Dia do Médico e os desafios da profissão no Brasil

União entre profissionais e participação em entidades médicas pode aliviar preocupante cenário atual da má formação em medicina

Por Dr. Antonio José Gonçalves, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM)

Antonio José Gonçalves presidente da Associação Paulista de Medicina (APM)
Foto: APM/Divulgação
Antonio José Gonçalves presidente da Associação Paulista de Medicina (APM)


Nunca a profissão médica esteve tão ameaçada como nos tempos atuais. Com a proliferação indiscriminada de novas escolas de medicina , o número de médicos que vão se formar é absurdo. A projeção é de que chegaremos ao número de mais de 1 milhão de médicos no Brasil em 2035 , e a qualidade da formação é muito ruim, devido à falta de docentes, hospitais, supervisão adequada e fiscalização do Ministério da Educação na qualidade dos programas oferecidos.

Além disso, estão sendo propostas mudanças que flexibilizam a obtenção do título de especialista, que, atualmente, é o único exame restante que realmente atesta a qualidade do médico , pois é feito pelos seus pares com rigor e competência, tendo uma taxa de reprovação por volta de 40 a 60%

Hoje, uma média de 45 mil médicos se formam anualmente e temos mais de 400 cursos de medicina no Brasil. Com isso, a quantidade de médicos a nível nacional ultrapassa a marca de 2,7 para cada mil habitantes, superando o número dos Estados Unidos (2,6), país que conta com apenas 184 escolas de Medicina, ou seja, menos da metade do que temos.

Isso é preocupante, pois esses números não significam que mais pessoas têm ou terão acesso a atendimento de qualidade. Pelo contrário: embora tenhamos mais profissionais, estes localizam-se nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, em busca de oportunidades, resultando na má distribuição de médicos pelo território e criando lacunas no atendimento à população em outros estados. A criação de uma carreira de estado para médicos, assim como a de juízes, poderia ser uma solução para essa má distribuição dos profissionais da saúde em diferentes regiões do País, proposta defendida pela Associação Paulista de Medicina (APM) e na Associação Médica Brasileira (AMB).

Entidades médicas

Assim sendo, as entidades médicas devem acolher os recém-formados, buscando minimizar os efeitos de sua má formação, protegendo a população e a nossa classe, e incentivar uma participação mais ativa e efetiva dos médicos em todo o nosso território. A presença das entidades a nível federal, nos governos federais, tanto no Senado como na Câmara dos Deputados e nos ministérios , é extremamente importante para defendermos nossas mais legítimas aspirações. E é isso que procuramos fazer na APM e na AMB.

Igualmente importante é nossa atuação junto ao legislativo, para que possamos aprovar as nossas mais justas reivindicações, como estabelecer um exame de proficiência para estudantes de medicina e a manutenção da concessão do título e consequente emissão do registro da qualificação de especialista nos moldes em que esse processo ocorre atualmente.

Por isso, é necessário que haja a união da classe médica em torno de um objetivo comum: a manutenção da qualidade do médico brasileiro e, consequentemente, a oferta de uma saúde de qualidade para a população. E nada melhor do que lembrarmos disso nesta data, 18 de outubro, Dia do Médico. Alguns podem achar que nada temos a celebrar, mas, na verdade, temos muito a fazer para evitar prejuízos maiores para nossa profissão.

Apesar de estarmos passando por uma situação crítica, podemos vencê-la com o aumento da representatividade nas nossas entidades médicas e com as sociedades de especialidade proporcionando cursos, congressos e até mesmo especializações de qualidade chanceladas pelas associações, particularmente pela AMB. E claro, com a iniciativa dos estudantes de medicina em aperfeiçoar e ampliar seus conhecimentos para se tornarem profissionais competentes.

Nós, médicos , temos a obrigação de estudarmos, de nos atualizarmos cada vez mais e de procurarmos, por meio das sociedades de especialidades, bons hospitais, boas residências, para garantir uma formação de excelência e poder entregar à população o atendimento que ela merece.

O Dia do Médico é uma data para reflexão. Há que se ter uma visão diferente, e não uma visão pessimista. Temos muitos problemas, e isso exige que nos unamos em entidades que nos fortaleçam, para que nossas demandas sejam ouvidas e atendidas. A filiação a entidades médicas como a APM aumenta a representatividade da nossa profissão e, por consequência, a nossa força política, fazendo com que, assim, consigamos manter a qualidade da medicina e da assistência prestada à sociedade.