Fiocruz segue sem respostas sobre suposto segundo caso de Deltacron

O ministro da Saúde Marcelo Queiroga informou há duas semanas da possível segunda identificação de uma infecção marcada pela junção da Delta com Ômicron

Ministério da Saúde ainda não divulgou resultado de segundo possível caso de Deltacron no Braisl
Foto: Marcelo Casal Jr/ Agência Brasil
Ministério da Saúde ainda não divulgou resultado de segundo possível caso de Deltacron no Braisl

Mais de duas semanas após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmar que o Brasil poderia ter registrado os primeiros casos da Deltacron — a combinação da Delta e da Ômicron — ainda não há um resultado conclusivo sobre a chegada no país da nova variante da covid-19 . É a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) quem conduz os procedimentos laboratoriais para confirmar se a infecção é, de fato, uma recombinação genética das duas cepas ou uma coinfecção das duas variantes anteriores.

Integrantes do ministério afirmaram ao GLOBO que o laboratório de referência ainda está isolando o vírus para realizar o sequenciamento genômico, procedimento laboratorial para confirmar o diagnóstico.

O virologista e epidemiologista do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), Anderson F. Brito, explica que o que se conhece por Deltacron são três recombinações com características genéticas diferentes, recentemente designadas:

“Detectar recombinação é mais complexo do que atribuir um genoma a uma das linhagens que já foram propostas de antemão. O sequenciamento genético de uma amostra gera fragmentos, que, uma vez montados, levam a geração de um genoma. Ao sequenciar um caso de coinfecção, em que temos ali dois vírus, os fragmentos terão características de um vírus e de outro. Quando uma pessoa é infectada por um vírus híbrido, recombinante de outros dois, também teremos fragmentos que, ora batem com um vírus, ora com o outro.”

Cabe ao ministério e à secretária de Saúde divulgar o resultado, diz a Fiocruz. Segundo interlocutores, não há prazo para conclusão da análise. 

“Quando os vírus são muito parecidos, identificar se é coinfecção ou recombinante é tarefa difícil. Tudo dependerá do quão desafiador o caso é e se temos ou não temos outros já decifrados antes, que podem servir de molde para comparações”, detalha o pesquisador, integrante do Pango Network, iniciativa de voluntários que ajudam a classificar novas linhagens de coronavírus.


Questionadas pela reportagem por e-mail e por telefone desde a semana passada, a pasta, a Fiocruz e a Secretaria de Saúde do Estado do Pará (SES-PA) informam não ter atualizações sobre o resultado.

"O caso suspeito identificado no Pará permanece em investigação e não houve nenhum registro de novo caso", diz a nota do ministério.

Como antecipado pelo GLOBO, o ministério descartou a primeira infecção em potencial por Deltacron. Testes da Fiocruz demonstraram que o paciente havia sido contaminado ao mesmo tempo pela Delta e pela Ômicron, duas variantes de preocupação. O resultado saiu em 18 de fevereiro.

Três dias antes, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, havia confirmado a detecção de dois casos de Deltacron no Brasil. Documento obtido pela reportagem indicava, na data, que o resultado dos sequenciamentos genéticos feitos pela Fiocruz para determinar se os casos até então sob suspeita ainda precisavam ser confirmados por meio de outros procedimentos laboratoriais.

Em seguida, o cardiologista recuou e afirmou que os casos ainda estavam em análise:

“O caso está em análise. Havia recebido a informação que os casos estariam confirmados, mas a área técnica posteriormente me informou que a confirmação definitiva sairia somente na sexta. Todavia, conforme falei na entrevista pela (terça de) manhã, mesmo que haja a confirmação, não alterará o cenário epidemiológico vigente”, afirmou Queiroga ao GLOBO na ocasião.

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