Roberta Nuñez

Testosterona na infância pode afetar crescimento e fertilidade

Urologista pediátrico alerta que hormônio só deve ser usado em casos raros e com diagnóstico preciso

Uso de testosterona na infância pode afetar crescimento e fertilidade
Foto: I.A
Uso de testosterona na infância pode afetar crescimento e fertilidade

O uso de testosterona em crianças, sem indicação médica criteriosa, pode comprometer o crescimento, a fertilidade e o desenvolvimento genital, alerta o urologista pediátrico Dr. Ubirajara Barroso, chefe da Divisão de Cirurgia Urológica Reconstrutora e Urologia Pediátrica da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Segundo o especialista, hormônios não são inofensivos e devem ser prescritos apenas em situações muito específicas.

“Hormônios não são inofensivos. O uso indiscriminado pode interferir no crescimento natural e no desenvolvimento genital das crianças”, afirma o médico. Ele reforça que a testosterona só deve ser considerada em casos verdadeiros de micropênis, quando há confirmação diagnóstica e impacto psicológico relevante. “Níveis baixos de testosterona durante a infância são normais”, explica.

Riscos do uso inadequado

De acordo com o especialista, a administração de testosterona sem indicação pode provocar consequências graves e duradouras. Entre os principais riscos estão o bloqueio da produção hormonal natural e do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, impacto no crescimento e na estatura final, aceleração da maturação óssea e alterações comportamentais e metabólicas. “São consequências que podem acompanhar o paciente por toda a vida”, alerta.

Desenvolvimento costuma ser natural

Apesar da preocupação crescente entre pais e responsáveis, o Dr. Barroso esclarece que casos reais de micropênis são raros. “O pênis costuma se desenvolver naturalmente à medida que a criança cresce e entra na puberdade. Em meninos com ‘pênis embutido’, pode ser necessária cirurgia, mas isso não tem relação com deficiência hormonal”, explica.

Ele ressalta ainda que crianças entre 9 e 13 anos costumam apresentar dúvidas sobre o tamanho peniano justamente por estarem no início da puberdade. “Nessa fase, não existe indicação rotineira de uso de hormônios. O desenvolvimento genital é gradual”, afirma.

Como funciona o desenvolvimento hormonal infantil

O urologista explica que o testículo apresenta dois períodos principais de atividade hormonal. O primeiro ocorre na chamada mini-puberdade, do nascimento até cerca de três meses de vida, quando há elevação natural da testosterona, essencial para o desenvolvimento inicial dos genitais masculinos. Depois disso, existe um período de repouso hormonal, dos três meses até o início da puberdade, com níveis naturalmente baixos do hormônio.

“Esse padrão é normal e esperado. O crescimento mais evidente do pênis ocorre apenas após o início da puberdade, geralmente entre 8 e 14 anos”, reforça o médico. Segundo ele, compreender essa fisiologia é fundamental para evitar o uso desnecessário e arriscado de testosterona em crianças.

Atenção à exposição acidental

O especialista também chama atenção para um risco pouco discutido: a contaminação indireta por testosterona em gel utilizada por adultos. “O hormônio pode ser absorvido pela pele da criança e causar virilização precoce, com aumento peniano, aparecimento de pelos, odor axilar, acne e até aumento irreversível do clitóris em meninas”, alerta.

A orientação é lavar bem as mãos após a aplicação do gel, cobrir a área tratada e evitar contato pele a pele com crianças. “São cuidados simples, mas essenciais para proteger o desenvolvimento infantil”, conclui.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG