Na última terça-feira (4) o mundo todo se indignou com o maior ataque químico que a Síria já enfrentou em quatro anos. O gás, letal, matou cerca de 86 pessoas, incluindo crianças, e feriu outras 550 na cidade rebelde de Khan Sheikhoun no nordeste do país.
Leia também: Segunda dose de vacina contra febre amarela deixará de ser aplicada
No momento do bombardeio na Síria as vítimas sofreram de asfixia, desmaios, vômitos e espuma na boca. Os médicos que socorreram os atingidos afirmaram que esses sintomas correspondem às reações causadas pela exposição ao gás sarin .
Arma química
Esse agente é altamente tóxico, e que pode ser fatal para o sistema nervoso - mesmo que a dose tenha sido pequena. Para as crianças, o efeito é ainda mais forte.
O gás nervoso artificial foi feito originalmente como um inseticida, na Alemanha em 1938. Mas, posteriormente chegou a ser usado em ataques e guerras. A aparência é clara, incolor e sem gosto, ou odor. O sarin pertence a um grupo de produtos químicos chamado organofosforados, e é extremamente venenoso.
Em entrevista ao jornal britânico The Sun, o professor de farmacologia da Universidade Queen Mary de Londres, Rod Flower alerta que o agente é "muito volátil", tornando-o altamente perigoso. "Se você deixá-lo em uma sala, ele vai evaporar muito rapidamente", disse ele. É por esse motivo que é tão fácil de usar como uma arma química.
"Se você respirar o gás, ele pode ser extremamente venenoso. As vítimas adoecerão muito rapidamente, cerca de poucos minutos. Você só precisa de duas respirações e já será atingido", explica Flower.
Leia também: Ganhe mais controle respirando!
Vítimas morrem por asfixia
Hussain Kayal, de 26 anos, um dos primeiros a se manifestar sobre o ataque, disse ao The Times: "Senti uma dor intensa na minha garganta quando ela começou a fechar. Fiquei paralisado. Dentro das casas, haviam famílias adormecidas, sufocando. Eles estavam tendo convulsões, seus narizes estavam cheios de espuma e seus olhos estavam meio fechados”.
“Isso acontece porque esse gás interfere no sistema nervoso”, esclareceu o professor. O trabalho do sistema nervoso é passar mensagens do cérebro para outras partes do corpo, dizendo-lhe o que fazer.
Para que essas mensagens cheguem a diferentes partes do corpo, eles “saltam” de um nervo para outro, através de uma lacuna. O gás sarin interfere com essas mensagens químicas de tal maneira, que apenas uma exposição, nem que seja rápida, ao agente, e as mensagens deixarão de ser transmitidas corretamente.
"Em resumo, a morte é causada por asfixia, já que músculos utilizados para a respiração ficam paralisados. Mas, antes disso, causa sintomas horríveis."
Sintomas da exposição ao gás
O primeiro sinal é a baba incontrolável que sai pela boca e nariz, e em alguns casos, chega a fazer espuma. Segundo Flower, esse sintoma é muito comum. "O que acontece é que os nervos ficam presos na posição de estimulação contínua nas glândulas salivares e nas glândulas mucosas, causando um corrimento nasal.”
Outra reação ao gás é a dor de estômago, náusea, e uma vontade incontrolável de esvaziar bexiga e intestino. "É tudo muito desagradável e a morte pode ocorrer em questão de minutos", afirma o professor.
O agente químico também é capaz de grudar nas roupas das vítimas. Por isso, no ataque da Síria, muitas pessoas apareciam rasgando as roupas das vítimas. “Suas próprias roupas podem se tornar fatais, e podem contaminar outras pessoas, entregando o gás venenoso a um terceiro", acrescentou ele.
Mesmo se uma pessoa não é exposta a uma dose letal, o gás pode causar efeitos secundários desagradáveis, danificando o sistema nervoso, muitas vezes permanentemente.
No entanto, há anticorpos que podem reverter os efeitos do sarin. Na maioria dos casos como o do ataque na Síria, os médicos dão às vítimas atrofina via injeção. Além de funcionar rapidamente, inverte os efeitos do gás nervoso nas transmissões químicas.
Leia também: Médica falsa é presa após injetar cimento no lugar de silicone em seus pacientes