Redes sociais comprometeram vacinação da gripe H1N1

Divulgação de notícias equivocadas gerou insegurança na população, diz Ministério da Saúde

Lívia Machado, iG São Paulo

Compartilhar:

Foto: AE Ampliar

Vacinação contra a gripe suína vai até o dia 7 de maio

Informações incorretas sobre saúde circulam nas redes e comunidades virtuais diariamente. Ao digitar as palavras “gripe suína” na área de busca do Twitter, tem-se, logo nas primeiras páginas de resultados, ao menos 20 postagens negativas sobre a vacinação contra a doença. No site de relacionamentos Orkut, há um número expressivo de comunidades que atraem supostos viciados nos mais variados medicamentos.

No twitter, uma mensagem questiona a veracidade da doença: “ Hey, followers, talk to me: Vocês acreditam nessa pandemia ou acham que a gripe H1N1 é uma farsa?” Outro post bastante comum relata os possíveis efeitos efeitos colaterais pós-vacinação: “Meu, essa vacina da "Gripe Suina" era pra evitar a gripe, certo? Algém me responde, cadê a minha garganta e meu nariz?”

No Orkut, a comunidade "Sou viciado em TYLENOL" indica o uso desmedido do remédio: "Para as pessoas que não conseguem viver sem este complemento, basta uma dorzinha de cabeça ja estão tomando Tylenol".  A comunidade “Viciadas em sibutramina" também minimiza os efeitos de um medicamento: “Esta comunidade é pra quem não consegue ficar sem a sibutramina, um poderoso remédio que modera o apetite e ajuda a emagrecer rapidinho!”

Sem controle do que está sendo divulgado, as notícias ou comentários começam a ter forte influência em temas relacionados à saúde pública. No caso da campanha contra a gripe H1N1, segundo avaliação do Ministério da Saúde, essas ferramentas colaboraram para elevar a insegurança da população e tiveram uma grande parcela de culpa na baixa adesão inicial que a vacinação registrou.

Do total esperado pelas autoridades, 78% do público alvo (profissionais de saúde, os povos indígenas, as gestantes, os adultos entre 20 e 39 anos e as crianças entre seis meses e dois anos) ainda não se imunizou contra o vírus H1N1. Até agora, foram vacinados contra a gripe suína 12.971 pessoas, desde 8 de março, quando a campanha começou. O número representa 22,1% do público-alvo estimado para as três primeiras etapas, que é de 58.695.070 pessoas.

Na opinião do chefe da Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Saúde, Marcier Trombiere, a falta de informação correta e o pânico gerado em cima da doença foram dois fatores que comprometeram a expectativa do governo. “De fato, a exemplo do que ocorreu na campanha de vacinação da rubéola, houve uma proliferação exacerbada de boatos na internet, de dados equivocados e até fantasiosos sobre a doença. Isso certamente causou insegurança aos que leram tais mensagens.”

Para reverter o quadro, o Ministério intensificou a campanha nas redes sociais, buscando contrapor a falsa informação e orientar a população sobre a vacina. O órgão revela que já fez mais de 52 mil intervenções em ferramentas como Facebook, Twitter e Orkut. Os comentários postados por leitores, segundo Trombiere, também são respondidos.

No Twitter, a equipe de Redes Sociais do Ministério da Saúde posta diariamente pequenas notinhas sobre a vacinação e outras campanhas. Para seguir o órgão, o endereço é @minsaude. O site de relacionamentos Facebook também possui um perfil oficial (Ministério da Saúde). Além disso, no Youtube (http://www.youtube.com/msgripesuina) há uma página específica sobre gripe suína. Nela, é possível assistir a diversos vídeos explicativos sobre a doença e a campanha de vacinação.

A proposta do governo é ajudar a propagar informações corretas sobre a doença e usar a internet como reforço das campanhas que já estão sendo feitas nas ruas, revistas e na televisão. “A internet chegou a atrapalhar a estratégia de vacinação no início, mas hoje se tornou a indispensável para apoiá-la e desmistificá-la”.

Twitter chega aos consultórios

Informações divulgadas em redes sociais não comprometem apenas campanhas do governo. Elas chegam aos consultórios diariamente. Catulo Cesar Barros, psicanalista do Hospital Nove de Junho de São Paulo, revela que tenta usar a internet como uma aliada. Segundo o especialista, o pânico e os receios que essas notícias provocam na população podem prejudicar a eficácia de um tratamento. “A paranóia das pessoas é tão grande que, dependendo do que foi lindo nas redes, ou uma informação divulgada em comunidades, é capaz de convencê-las a não usar um medicamento prescrito pelo médico.”

Para o psiquiatra, a sociedade busca informações negativas para alimentar uma paranóia já existente. No caso da vacina, por exemplo, quem tem dúvidas sobre os efeitos colaterais do medicamento tende a procurar informações pessimistas, que comprovem a idéia negativa que já estava em mente. “O paranóico, por definição, se sente perseguido, ameaçado. O que ele quer saber são os efeitos ruins do medicamento, não os pontos favoráveis.”

O baixo grau de instrução, o acesso a informação sem filtros e a venda exacerbada de medicamentos sem prescrição também comprometem a qualidade da informação. “As redes banalizam conteúdos sobre saúde. Não há um culpado único, é uma soma de fatores”, opina.

Para amenizar os danos e tentar converter a lógica pessimista, Catulo propõe a seus pacientes que pesquisem na internet sobre o tratamento ou medicamento sugerido. Entretanto, o especialista procura indicar sites confiáveis a seus pacientes. “A consulta inicial deveria ser feita com um médico, ele é o “Google” inicial. Mas as pessoas consultam as redes primeiramente e depois levam os problemas para os especialistas. Sabendo buscar informações sobre saúde, a internet pode ser uma grande aliada.”

Importância da vacinação

O critério para a escolha da população alvo das doses gratuitas está baseado na primeira onda de contágio da nova gripe, que chegou ao Brasil em maio do ano passado e fez quase 30 mil vítimas. Por ser um vírus que nunca antes havia circulado no mundo, foi preciso avaliar o perfil de incidência da primeira epidemia, para então definir o grupo a ser protegido pela imunização nacional e sem custos.

A infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Regina Succi, afirma que o objetivo da vacina contra a gripe suína não é impedir o contágio – o que seria muito difícil já que a transmissão da doença é muito fácil – e sim evitar as complicações severas após a contaminação. Os especialistas lembram que apesar da vacina ser preferencialmente oferecida para uma parcela da população, a dose não é contraindicada para outras faixas etárias. A vacina para pessoas entre 3 e 19 anos, por exemplo, pode ser oferecida em clínicas particulares.

Gestantes, crianças de 6 meses a menores de 2 anos, jovens de 20 a 29 anos e pessoas portadoras de doenças crônicas que ainda não se vacinaram contra a gripe H1N1 poderão ir aos postos de vacinação até o dia 7 de maio. Para mais informações, ligue para a secretaria da saúde no telefone 156 ou consulte os locais de vacinação no site do Ministério da Saúde.

    Notícias Relacionadas


    Nenhum comentário. Seja o primeiro.


    Antes de escrever seu comentário, lembre-se: o iG não publica comentários ofensivos, obscenos, que vão contra a lei, que não tenham o remetente identificado ou que não tenham relação com o conteúdo comentado. Dê sua opinião com responsabilidade!




    *Campos obrigatórios

    "Seu comentário passará por moderação antes de ser publicado"

    Ver de novo