Uma nova solução para a dor está sendo estudada. A novidade, se comprovada sua eficácia, pode começar a ser utilizada bem mais rápido do que você imagina por se tratar de algo que já foi desenvolvido. E não, os cientistas garantem que não se trata de uma nova droga, mas sim de jogos eletrônicos.
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Pode parecer brincadeira, mas os jogos de realidade virtual podem ajudar a aliviar a dor, não apenas por distrair os jogadores do que os aflige, mas também desencadeando mudanças no cérebro, conforme apontou uma pesquisa.
A distração é realmente capaz de desempenhar um papel no alívio da dor , conforme sugeriu uma revisão de seis pequenos estudos. Mas, também é possível que a tecnologia consiga agir na produção de mudanças no sistema nervoso quando usada para reprogramar a maneira que uma pessoa responde à dor.
"A imaginação guiada tem sido um tratamento para distúrbios psicológicos e a realidade virtual é uma maneira mais imersiva de fornecer esse método", afirmou a autora principal do estudo, Dra. Anita Gupta, da Escola Woodrow Wilson de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de Princeton, em Nova Jersey.
A imaginação guiada é uma técnica terapêutica de relaxamento que trabalha a imaginação e a direciona, de maneira sutil. É utilizada, muitas vezes, para reduzir a pressão arterial, diminuir os níveis de colesterol e glicose na corrente sanguínea, aumentar a atividade celular do sistema imunológico e também no alívio da dor.
"Mais pesquisas são necessárias para saber se a realidade virtual é verdadeiramente eficaz, mas tê-la como mais uma opção para tratar a dor é uma alternativa muito promissora", completou Gupta.
A tecnologia da realidade virtual está cada vez mais sendo usada para uma infinidade de fins médicos, incluindo cuidados com feridas, fisioterapia e tratamentos de queimaduras.
Outro ponto forte do estudo é o fácil acesso a essa alternativa. Os dispositivos de realidade virtual produzidos em massa não exigem mais do que um smartphone e fones de ouvido especiais para funcionar. Com o avanço da tecnologia, um número crescente de pessoas usam esses aparelhos para jogar videogames por pura diversão, ou até mesmo realizar passeios tridimensionais realistas em lugares que podem não ser capazes de visita na vida real.
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Pesquisa
Para chegarem a essa conclusão, os pesquisadores revisaram alguns artigos publicados no período entre 2000 e 2016, que exploraram diferentes maneiras pelas quais a realidade virtual poderia agir no sofrimento de pacientes adoecidos.
No total, os pesquisadores identificaram quatro pequenos experimentos que colocaram, aleatoriamente, alguns pacientes para tentar a realidade virtual com o objetivo de diminuir as dores, bem como dois estudos-piloto da tecnologia para esse uso.
Além de dor aguda, várias pesquisas analisaram estados de dor crônica, como dores de cabeça ou fibromialgia. Esses testes também combinaram realidade virtual com outros tratamentos, como mecanismos de biofeedback e terapia cognitivo-comportamental.
Em conjunto, os resultados dos pequenos estudos na análise atual sugerem que a realidade virtual pode ajudar com o que se conhece como terapia de condicionamento e exposição, uma forma de terapia comportamental que envolve ajudar os pacientes a mudar sua resposta à dor quando a sentem.
Os resultados da avaliação também poderão servir para, futuramente, eliminar a dependência de analgésicos, anti-inflamatórios e outros medicamentos que podem ser potencialmente viciantes.
No entanto, os autores da revisão advertiram, em uma publicação no jornal Pain Medicine, que mais pesquisas em grupos maiores de pacientes são necessárias para tirar conclusões completas e mais consistentes sobre o quão bem a realidade virtual funciona para essa finalidade.
“Os pacientes precisam entender que a realidade virtual é apenas uma ferramenta para projetar tratamentos, e não um tratamento por si só”, ressaltou Max Ortiz Catalan, pesquisador da Chalmers University of Technology em Gotemburgo, na Suécia, que não estava envolvido no estudo atual.
Os efeitos secundários da realidade virtual podem incluir náuseas e tonturas, alertou o estudo. Porém, ainda assim, essa é uma opção de abordagem não invasiva que está se tornando cada vez mais disponível e mais acessível.
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