Uma das práticas mais comuns entre pais e cuidadores é usar a comida como uma forma de recompensa ou consolo para as crianças . Frases como “se você se comportar, ganha sorvete” ou “não fique triste, aqui está um chocolate ” parecem inofensivas e até eficazes em situações pontuais.
No entanto, esse hábito pode ter impactos negativos para o desenvolvimento emocional e para a relação das crianças com a alimentação a longo prazo .
Quais os riscos desse hábito?
Ao oferecer comida como uma forma de consolo ou prêmio , a criança aprende a associar emoções — como tristeza, frustração ou ansiedade — ao ato de comer. Isso pode levá-la a buscar alimentos como forma de aliviar sentimentos desconfortáveis , desenvolvendo o que chamamos de comer emocional.
Esse padrão, criado na infância, pode persistir na vida adulta, contribuindo para comportamentos alimentares desordenados , como compulsão alimentar , e aumentando o risco de obesidade .
Além de interferir na regulação emocional , a prática de recompensar com comida pode confundir a percepção de fome e saciedade . Quando o alimento é usado como prêmio ou forma de consolo, a criança pode não estar com fome, mas come para agradar ou para receber a recompensa.
Isso desvia o foco da alimentação como uma necessidade fisiológica e a transforma em uma resposta emocional , o que pode levar a hábitos alimentares desequilibrados ao longo da vida.
É natural que pais e cuidadores queiram incentivar bons comportamentos e confortar as crianças em momentos difíceis . No entanto, é possível fazer isso de forma saudável e eficaz, sem envolver comida.
O que fazer?
Recompensas emocionais , como elogios, tempo de qualidade ou brincadeiras, podem ser tão eficazes quanto (ou até mais) do que oferecer um doce .
Dedicar atenção, contar histórias ou realizar atividades em família são formas de mostrar à criança que ela é valorizada e amada , sem criar associações negativas com a alimentação.
Outro ponto importante é a educação emocional . Ensinar as crianças a identificarem e expressar suas emoções de maneira saudável desde cedo é essencial para o seu desenvolvimento.
Em vez de oferecer um doce para aliviar a tristeza, que tal ajudá-las a entender e verbalizar o que estão sentindo ? Ao longo do tempo, isso as ajudará a lidar melhor com suas emoções sem recorrer ao comer emocional.
Para que essa mudança aconteça, é importante que os próprios pais reflitam sobre a forma como lidam com suas emoções e com a alimentação. Muitos adultos também recorrem à comida como forma de compensação emocional, seja após um dia difícil de trabalho ou para lidar com o estresse cotidiano.
As crianças aprendem muito observando o comportamento dos pais , e, por isso, é fundamental que os adultos também busquem uma relação mais equilibrada com a comida e com as próprias emoções. Em casa, criar um ambiente onde a alimentação é vista como algo positivo, sem estar associada a prêmios ou castigos, faz toda a diferença no desenvolvimento da criança .
Ao entender desde cedo que os alimentos servem para nutrir o corpo e proporcionar prazer, e não para lidar com sentimentos, as crianças terão mais chances de desenvolver uma relação saudável tanto com a comida quanto com suas próprias emoções .