Depois de ter causado pânico em 2015, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a declarar estado de emergência por conta da epidemia mundial que se espalhou facilmente, o vírus zika ficou conhecido como uma ameaça à população, principalmente às gestantes. Mas hoje, passado o surto e com o avanço dos estudos sobre o tema, já é possível considerar o uso do vírus para outros fins, inclusive, em prol da saúde.
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Uma pesquisa publicada nesta terça-feira (5), no “The Journal of Experimental Medicine”, desenvolvida por cientistas da Faculdade de Medicina de Washington e da Universidade da Califórnia, aponta que o zika pode ser a fonte de tratamento do glioblastoma, tumor maligno que acomete o cérebro.
Na época, o vírus chamou a atenção das autoridades por ser capaz de infectar e matar as células do cérebro dos fetos em desenvolvimento, provocando uma doença chamada microcefalia e outras malformações nos bebês. E é justamente essa função que pode ajudar a eliminar os tumores, e aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes com essa condição que costuma evoluir e matar em um ano após o diagnóstico.
"Nós mostramos que o vírus da zika pode matar as células do glioblastoma que têm tendência a resistir aos tratamentos atuais e que levam à morte", declarou o autor da pesquisa Michael S. Diamond, professor na Faculdade de Medicina na Universidade de Washington.
Segundo o artigo publicado, só nos Estados Unidos, aproximadamente 120 mil pessoas são diagnosticadas com gliblastoma – mesma doença que acomete o senador John McCain, por exemplo, que descobriu a enfermidade há poucos meses. Já no Brasil, o Ministério da Saúde afirma que são 120 mil casos por ano.
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Desenvolvimento
Para desenvolver os testes, os fizeram as avaliações em células-tronco de tumores removidos de pacientes com o câncer. Eles precisaram infectar os cancros com duas cepas do vírus, que se espalharam pelas células responsáveis pela doença, que resultou na redução do crescimento do tumor.
O experimento também foi feito em camundongos. O vírus foi injetado diretamente nos tumores de 18 ratos, enquanto outros 15 receberam placebo. O câncer também regrediu duas semanas depois da intervenção científica.
O estudo não descarta, no caso de um futuro tratamento com base nessas diretrizes, a associação de medidas adicionais como a quimioterapia e a radioterapia. Esse complemento é importante porque o vírus ataca as células-tronco cancerígenas, mas não a maior parte do tumor.
"Vemos que o zika um dia será usado junto com terapias atuais para erradicar todo o câncer", disse Milan G. Chheda, coautor do artigo e também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington.
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