Roberta Nuñez

Novembro Azul também é sobre saúde emocional

Especialista alerta que mente e corpo caminham juntos, e que enfrentar o medo e os tabus é o primeiro passo para o autocuidado masculino.

Novembro azul
Foto: Canva
Novembro azul


Durante o Novembro Azul, as atenções se voltam para o câncer de próstata, mas há algo ainda pouco discutido: o impacto emocional do medo e dos tabus na saúde masculina. Segundo a psicanalista Andréa Ladislau, esse medo é construído ao longo de gerações e está enraizado na forma como os homens foram ensinados a lidar com suas emoções.

"O exame de próstata é necessário, mas desperta desconforto porque toca em símbolos profundos. Existe a associação entre vulnerabilidade e perda de poder, vergonha e insegurança quanto à virilidade. A ideia de que homem não sente, não chora e precisa ser sempre forte impede muitos de buscar ajuda”, explicou à coluna

A mente que adia o cuidado

A psicanalista lembra que a procrastinação também tem origem emocional. “Os homens criam mecanismos de defesa que racionalizam e negam qualquer fragilidade. É uma forma de evitar encarar o medo e o desconhecido. Essa resistência se transforma em descuido — adiar o médico, ignorar sintomas e fugir dos exames”, afirma.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre os homens brasileiros, com cerca de 71 mil novos casos anuais. A boa notícia é que, quando descoberto precocemente, as chances de cura chegam a 98%.

O diagnóstico e a reconstrução da identidade

Receber um diagnóstico de câncer de próstata pode ser devastador. Além das implicações físicas, há o peso simbólico — o medo da impotência, a sensação de perda da masculinidade e da autonomia.

"Procurar o médico é, na verdade, um ato de coragem e maturidade emocional. O tratamento exige que o homem reconstrua a autoestima, se reconecte com o próprio corpo e encontre novos significados para sua identidade. A psicanálise trabalha esse resgate do pertencimento e da autocompaixão, para que o paciente entenda que a vida continua”, destaca Andréa.

Quando o silêncio afasta o afeto

Para muitos, os efeitos do tratamento — como alterações na libido e na sexualidade — geram silêncio e vergonha. Andréa alerta que o isolamento prolongado pode piorar o sofrimento emocional.

"Se o homem precisar de um tempo para processar, tudo bem. Mas o isolamento não pode ser permanente. O apoio psicológico, inclusive para o casal, é essencial para ressignificar a intimidade, reconstruir o prazer e reforçar a cumplicidade”, orienta.

Mente e corpo: uma só prevenção

A psicanalista lembra que não existe saúde física sem equilíbrio emocional. “Se a mente não vai bem, o corpo responde. Muitas doenças nascem do acúmulo de emoções reprimidas, da dificuldade de se expressar e da cobrança constante por ser forte o tempo todo”, explica.

Por isso, ela reforça que o Novembro Azul precisa incluir a mente na prevenção: “A saúde emocional é o ponto de partida. Reconhecer medos, verbalizar sentimentos e buscar apoio é um exercício de coragem e o primeiro passo para uma vida mais longa e equilibrada.”

O medo da morte e a coragem de viver bem

O medo da morte ainda é um dos maiores tabus entre os homens, mas pode se transformar em motivação para o autocuidado.

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Foto: Divulgação
Novembro Azul também é sobre saúde emocional

"A cultura masculina valoriza a força e nega a fragilidade, mas esquecer que somos humanos é um erro. Se prevenir, fazer exames, manter hábitos saudáveis, cultivar hobbies, cuidar da mente e das relações é uma forma de celebrar a vida e não de temê-la”, conclui Andréa Ladislau .


* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG