Após escândalo da Operação Carne Fraca, população evita consumo de carne com medo de câncer
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Após escândalo da Operação Carne Fraca, população evita consumo de carne com medo de câncer

Na última sexta-feira (17), um escândalo envolveu os maiores frigorífico s do Brasil, com a confirmação pela Polícia Federal (PF) de que, pelo menos uma, das empresas investigadas na Operação Carne Fraca oferecia carne vencida e disfarçava o sabor com ácidos que seriam cancerígenos. Desde então, a maneira de consumir carne do brasileiro não foi mais a mesma.

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 “A gente não consegue mais confiar e fica sem saber se o que estamos comendo é realmente aquilo que está sendo vendido. Depois da notícia passei a olhar a cor e o cheiro das carnes para não ser enganado”, afirmou o auxiliar de enfermagem, Danilo Correa.

Com medo de problemas mais graves, como o risco do câncer , conforme foi alertado pela PF quando informou sobre a fraude, há quem tenha sido ainda mais radical. “Até essa história se resolver, vou evitar ao máximo o consumo de carne. Vou substituir por legumes, ovos e peixes por enquanto”, contou a esteticista Valerya Nanci de Oliveira.

Antes de tomar providências mais sérias na alimentação, é preciso entender o caso. Na operação, foi revelado o uso de ácidos para mascarar carnes que já estavam se deteriorando, para serem vendidas como frescas. Conforme consta em relatos fiscais, estava sendo aplicado nos produtos o ácido ascórbico , conhecido também como vitamina C, e também o ácido sórbico , citado na conversa gravada de uma das empresas investigadas.

Substâncias não são capazes de causar câncer

De acordo com o nutrólogo Rodrigo Navarro, a informação dada pela PF foi equivocada. “A população não precisa se preocupar. A utilização dos ácidos é o menor dos problemas nesse caso”, tranquiliza o médico. Além de pontuar que usar a vitamina C é uma pratica muito comum, ele afirma que as substâncias não causam câncer.

“O ácido ascórbico é um conservante do bem. Ele serve para que a aparência do produto pareça mais fresca, no caso da carne, que com o tempo vai ficando com a coloração marrom, volte a ficar mais vermelha, e funciona como antioxidante”, explicou Navarro. Já o ácido sórbico tem também efeito estético e não deixa que as bactérias se proliferem. “Funciona como um microbicida, evitando contaminações e também mantem a boa aparência do alimento.”

O nutrólogo ainda assegurou que, ao serem ingeridos, ambos são metabolizados pelo organismo e eliminados do corpo. As substâncias também são autorizadas pela Vigilância Sanitária, respeitando as doses limitadas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirma as informações do especialista declarando que não há evidências de relação direta entre o ácido ascórbico e o câncer. Apesar disso, a organização pondera que a vitamina C pode contribuir com distúrbios gastrointestinais, cálculos renais e outros problemas de saúde, se for ingerida em grande quantidade e por um período de tempo longo.

Os ácidos também estão na lista de aditivos alimentares aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Isso significa que não há o risco de câncer. O que pode acontecer é o consumo em excesso causar algum dano à saúde. Mas, para o órgão, o uso das duas substâncias no processamento de alimentos é frequente.

O ácido sórbico é encontrado na categoria de conservantes e pode ser usado na dosagem de 0,02g por 100g de carne. Enquanto o ascórbico é permitido apenas na “quantidade suficiente para obter o efeito”.

Navarro finaliza alertando qual o maior perigo denunciado na Operação Carne Fraca: “não é a possibilidade do câncer. O mais preocupante está no fato da população estar consumindo carne podre.”

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Quais os perigos do consumo da carne estragada?

Ao ingerir qualquer produto de origem animal, seja carne bovina ou aves, que aparente sinais de deterioração o risco de contaminação existe. De acordo com o médico alergista e imunologista Marcello Bossois, o primeiro problema é no momento da manipulação.

“Se o alimento não for bem manipulado, em locais com condições de manuseio que estejam de acordo com as normas da Anvisa, ele poderá ser contaminado com bactérias, como no caso do stapylococcus aureus e salmonella, que poderão ser transmitidas pelas mãos das pessoas”, explicou Bossois.  Assim, infecções intestinais graves podem ocorrer, evoluindo ainda para infecções generalizadas.

Outro risco é o de intoxicação alimentar, que surge a partir das toxinas produzidas por estas duas bactérias ou por fungos. Vale dizer que a intoxicação alimentar pode, em muitos casos, ser mais grave que a infecção alimentar. Segundo o imunologista, uma carne intoxicada (com toxinas produzidas por microrganismos) dificilmente deixará esta condição, mesmo que o alimento seja muito bem lavado ou cozido.

As recomendações para quem consumiu alimentos contaminados é a procura pelo serviço de saúde para uma avaliação com um médico. Bossois ainda orienta que quem ingeriu carnes intoxicadas, “é importante que a pessoa busque se hidratar bastante, ajudando rins e fígados no combate a essas toxinas. Remédios para diminuir a acidez gástrica também são fundamentais”.

Mais fraldes

Além de maquiar as carnes outras contravenções foram cometidas pelas empresas denunciadas. Uma delas, é o ato de mudar a data de vencimento das embalagens de carnes já estragadas para vendê-las como se fossem novas.

Também foi injetado água em frangos para alterar o peso do alimento, o que pode não afetar a saúde, mas sim o bolso do consumidor.  O Ministério Público exige que a quantidade máxima de água no frango não pode ultrapassar 8%.

Em uma das ligações registradas, é citado a utilização da cabeça de porco na produção de linguiça – o que é proibido no Brasil. Entretanto, não oferece problemas à saúde, já que essa parte do animal aparece como matéria-prima na produção de embutidos cozidos, como a mortadela. 

Em nota, o Ministério da Agricultura tenta diminuir o alarde feito pela PF, em tentativa de acalmar a população. "O Serviço de Inspeção Federal é considerado um dos mais eficientes e rigorosos do mundo. Tem um quadro de 2.300 servidores e inspeciona 4.837 unidades produtoras habilitadas para exportação para 160 países. Foi com este Serviço que construímos uma reputação de excelência na agropecuária e conseguimos atender às exigências rigorosas de diferentes nações", declarou a pasta.

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