Drogas usadas no tratamento de ansiedade e insônia muitas vezes são receitadas sem cuidado por parte dos médicos, diz cientista
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Drogas usadas no tratamento de ansiedade e insônia muitas vezes são receitadas sem cuidado por parte dos médicos, diz cientista

Um dos principais motivos para a proibição do uso de drogas ilícitas é que o seu consumo pode levar à morte. No entanto, não são apenas os produtos proibidos pelo governo que são capazes de causar um efeito tão nocivo à saúde.

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De acordo com dois estudos realizados recentemente, um composto presente em medicamentos psiquiátricos, como Rivotril, Valium, Xanax, Ativan e outros remédios receitados para pessoas com ansiedade e insônia, a Benzodiazepina (BZD), está mais associado ao risco de morte do que substâncias como heroína e cocaína.

As pesquisas foram publicadas no American Journal of Public Health e no Vancouver Sun. Em uma das análises feita por pesquisadores da University of British Columbia (UBC), em Vancouver, Canadá, estudou-se o impacto do uso da benzodiazepinas nas taxas de mortalidade. O resultado mostrou que a BZD estava mais relacionada aos casos de óbito do que outras drogas ilegais.

O professor de medicina na UBC, Thomas Kerr, verificou que os casos de óbito associados à substância dos remédios contra ansiedade e ficaram até quatro vezes maiores nos Estados Unidos entre 1999 e 2014.

Além disso, há 50% mais mortes nos país anualmente por conta do uso de medicamentos psiquiátricos do que ligadas à heroína. "Esses estudos realmente revelam quão perigosas são essas drogas e como devem ser usadas ​​com grande cautela", disse Kerr.

“Há muitas pesquisas sobre o abuso de drogas mais tradicionais ou outras ilegais como heroína, cocaína e anfetaminas, mas não se sabe muito sobre o abuso desse tipo de droga", declarou Keith Ahamad, cientista clínico da UBC e médico especialista em vícios no St. Paul's Hospital.

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Levantamento

Para realizar um dos estudos, foi preciso acompanhar, durante cinco anos e meio, quase 3 mil pessoas. Ao final do período, 527 dos participantes havia morrido, o que correspondia a quase 20% do total.

Desses, foi possível perceber que a taxa de mortalidade foi quase 1,86 maior entre os usuários de BZD. O cientista clínico da UBC ainda ressaltou que mesmo excluindo outros fatores que poderiam ter influenciado a mortalidade, como o uso de drogas ilícitas, HIV, infecções e outros fatores que caracterizam comportamento de alto risco, os usuários de benzodiazepinas ainda apresentavam índices altos de mortalidade.

Hepatite C

A segunda análise foi feita dentro do mesmo grupo de pessoas, mas com uma parte menor delas, para verificar a relação entre o uso de BZD e infecção por hepatite C (HCV). No início do estudo, 440 indivíduos estavam atestados como HCV negativos. Mas com o tempo, foi possível descobrir que esse número diminuiu, indicando que o uso do composto estava ligado à infecção.

"O interessante sobre isso é que é uma droga prescrita e as pessoas pensam que estão seguras. Mas, como verificamos, provavelmente estamos prescrevendo essas drogas de uma maneira que está causando danos”, apontou Ahamad.

O cientista também defende que por não saberem o que realmente os remédios para ansiedade e insônia podem causar, muitos prescrevem a droga de maneira indiscriminada.  "Há riscos que acompanham esses medicamentos e precisamos ter muito, muito cuidado com a forma como estamos prescrevendo-os", finaliza.

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