Aparecida do Rio Negro, Ananás e Araguaína somando novos casos no mesmo período. No Centro-Oeste, o Goiás tem uma das maiores médias de mortes, com cerca de 740 por ano.

Em Minas Gerais, a situação é ainda mais grave, o estado tem mais de mil mortes por ano. Depois vêm São Paulo, com cerca de mil mortes anuais, Bahia, com mais de 600, e o Distrito Federal, onde a proporção de mortes chega a 8 para cada 100 mil pessoas em alguns anos.


Em Alagoas, foram mais de 90 mortes por ano, e no Piauí, a taxa chegou a 2,8 por 100 mil habitantes em 2011.

Mesmo com uma pequena queda no número de mortes em todo o país entre 2010 e 2020, segundo o relatório do Ministério da Saúde, a doença de Chagas ainda se espalha por várias regiões do Brasil, com novos casos na Amazônia e doentes antigos em áreas onde a doença já era comum.