A imunoterapia, modalidade de tratamento que busca estimular nosso próprio sistema imunológico para enfrentar as doenças, agora se uniu à quimioterapia e à terapia-alvo para compor um arsenal sem precedentes no tratamento do câncer.
Os cientistas sempre se surpreenderam com a aparente passividade de nosso organismo diante do crescimento de câncer . Por que nosso sistema imunológico, tão eficiente para reconhecer e atacar bactérias e fungos, muitas vezes se mostra tolerante com os tumores?
Na busca da resposta a essa questão, cientistas deram um grande salto no tratamento de diferentes tipos câncer, trazendo a imunoterapia para a primeira página dos jornais.
Imunoterapia 2.0
O uso da imunoterapia vem se consolidando cada vez mais como recurso para o tratamento oncológico. Essas conquistas foram celebradas como os principais avanços da terapia do câncer pela American Society of Clinical Oncology (ASCO), em seu último relatório anual, utilizando o termo Imunoterapia 2.0.
Ativação do sistema imune por microrganismos
O primeiro capítulo da imunoterapia no tratamento do tumores foi escrito no final do século XIX pelo Dr. William B Coley. Após observar a regressão de uma grande massa tumoral durante um quadro infeccioso, Dr. Coley conseguiu controlar o crescimento de tumores com a aplicação subcutânea de um extrato dessas bactérias. O quadro infeccioso gerava uma resposta que, em alguns pacientes, se mantinha por várias semanas, sem qualquer outro tratamento.
A estimulação do sistema imunológico pela inoculação de bactérias é ainda hoje utilizada no tratamento do câncer. O Bacilo de Calmett-Gerin (BCG), material usado na vacinação de crianças, é um recurso terapêutico importante no tratamento do câncer de bexiga.
Entendimento da resposta imunológica
Na década de 80, a imuno-oncologia deu seu primeiro grande salto, com o uso de citoquinas no tratamento de uma série de doenças oncológicas.
As citoquinas são substâncias envolvidas na comunicação entre as células de defesa do organismo. Interferon e Interleucina, principais representantes dessa classe de drogas, foram rapidamente incorporados aos tratamentos de uma série de doenças. Apesar das respostas aquém do desejado e do alto grau de toxicidade, alguns desses tratamentos ainda são utilizados.
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Amplificação da resposta imunológica
O passo seguinte nessa jornada se deu pelo descoberta de anticorpos capazes de amplificar a resposta imunológica, por meio da inativação de linfócitos que inibiam essa resposta.
O medicamento ipilimumabe é o principal exemplo dessa classe. Ligando-se aos receptores do Linfócito T CTLA4, o agente é capaz de bloquear a ação inibidora da resposta imunológica, deixando o organismo mais capaz de reagir ao tumor.
Restauração da resposta imunológica
A mais nova classe de medicamentos em uso na oncologia, os chamados “inibidores de checkpoint”, atua impedindo que a célula tumoral seja “aceita” ou “tolerada” pelas células de defesa do corpo.
São anticorpos específicos contra os receptores (PD-L1) utilizados pela célula do tumor nos contatos com os linfócitos.
Mecanismos de ação dos anticorpos anti-PDL1
Indicações da terapia anti-PDL1
Até o momento, os melhores resultados dos inibidores de checkpoint foram observados no melanoma e no câncer de pulmão, em situações de doença avançada.
Inúmeros estudos clínicos tem buscado explorar outras possíveis indicações desses medicamentos.
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Dr. Claudio Ferrari
Oncologista Clínico
Assessor de Diretoria do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
Secretário de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
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