Começou com um desânimo, uma insegurança. Sidinei Setti já não queria mais fazer as coisas sozinho, nem mesmo ir ao banco ou supermercado. A família acreditou que ele andava deprimido porque havia parado de trabalhar. Mas, após ele começar a repetir histórias e assuntos, veio o diagnóstico: mal de Alzheimer, problema cujo Dia Mundial de Conscientização é celebrado nesta quarta-feira (21).
O Alzheimer é uma doença degenerativa que causa a perda progressiva de células neurais por conta de alterações bioquímicas de proteínas chamadas beta-amilóides, que formam placas no cérebro, bloqueando a sinalização entre os neurônios.
A filha de Setti, Wania Setti, explica que o pai iniciou um tratamento, mas não o seguia direito. “Era meio ‘esquentadão’, ficava muito nervoso quando alguém o contrariava. Não queria fazer os exercícios da terapia, fugia das conversas... A doença avançou muito rápido”. Ao todo, entre o diagnóstico e a morte do aposentado, aos 76 anos, foram cinco anos.
A perda de memória, característica mais conhecida da doença, só apareceu no final. A família precisou coloca-lo em uma clínica especializada, e no segundo dia em que Wania foi visita-lo, já não foi mais reconhecida. “Ele passou por mim e meu marido como se nem conhecesse. Percebi que ele só respondia ao carinho que dávamos a ele, mas já não lembrava mais quem eu era.”
Segundo Dr. Ivan Okamoto, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, a perda de memória não é qualquer esquecimento, mas algo que afeta de fato a vida da pessoa. “Além disso, também há alterações comportamentais, mudanças no humor e apetite e dificuldade em realizar tarefas que antes eram normais.”
A neurologista Ana Luisa Rosas, diretora científica da regional de São Paulo da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), explica que, muitas vezes, os parentes e amigos confundem os sinais como características normais da velhice.
Tratamento
O mal de Alzheimer não tem cura, mas o tratamento da doença pode frear o avanço dos sintomas. “Há alguns medicamentos que podem ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes e o cotidiano das famílias”, completa Dra. Ana.
Apesar do próprio pai não ter tido um resultado positivo com o tratamento, já que ele não o seguia corretamente, Wania acredita que ter um acompanhamento com especialistas é essencial. A técnica de enfermagem, de 53 anos, também acompanhou a doença com a avó do marido, Odete Figueiredo, e o irmão gêmeo de seu pai, Artur Setti. “A avó do meu marido começou a ser repetitiva e só falava coisas do passado. Contava histórias em detalhes, mas só do passado. Se alguém perguntava do presente, ela não respondia.”
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Assim como Sidinei Setti, Odete passou a ficar agressiva quando era contrariada pela família ou precisava fazer alguma coisa que não queria. Passou a desconfiar das pessoas, mudou de comportamento, mas não passou por tratamento. Já Artur Setti começou a tomar os medicamentos logo no início da doença. Atualmente, também tem acompanhamento com psicólogo e frequenta uma creche onde realiza atividades que gosta muito. “Algumas pessoas não aceitam colocar um familiar em uma creche, mas para a gente está sendo muito bom”, conta Wania.
Diagnóstico correto
Tanto Dr. Ivan Okamoto quando a Dra. Ana afirmam que muitos familiares e até profissionais acabam confundindo o Alzheimer com outros tipos de demência por ser a mais comum. É essencial fazer uma avaliação mais profunda do paciente para ter certeza do problema, já que algumas medicações indicadas para o mal de Alzheimer, por exemplo, podem até ser ruins para pacientes que sofrem com outras demências.
A vascular, por exemplo, pode ser diagnosticada com exames de imagens como ressonância e apresenta alterações de comportamento e variabilidade de humor. No Brasil, segundo o neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, é comum por conta do grande número de pessoas com problemas cardíacos. Já a demência com corpos de Lewy pode causar rigidez da musculatura, lentidão nos movimentos e alucinações.
O paciente com demência pode sofrer também com o parkinsonismo, que não é igual à doença de Parkinson, mas pode ser causada por ela. Há presença de tremores, rigidez, dificuldade para realizar movimentos e instabilidade postural, além de alterações comportamentais.
Há também a demência frontal, que atinge diferentes regiões do cérebro e costuma ocorrer em pessoas mais jovens, e as demências reversíveis que podem ser causadas por quadros depressivos, alterações da tiroide, déficit de vitaminas B12, uso de medicações fortes e até alcoolismo.
Alzheimer: e agora?
A família ou pessoa que suspeita estar passando pela doença de Alzheimer pode procurar um neurologista, psiquiatra, geriatra ou até um clínico geral. Dra. Ana afirma que todos que convivem com o paciente devem estar preparados para “promover a redistribuição de tarefas e responsabilidades, além de incluir no seu dia a dia tempo para prestar cuidados exclusivos ao doente”. Além disso, atenção, paciência, carinho, afeto e conhecimento são essenciais. Wania concorda.
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“A primeira coisa é amor e carinho. Porque é uma doença que a gente não pode ‘bater de frente’. E o carinho tem que ser dividido por toda a família. Se for necessário um cuidador, não pode ser um comum, tem que ser alguém especializado. É primordial também se conscientizar sobre o Alzheimer, buscar ajuda e conhecimento”, completa Wania.