Ingrediente do chocolate atrasa envelhecimento, diz estudo

Pesquisa norte-americana sugere que o consumo diário de extrato de cacau pode reduzir inflamações crônicas em adultos mais velhos

Chocolate pode ajudar no retardo do envelhecimento? Entenda
Foto: Reprodução/ Wikimedia Commons
Chocolate pode ajudar no retardo do envelhecimento? Entenda

Um estudo clínico realizado nos Estados Unidos ao longo de dois anos apontou que a suplementação diária com extrato de cacau rico em flavonoides pode reduzir marcadores de inflamação crônica em idosos. As informações são do Study Finds.

A pesquisa apresenta evidências de que esses compostos vegetais podem auxiliar no combate do chamado inflammaging, um processo de inflamação crônica associado ao envelhecimento e ligado a  doenças cardíacas, fragilidade e outros problemas de saúde.

Os pesquisadores acompanharam cerca de 600 homens e mulheres saudáveis, na faixa dos 70 anos. Metade fez uso das cápsulas de extrato de cacau todos os dias, enquanto o restante tomou pílulas de placebo. 

Ao longo dos dois anos de acompanhamento, as amostras de sangue coletadas mostraram uma diferença evidente entre os grupos: aqueles que receberam o extrato de cacau apresentaram níveis mais baixos de inflamação em relação aos que tomaram placebo.

O suplemento continha flavonoides do cacau, substâncias também encontradas no chocolate amargo. Entretanto, ao contrário das barras de chocolate, as cápsulas forneciam uma dose constante e concentrada, sem adição de açúcar ou gordura.

Descobertas

Os médicos costumam avaliar a inflamação no organismo por meio da proteína C reativa ( PCR ), para verificar se há inflamação oculta. Quanto mais altos os níveis dessa proteína, maior o estresse para o corpo e o risco de doenças cardiovasculares.

No grupo que fez uso de placebo, os índices de PCR aumentaram lentamente ao longo do estudo, um padrão esperado com o envelhecimento.

Entre os participantes com PCR iguais ou superiores a 10 mg/L, o que indicam risco cardiovascular elevado, o uso do extrato de cacau levou a reduções anuais de quase 38% em relação ao placebo. 

Ao final de dois anos, as pessoas que tomaram o suplemento apresentaram níveis de PCR visivelmente mais baixos do que aquelas que não o tomaram.

O estudo também avaliou outros sinais do sistema imunológico, como o interferon-gama, que apresentou um leve aumento nos participantes que tomaram o suplemento. 

Embora tradicionalmente visto como pró-inflamatório, pesquisas recentes sugerem que essa molécula pode ter papel regulador na atividade imunológica e limitar os danos aos tecidos durante a inflamação crônica.

Porém, os pesquisadores alertam que os efeitos clínicos desse achado ainda não estão claros e precisam de investigações adicionais .



Atenção em relação ao estado inflamatório do organismo 

A inflamação é uma resposta natural do organismo para combater infecções e reparar danos. Em curtos períodos, ela atua como proteção, entretanto com o avanço da idade, a inflamação tende a permanecer em níveis baixos mesmo sem infecções para combater.

Esse estado "sempre ativo", também conhecido como inflammaging, vai desgastando vasos sanguíneos, músculos, ossos e até o cérebro. Com o tempo, esse processo silencioso aumenta a vulnerabilidade a doenças cardíacas, perda de memória, fragilidade e outros problemas comuns do envelhecimento.

Os resultados do estudo norte-americano sugerem que o extrato de cacau pode reduzir esse processo, ajudando o organismo a envelhecer de forma mais saudável. Assim, ao retardar o aumento da inflamação, o extrato de cacau pode ajudar o corpo a envelhecer mais suavemente.

O efeito foi mais evidente entre os participantes com inflamação inicial mais elevada, indicando que pessoas em maior risco podem se beneficiar. Os pesquisadores estimam que a redução observada poderia representar uma queda de 7% a 23% no risco de doenças cardiovasculares.

Evolução nos estudos com o chocolate

Estudos relacionando chocolate e saúde já existem há bastante tempo, mas a maioria deles acompanhou os voluntários por períodos curtos, ou seja, algumas semanas ou poucos meses. 

Isso dificultou avaliar se os compostos do cacau poderiam realmente trazer benefícios duradouros. Desta vez, os pesquisadores observaram os participantes por dois anos consecutivos, permitindo uma análise mais precisa das mudanças graduais que ocorrem com o tempo.

Além disso, a pesquisa integrou o estudo COSMOS, que envolveu mais de 21 mil idosos para investigar os impactos do extrato de cacau e de multivitamínicos na saúde ao longo do tempo. 

Este subestudo se concentrou na inflamação e incluiu apenas pessoas que permaneceram livres de doenças graves durante o período analisado, garantindo que os resultados não fossem distorcidos por eventos de saúde inesperados.

Vale destacar que consumir chocolate não equivale a ingerir um suplemento de flavonoides .

A maioria dos chocolates disponíveis no mercado passa por processos que reduzem grande parte da presença desses compostos benéficos. E ainda existe a adição de açúcar e gordura, fatores que podem anular possíveis efeitos positivos à saúde. 

No estudo COSMOS, as cápsulas garantem uma dose de 500 mg de flavonoides de cacau por dia, quantidade difícil de alcançar apenas comendo chocolate.

Apesar dos benefícios observados, os pesquisadores ressaltam que ainda são necessárias outras pesquisas para determinar se a redução da PCR-US realmente se reflete em ganhos concretos de longevidade, função cognitiva ou mobilidade.

Uma pesquisa com futuro promissor 

As descobertas se somam às evidências crescentes de que combater a inflamação pode ser uma forma eficaz de promover um envelhecimento mais saudável. Ainda assim, isso não significa que o extrato de cacau seja uma solução mágica.

O estudo mostra benefícios para um marcador-chave da inflamação, mas não prova que as pessoas viverão mais ou evitarão doenças por causa disso.

Como os participantes acompanhados durante o estudo eram, em sua maioria, adultos brancos, saudáveis ​​e idosos, os resultados podem não se aplicar a todas as pessoas. 

Outro ponto é que apenas um extrato específico de cacau foi testado, e alguns dos sinais imunológicos medidos não apresentaram alterações claras. Por isso, novos estudos são necessários para validar os achados.

Ainda assim, os resultados são encorajadores e pode vir a ser um complemento benéfico somado a hábitos como atividade física, sono adequado e alimentação equilibrada.