Em 2013, Jenipher Mukite era uma adolescente de 18 anos, vivendo em uma pequena comunidade ao leste da Uganda, na África. Mas, viu a sua vida mudar completamente de um instante a outro depois que ela e os dois irmãos mais novos, finalmente, tiveram a resposta por que tanto esperavam – e temiam – de sua mãe: ela é soropositiva e, portanto, as chances de que toda a família estivesse infectada pelo vírus HIV era grande.
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A revelação – mantida em segredo pela mulher ao longo de quase duas décadas – mudou completamente a vida dos três filhos, na época com 18, 14 e 10 anos. Ela contou à rede de TV CNN
que a mãe estava muito doente, acamada e sem conseguir comer nada, mas ainda assim se recusava a ir ao hospital para receber tratamento médico. Foi então que ela fez a pergunta mais difícil de sua vida: “mãe, você tem HIV
?”. “Sim”, a matriarca respondeu. E foi quando tudo começou a mudar.
Pior do que descobrir o problema da mãe, e ser – ela e os irmãos – alvos de fofoca e preconceito na comunidade, o fato de terem nascido com o vírus e não receberem o tratamento adequado por anos foi bastante complicado.
“Minha mãe manteve isso em segredo. E, de repente, toda a vila de Bugiri estava fofocando sobre nossa família inteira ser infectada”, lembra. “Foi um período desafiador”, completa.
Quando a mulher grávida é soropositiva e não toma as drogas antivirais, as chances de passar o vírus ao feto é de 15% a 45%, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, com o tratamento adequado, durante a gravidez, parto e amamentação, os riscos caem para 5%.
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A maioria dos países, incluindo a Uganda
, já oferece o teste quando as mulheres chegam para realizar exames do pré-natal e, em casos positivos, encaminham para o tratamento. Contudo, infelizmente, não foi o caso de Mukite e seus irmãos. Após descobrir estar infectada, sua mãe foi expulsa de casa pelo marido (e pai das crianças), e sem lugar para ir e ninguém para cuidar dela, acabou morrendo poucas semanas depois.
Reviravoltas
As três crianças e seu pai, então, também foram diagnosticados com a doença. E, com a morte da matriarca, a vida de Jenipher mudou completamente: sua confiança, carreira e vida. Na época, ela conta que chegou a pensar em cometer suicídio, pois sabia que não havia mais ninguém no mundo para cuidar dela. Afinal, o patriarca não “encontrou nenhum benefício em cuidar de duas meninas infectadas”, segundo conta.
A jovem, então, permaneceu durante um ano longe de casa – sofrendo todos os tipos de abusos – parte porque estava revoltada pela doença, pelo segredo da mãe e também por não ter recebido os incentivos para ir à escola, assim como não recebia todas as refeições como os outros. A irmã mais nova ficou em casa, mas após um tempo teve de fugir para a casa da tia.
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Já o irmão permaneceu em casa, e quando ela voltou, um ano depois, descobriu que seu pai tinha se casado novamente. Uma pontinha de esperança surgiu, agora poderia ter uma “segunda mãe”. Mas, não foi realmente isso o que aconteceu: não foi incentivada a ir ao colégio e nem era bem alimentada. Além disso, era obrigada a fazer mais tarefas domésticas do que antes.
No fim de 2016, o pai começou a insistir para que Jenipher se casasse e que, talvez, “já fosse tarde demais”, pois ela estava com 21 anos. O medo do patriarca de que a primogênita não conseguisse se casar ou ter filhos era explícito.
“Isso é bastante comum, especialmente com garotas que vivem com a Aids”, afirmou Allen Kyendikuwa, líder do programa para a Associação de Jovens de Uganda para Saúde Sexual e Reprodutiva de Adolescentes e HIV. "Muitas garotas precisam deixar a escola e se casar", completa.
Porém, em vez de ceder à pressão do pai, a jovem procurou a ajuda de um assistente social local, que a colocou em contato com um pastor com quem agora vive. Ela está estudando e fazendo o tratamento indicado contra o vírus HIV. Sobre se casar e ter filhos, Jenipher disse que tem planos, sim, mas que irá se formar primeiro.