
O jovem Brock Meister, de 22 anos, mora no estado americano de Indiana e passou por situações muito complicadas nos últimos tempos. De acordo com o portal Daily Mail, ele se curou de um câncer cerebral e, em janeiro deste ano, sobreviveu a uma rara decapitação interna, capaz de matar ou causar sérias paralisias.
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Tudo aconteceu quando Meister e seu primo voltavam para a casa após jantar com amigos. O carro dos dois bateu em uma placa de gelo e tombou para o lado do banco do passageiro, fazendo com que o jovem sofresse uma decapitação interna – ou seja, a separação do crânio e da espinha – ao chocar sua cabeça com a janela do veículo.
Mesmo sem saber exatamente a gravidade da lesão, a equipe de resgate precisou tomar muito cuidado para garantir que a cabeça do americano não se deslocasse nem mesmo um milímetro no caminho até o Hospital Memorial de South Bend, já que qualquer movimento poderia colocar a vida do ferido em risco.
Meister foi atendido pelo neurocirurgião Kashif Shaikh, que iniciou o atendimento às duas da manhã, solicitando uma radiografia para analisar a contusão. Foi quando o médico descobriu a luxação atlanto-occipital no paciente, o que significa que o crânio e a espinha do homem estavam completamente separados.
“Estava observando o exame em casa e pensei em como é raro ver este tipo de machucado em uma tomografia, porque a maioria das pessoas que sofre este tipo de lesão morre ou no momento do acidente ou no transporte até o hospital”, explicou Shaikh ao portal britânico.
O caso era cirúrgico e demandou muitas escolhas desafiadoras por parte da equipe médica. A principal delas era definir se o paciente deveria ou não ser transferido para um hospital maior, em Indianápolis, ou se continuaria no centro médico local.
“Poucas horas após chegar ao hospital, ele desenvolveu um grande inchaço no pescoço e começou a perder uma das vias aéreas, então precisamos entubá-lo”, contou o médico. “Era muito perigoso transferi-lo porque, se sua via aérea fechasse durante o trajeto, ele morreria. Assim, o pessoal teve que dirigir até Indianápolis para pegar todo o equipamento necessário e nós começamos a cirurgia ao meio-dia”.
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Detalhes da cirurgia do americano

Shaikh chamou outro neurocirurgião para atuar na operação, e assim que Neal Patel chegou ao centro cirúrgico, todos os procedimentos foram iniciados. “O primeiro passo é fazer o alinhamento anatômico. Cuidadosamente, nós tivemos que trabalhar para realinhar sua cabeça com o seu crânio”, detalhou o médico responsável pelo caso.
“Patel segurava o corpo de Meister enquanto eu segurava sua cabeça e olhava no raio-x para lentamente fazer os ajustes. A cirurgia demorou cerca de cinco horas, mas creio que demorou mais para colocá-lo no alinhamento do que para efetivamente realizar a cirurgia”.
O próximo passo foi realizar uma incisão a partir da metade do crânio do paciente até a metade de seu pescoço, assim sua espinha cervical ficaria exposta para os próximos procedimentos. Em seguida, uma placa craniana e parafusos espinhais foram posicionados acima e abaixo da fratura, que, assim que realinhada, recebeu hastes de titânio dos dois lados.
Porque a operação precisou fundir a articulação responsável pelos movimentos de olhar para cima e para baixo, ela foi muito bem-sucedida e a garantia de que o paciente não ficará paralisado.
Etapas da recuperação

Assim que saiu da cirurgia, Meister não conseguia falar por conta do tubo de traqueostomia em seu pescoço, então, ele utilizava seus polegares e desenhava em uma pequena lousa para conseguir se comunicar com a equipe do hospital e sua família.
Aos poucos, ele foi designado a terapias físicas e ocupacionais para reaprender a fazer atividades básicas, como se sentar, andar, comer e movimentar sua cabeça para os lados.
Ele apresentou progressos surpreendentes até mesmo para os médicos e foi liberado do hospital em fevereiro, um mês após o acidente , e continuou a usar um colar cervical até o final de maio.
Contudo, o paciente também passou por muitos momentos desafiadores e de dor durante sua recuperação. “Ele sofreu com algumas dores neuropáticas – porque a coluna espinhal ficou esticada – e sentia fraqueza em seu braço direito, mas agora ele já recuperou boa parte de suas funções motoras normais”, o hospital disse.
Shaikh está confiante de que Meister poderá viver uma vida relativamente normal daqui para a frente, por mais que ainda tenha um longo caminho na reabilitação para atingir o seu objetivo.
Estatísticas sobre casos de decapitação interna

Agora Meister faz parte de um grupo de apenas 1% de pessoas que ainda é capaz de andar após uma séria lesão, e tudo porque sua cabeça não foi deslocada nos primeiros momentos após o acidente.
Segundo Shaikh, o ferido teve muita sorte quando seu primo decidiu não movê-lo e esperar para a chegada dos paramédicos para que algo fosse feito. “Um movimento errado e ele estaria tetraplégico, e também, os paramédicos foram incríveis ao conseguir removê-lo do carro sem mexer sua cabeça nem mesmo um milímetro para o lado errado”, explicou.
Em situações como a do morador de Indiana, o mais comum é a morte imediata, que, segundo um estudo de 2009 publicado no Jornal de Pesquisa, acontece com 70% das vítima. Enquanto isso, 15% dos lesionados conseguem chegar ao pronto socorro, mas eventualmente morre no hospital.
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Dentro da taxa dos 15% que sobrevivem a uma decapitação interna, há um amplo espectro de possibilidades e gravidades. “Existem diferentes formas de sobrevivência. Mesmo quando você é capaz de realinhar tudo, algumas pessoas nunca saem do hospital ou voltam para casa em um estado de grande dependência de terceiros para atividades básicas”, descreveu o neurocirurgião.