Bem-Estar

enhanced by Google
 

Mal de Parkinson eleva risco de insônia

Doença deve se tornar mais frequente com o envelhecimento da população

Bruno Folli, iG São Paulo

Compartilhar:

Foto: Thinkstock/Getty Images Ampliar

Insônia à noite e excesso de sono de dia são problemas de quem tem Mal de Parkinson

É quase certo que o Mal de Parkinson vai causar, mais cedo ou mais tarde, dificuldade para dormir.

“De 60% a 83% dos pacientes têm insônia”, afirma Vanderci Borges, professora da Unifesp e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia.

A neurologista acaba de lançar o livro “Doença de Parkinson – Recomendações” (Ed. Omnifarma), em parceria com outros médicos. Ela explica que diversos fatores colaboram para prejudicar o sono do paciente, mas um dos principais está na característica mais marcante da doença.

“Os sintomas motores (tremores) podem se tornar mais frequentes à noite”, afirma a especialista. Mesmo quando consegue adormecer, a pessoa acaba acordando várias vezes. Isso acontece em pelo menos 74% dos casos e impede o paciente de alcançar os estágios mais profundos do sono.

Sem conseguir descansar da maneira devida, o risco de sonolência diurna é ainda maior. “Mas esse distúrbio do sono pode acontecer inclusive em pacientes sem insônia”, alerta Vanderci.

A sonolência diurna atinge 33% dos pacientes com Mal de Parkinson, sendo “que 1% a 4% deles têm também ataques abruptos de sono.” E o pior de tudo é que um terço destes pacientes sequer percebe que chegou a dormir.

A médica explica que as crises de sono tendem a ser mais frequentes especialmente quando o paciente está trocando de medicação. Por isso, sempre que houver qualquer ajuste na prescrição médica, é preciso atenção dobrada aos distúrbios do sono.

Tristeza profunda

Outro fator que pode agravar os sintomas de insônia é a depressão, problema comum em portadores da doença.

A idade avançada e as limitações impostas pelos tremores são dois motivos recorrentes para o paciente sucumbir à depressão. “E essa doença aumenta a dificuldade para dormir”, afirma a neurologista.

A situação é delicada devido aos tipos de medicamentos normalmente usados contra o Pakinson e a depressão. Há risco deles interagirem entre si, prejudicando a eficácia de ambos.

Por isso, os médicos recomendam aos familiares atenção a qualquer sinal de depressão, para que o tratamento seja iniciado o quanto antes. Ansiedade, falta de concentração, tristeza excessiva, falta de interesse e de motivação para as atividades cotidianas são alguns dos sintomas.

Primeiro sinal

Um estudo realizado por dois anos com 3.078 homens na Ásia demonstrou que a incidência de sonolência diurna excessiva aumenta em três vezes o risco de Mal de Parkinson.

“Suspeita-se que haja perda de neurônios. Além disso, há suspeita também de que o fórnix (região do cérebro) sofra uma degeneração maior em pacientes com sonolência diurna excessiva”, escreveu Vanderci em seu livro.

Em outro trabalho, publicado recentemente nos Estados Unidos, os cientistas descobriram haver relação entre um tipo de distúrbio do sono e o Mal de Parkinson. Pacientes que se mexem bruscamente durante o sono na juventude teriam mais chance de desenvolver a doença até 50 anos mais tarde.

A descoberta é tida como um indício importante de que a doença começaria mais cedo do que se imagina. E assim, no futuro, os pesquisadores poderiam desenvolver formas de diagnóstico e tratamento precoces.

Pernas inquietas

Apesar dos antidepressivos serem um recurso interessante em alguns casos de pacientes com insônia, eles devem ser evitados no caso da insônia causada ou agravada pela Síndrome das Pernas Inquietas.

Ainda não é certo se a síndrome realmente pode causar distúrbios do sono em pacientes com Mal de Parkinson, pois existem poucos estudos sobre o assunto. Mas é sabido que os antidepressivos, usados neste contexto, podem agravar os tremores e, como consequência, prejudicar o sono.

O Parkinson tem entre os principais fatores de risco a idade e, com o envelhecimento da população brasileira, é esperado que cada vez mais pessoas tenham de enfrentar a doença.

Ela costuma surgir a partir dos 45 anos e seu diagnóstico é clínico, baseado em sinais como lentidão de movimentos, tremores e rigidez muscular.

    Notícias Relacionadas


    Ver de novo