Em março do ano passado, o auxiliar de produção Carlos Mariotti, de Santa Catarina, passou por um episódio trágico: ao operar uma máquina de fazer bobinas durante o trabalho, ele teve sua mão dilacerada pelo equipamento. Na época, para evitar a amputação, os médicos optaram por uma técnica arriscada para que ele pudesse ter, um dia, o membro de volta.
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Mais de um ano após o acidente na mão , é possível notar a evolução do catarinense. Em entrevista internacional, Mariotti falou sobre sua recuperação e os próximos passos que serão dados para que ele possa adquirir dedos outra vez. De acordo com suas declarações ao Mail Online, o processo cirúrgico para esse fim será o primeiro no mundo todo.
Para isso, médicos se preparam para cortar e reconstruir o membro, que hoje tem forma de uma luva de boxe, e formar dedos individuais. Os profissionais esperam restaurar algumas funções e a sensibilidade das partes que ainda restaram.
O auxiliar de produção está muito ansioso para a próxima cirurgia, que deverá acontecer em duas fases. A primeira consiste em dividir a mão dele em duas partes, fazendo com que fique em forma de “v”.
Segundo os médicos, um corte mais profundo na área entre o polegar e o resto do membro irá melhorar a flexibilidade do dedo, que funciona como uma pinça. Depois de alguns meses de recuperação, o procedimento final consistirá em cortar nas duas partes separadas, dividindo-as e reconstruindo os quatro dedos.
Medo da amputação
No dia 29 de março de 2016, durante o trabalho, uma maquina industrial usada para fazer copos plásticos e placas acabou prendendo o braço do auxiliar de produção com força, destruindo todos os seus tecidos, tendões e ossos.
Mariotti estava sozinho quando tudo aconteceu, e ele precisou puxar o braço com força, o que piorou o estado final do membro. “Eu gritei de dor e desespero quando minha mão foi arrastada para dentro da máquina. Como tinha força, puxei ela para fora, o que fez com que eu perdesse toda a pele na palma e na parte de trás da mão”, lembrou ele.
Ao ser socorrido depois pelos colegas do trabalho, ele foi levado ao hospital. O catarinense lembra que estava com uma dor insuportável e, em meio à confusão com tudo o que havia acontecido, ficou ainda mais em pânico quando disseram que sua mão teria que ser amputada. "Mas eu tinha muita fé de que isso não aconteceria e Deus colocaria alguém lá para me salvar" disse.
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Cirurgia
Para evitar a perda do membro esquerdo, um procedimento clássico da medicina foi realizado, que consiste em inserir os restos da mão na barriga do indivíduo para que a pele se regenere e assim consiga receber enxerto, tendo em vista que ainda restaram alguns ossos e tendões.
O médico ortopedista e traumatologista Bóris Bento Brandão, que comandou a cirurgia considerou o fato na época como “meio do caminho” para que a recuperação fosse completa. O procedimento é um recurso para evitar necrose na região dilacerada e tentar salvar o que restou.
A operação foi feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e durou duas horas. "Eu nunca tinha feito esse procedimento antes, mas eu sabia que era possível” revelou Brandão. “Separamos a pele dos músculos abdominais e criamos um saco dentro de seu corpo. Então, inseri a mão do paciente através de uma incisão de 10 centímetros em uma cavidade no abdômen. Isso impediu que a infecção necrosasse, permitindo que o membro se reconectasse ao suprimento de sangue e restabelecesse músculos e tecidos”, explicou o médico.
O cirurgião, que também é dermatologista, continuou: "nós suturamos e costuramos o braço no abdómen para que a pele cobrisse a parte de trás da mão enquanto o músculo abaixo formaria a palma".
Mariotti manteve o membro dentro de sua barriga por 42 dias. "Foi uma sensação realmente estranha porque eu podia sentir meus dedos mexendo dentro do meu corpo", contou. Para que ele não puxasse o braço, foi dito várias vezes as consequências que qualquer movimento brusco traria ao corpo e afetaria diretamente sua recuperação.
Ele relata que a dor e o sofrimento chegaram a ser terríveis, impossibilitando-o de dormir ou conseguir ficar deitado em uma posição confortável.
Em maio, o membro foi retirado do abdômen, e os cirurgiões separaram uma parte da massa formada durante o procedimento, criando uma espécie de polegar. Após isso, pedaços de pele da coxa do assistente de produção foram retirados para cobrir o resto do local.
Ajuda
Com muita fisioterapia e esforço, hoje Mariotti consegue fazer alguns movimentos simples, como o de segurar uma escova de dente ou pressionar o celular sobre sua orelha, que possibilitam uma vida menos dependente.
Mesmo com todo sofrimento dos procedimentos que teve que enfrentar, o auxiliar de produção tem esperança de conseguir dar mais alguns passos na reconstrução de sua mão.
No entanto, não é certo que o procedimento irá acontecer, já que os custos cirúrgicos são muito expressivos, e ele, que está sem trabalhar, não está conseguindo bancar os gastos. Sua família tem feito o que pode para ajudá-lo, principalmente sua esposa e seu filho, de oito anos.
Por isso, para tentar angariar fundos para sua cirurgia, eles criaram uma campanha onde as pessoas podem ajudar com dinheiro.
"Nunca imaginei, nem nos meus sonhos mais loucos, que os médicos dariam esse passo incrível para salvar minha mão. Agora preciso completar a viagem, reconstruir minha vida e voltar ao trabalho para sustentar minha família”, completou.
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