Análise partiu do questionamento sobre as lacunas que o surto de febre amarela apresentou nos últimos meses
Josué Damacena/IOC/Fiocruz
Análise partiu do questionamento sobre as lacunas que o surto de febre amarela apresentou nos últimos meses

O instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) divulgou os resultados dos primeiros sequenciamentos completos do genoma do vírus da febre amarela. A análise foi feita com amostras que ilustram o surto atual da doença no país. Entre os resultados, foi encontrada uma mutação genética jamais conhecida antes pela literatura científica mundial.

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Essas anomalias estão associadas a proteínas envolvidas na replicação viral, segundo a Fiocruz. Porém, os cientistas envolvidos no estudo afirmam que ainda não se pode fazer uma constatação dos impactos que essa alteração no vírus da febre amarela pode ou poderá causar à saúde pública. Isso porque não se sabe ainda há quanto tempo essa variação da doença está circulando em território nacional.

A instituição ressalta que ainda é preciso investigar mais amostras, relativas a locais diferentes e incluir casos em humanos, macacos e mosquitos para um apontamento com informações mais completas e esclarecedoras.

“Temos uma evidência que constitui um elemento novo, algo que não tinha sido observado antes. Porém, ainda não sabemos quais os impactos dessas mutações. Por esse motivo, consideramos fundamental imprimir velocidade à divulgação dos achados, para que os diversos grupos de pesquisa do país possam considerar esse aspecto em suas análises”, avalia uma das coordenadoras do estudo, a pesquisadora Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC.

Segundo a instituição, a pesquisa partiu dos questionamentos sobre o que há de diferente no vírus, tendo em vista a situação do surto no Brasil, que se mostrou o mais severo das últimas décadas, e pela facilidade e rapidez que a enfermidade tem se espalhado, com epizootias e casos humanos diagnosticados inclusive em locais considerados livres do agravo há quase 70 anos.

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Análise

Para fazer a pesquisa, duas amostras de macacos vindos do Espírito Santo, local onde o surto foi mais impactante no início do ano, que morreram no fim de fevereiro de 2017. A análise permitiu que fosse constatado que os microrganismos fazem parte do subtipo genético conhecido como linhagem Sul Americana 1E, que já é maioria no país desde 2008.

A espécie dos macacos, bugios, também ajudou no resultado. “Os bugios são especialmente importantes nas investigações sobre a febre amarela por serem considerados ‘sentinelas’: como são muito vulneráveis ao vírus, estão entre os primeiros a morrer quando afetados pela doença”, explicou  Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, que também coordenou o estudo com Myrna.

Ricardo também comenta que estes animais amplificam eficientemente o vírus em seu organismo, favorecendo a infecção de mosquitos que habitam as matas e a disseminação da transmissão silvestre, na qual os seres humanos são infectados acidentalmente. “Por isso, sua morte dispara um alerta para a possível presença do vírus em uma localidade”, descreve o especialista.

Com a extração do material genético das amostras, conhecido como RNA, foi feito um processo de sequenciamento completo do genoma, que apontou três evidências principais, sendo uma delas a alteração genética, comparando as amostras com outras já analisadas em surtos que ocorreram no Brasil e Venezuela desde a década de 1980.

Vacina

Mas, mesmo com essa descoberta, o impacto da vacina, que está disponível em diversas áreas do país pelo Sistema Único de Saúde (SUS), continua válido. Os pesquisadores tranquilizam a população, pois o imunizante adotado atualmente protege contra genótipos diferentes do vírus, que incluem o sul americano e o africano.

Além disso, a instituição informa que “as alterações detectadas no estudo não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para o funcionamento da vacina da febre amarela”.

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