Dois novos pacientes foram a segunda e a terceira pessoa a receberem corações de porcos geneticamente modificados em procedimentos considerados bem-sucedidos pelos pesquisadores da Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos). Os cientistas afirmam ter sido um importante passo na busca por alternativas frente à falta de órgãos para transplante no país e no mundo. Antes da cirurgia, os pacientes, de 72 e 64 anos, tiveram quadros de morte encefálica declarados — quando o cérebro deixa de funcionar, mas os demais órgãos do corpo seguem ativos —, o que facilitou a adesão ao experimento.
Conhecidos como xenotransplantes, os transplantes de órgãos de animais para humanos têm avançado na medicina, com o primeiro procedimento com um coração tendo sido realizado em janeiro deste ano, também nos EUA. O paciente, Steve Bennet, de 57 anos, morreu dois meses depois . Recentemente, os pesquisadores da Universidade de Maryland identificaram que o óbito foi decorrente de um caso de insuficiência cardíaca, e não de rejeição ao órgão. Mesmo não tendo resistido, o caso de Bennet foi considerado um sucesso. Para comparação, a primeira pessoa a receber um coração humano, na modalidade de transplante que conhecemos hoje, viveu apenas 18 dias após a operação, em 1967.
Os novos xenotransplantes foram conduzidos em Nova York nos dias 16 de junho e 6 de julho, e divulgados pelos pesquisadores nesta semana. Os órgãos foram monitorados durante três dias e não houve sinais de rejeição. Além disso, os corações passaram a funcionar de forma normal apenas com medicamentos comumente utilizados após transplantes, sem necessidade de suporte mecânico adicional.
Os cientistas explicam que foram adotados protocolos rígidos para evitar contaminação por zoonoses, doenças prevalentes em animais. Os órgãos foram desenvolvidos em porcos criados com dez modificações genéticas para evitar a rejeição e crescimentos anormais e garantir que eles produzissem proteínas que regulam importantes processos biológicos no corpo humano.
De modo diferente do primeiro procedimento realizado em janeiro — quando, além das alterações nos genes, foi utilizada uma droga experimental para que o corpo não rejeitasse o órgão —, dessa vez não foram administrados outros medicamentos ou intervenção de aparelhos.
“Nosso objetivo é integrar as práticas usadas em um transplante cardíaco típico e cotidiano, mas com um órgão não humano que funcionará normalmente sem ajuda adicional de dispositivos ou medicamentos não testados”, explica o diretor cirúrgico de transplante cardíaco do Instituto de Transplante da NYU, Nader Moazami, que liderou os procedimentos.
Os pesquisadores de Nova York também foram os responsáveis pela primeira vez em que um órgão geneticamente modificado de um animal foi transplantado para um humano, em setembro do ano passado. Na época, o rim de um porco foi colocado numa paciente com disfunção renal, que também havia passado por uma morte cerebral, e o procedimento foi considerado bem-sucedido.
Três meses depois, em janeiro deste ano, o segundo transplante com um rim de porco foi divulgado por médicos da Universidade do Alabama (UAB). A operação foi conduzida poucos dias depois da primeira, também nos EUA e em paciente de 57 anos com morte cerebral. O procedimento envolveu a troca de ambos os rins, que funcionaram no corpo humano.
"Os rins transplantados filtraram sangue, produziram urina e, o mais importante, não foram imediatamente rejeitados", disse a UAB em comunicado na época.
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