O papa Franscisco afirmou que 'apenas um caso de abuso sexual deve bastar para uma condenação'
Elza Fiúza/ Agência Brasil
O papa Franscisco afirmou que 'apenas um caso de abuso sexual deve bastar para uma condenação'

Em meio a discussões na Câmara sobre a criminalização do aborto até em casos de estupro , o Ministério Público Federal em São Paulo afirmou, nesta sexta-feira (10), que o atendimento das unidades do Sistema Único de Saúde (SUS)  às mulheres que sofreram abuso sexual é bastante precário.

De acordo com um inquérito civil que o MPF conduz desde o ano passado, a má qualidade do auxílio prestado no SUS e a falta de informações claras sobre a assistência médica disponível são os principais problemas identificados, especialmente quando o abuso sexual resulta em gravidez. Sem o devido amparo no sistema público de saúde, as vítimas, sobretudo aquelas em situação de vulnerabilidade econômica, ficam sujeitas a métodos clandestinos de aborto e muitas vezes não resistem aos procedimentos.

Em uma requisição aos governos federal e do Estado de São Paulo, o MPF pede providência para aperfeiçoar o atendimento. Entre as medidas requisitadas pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (órgão do MPF/SP) está o treinamento dos profissionais que atuam no tratamento imediato e integral às vítimas.

Os procedimentos a que elas têm direito incluem métodos de prevenção a doenças, assistência psicológica e até mesmo a realização do chamado aborto legal, previsto em situações de estupro e condicionado à vontade das pacientes. Os procuradores cobram também a disponibilização de listas atualizadas das unidades do  SUS  onde os serviços são oferecidos. 

Os pedidos foram encaminhados ao Ministério da Saúde, à Secretaria Especial de Política para Mulheres (vinculada à Presidência da República) e à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O prazo estabelecido para que os órgãos respondam indicando o cronograma de implementação das medidas é de 30 dias e vence nas próximas semanas.

O aborto é permitido em casos de estupro, segundo uma portaria do Ministério da Saúde, que define as condições em que a gestação será interrompida. De acordo com a norma, a mulher deve ser submetida a uma avaliação estritamente médica, sem necessidade de registro de boletim de ocorrência, laudo do Instituto Médico Legal ou autorização da Justiça, por exemplo, para que o procedimento seja encaminhado. Apesar disso, muitos profissionais do SUS se recusam a realizar o aborto devido ao receio de serem penalizados ou mesmo a resistências de ordem moral.

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Além disso, ao procurar unidades do SUS logo após sofrer abuso, mulheres frequentemente se deparam com equipes sem qualificação para o acolhimento e a adoção de medidas emergenciais, como a profilaxia de urgência contra doenças sexualmente transmissíveis, o fornecimento da “pílula do dia seguinte” e a coleta de amostras para exames. O despreparo contraria a Lei nº 12.845/2013 e outras normas que estabelecem parâmetros de humanização no auxílio às vítimas, o que inclui o apoio médico, psicológico e social imediato.

Pedidos x problemas

O MPF requisitou à Secretaria de Saúde paulista a realização de cursos de reciclagem e capacitação dos profissionais que atuam nas 15 unidades do SUS indicadas pelo órgão estadual como centros que realizam o atendimento integral às pacientes. O MPF identificou que apenas quatro delas se adequam aos critérios de assistência humanizada, ainda que parcialmente. As demais apresentam deficiências graves, como a recusa de atendimento completo, a falta de registros e estatísticas sobre abortos realizados e a exigência de documento policial ou judicial que justifique o procedimento.

Ao Ministério da Saúde e à Secretaria Especial de Política para Mulheres, os pedidos de capacitação se referem às equipes dos canais de atendimento “Disque Saúde 136” e “Ligue 180”. A secretaria ligada à Presidência da República também deverá reforçar o treinamento de servidores que atuam nas Casas da Mulher Brasileira, unidades em todo o país dedicadas ao amparo multidisciplinar às vítimas de violência. 

O MPF exige ainda que os três órgãos atualizem e deem ampla publicidade à relação de estabelecimentos onde as mulheres que foram vítimas de estupro podem receber o atendimento e ser submetidas legalmente ao aborto, caso elas queiram. Atualmente, o cadastro na lista é feito de modo voluntário, e muitas unidades ainda não estão inscritas. A divulgação deve ser feita principalmente por meio das páginas do Ministério e das Secretarias na internet, com o uso de banners que viabilizem o acesso fácil, rápido e didático às informações.

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Solicitações também foram enviadas a Secretarias de Saúde de alguns municípios no Estado de São Paulo. Ao órgão da capital paulista, a Procuradoria pede melhorias no atendimento prestado às mulheres nos hospitais Prof. Mario Degni, no Jardim Sarah, e Dr. Artur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara. Pedidos semelhantes foram encaminhados às cidades de Araçatuba, Fernandópolis e Matão, onde o  MPF  também identificou problemas na assistência às vítimas de abuso sexual.

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