O Hospital das Clínicas em Belo Horizonte, em Minas Gerais, está prestes a realizar um dos primeiros transplantes de fezes do Brasil. Com a criação de um Centro de Transplante de Microbiota Fecal, além de realizar o procedimento, o local também terá um banco para armazenar o material.
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O transplante de fezes , que se resume na infusão de uma solução de substrato fecal de pessoas sadias em pessoas doentes, apesar de pouco conhecido no País, é indicado para pacientes com infecção por bactérias que causam doenças e que são recorrentes ou refratárias - resistentes a antibióticos.
O organismo humano possui aproximadamente 100 trilhões de bactérias apenas no tubo do intestino. Elas são as responsáveis pela formação da microbiota intestinal, também conhecida como flora intestinal. No entanto, há bactérias benéficas e outras patogênicas, como a Clostridium difficile , que está presente na microbiota de até 20% dos adultos hospitalizados, com quadros de diarreia em até 5% deles. Desses 5%, um grupo considerável não apresentará resposta satisfatória ou duradoura ao tratamento com antibióticos. São essas pessoas que receberão o tratamento.
“Até o momento, no país, há poucos relatos de transplante fecal. Apenas um estudo foi publicado, no ano de 2015, descrevendo a experiência de 12 pacientes submetidos ao transplante no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Também há registros no Hospital Vera Cruz, em Campinas, e em uma clínica em São José do Rio Preto [São Paulo]. No entanto, todos os casos foram isolados e de forma experimental”, afirmou o chefe do IAG e coordenador do Banco de Tumores e Tecidos do Instituto, Luiz Gonzaga Vaz Coelho.
Segundo ele, não há registro de um centro de transplante de microbiota fecal respaldado pelas rigorosas orientações dos órgãos internacionais como o do Hospital das Clíncas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG).
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Seleção
De acordo com as informações divulgadas nesta semana pela instituição, o hospital está em processo de análise e seleção de pacientes para o primeiro procedimento. “O transplante será realizado em indivíduos com infecção recorrente ou refratária pela bactéria Clostridium difficile . O procedimento será como uma colonoscopia convencional, acrescida da infusão da microbiota”, explicou o médico.
Desde março, quando o serviço começou a ser implantado, uma triagem inicial foi realizada com um grupo de pessoas saudáveis para a doação do material fecal. Esse material foi encaminhado a um laboratório que fará o processamento e o preparo das fezes para armazenamento em ultrafreezer a -80°C, o que garante seu uso a longo prazo. O HC-UFMG já dispõe de material para o transplante de pelo menos cinco pacientes.
Serão analisados pacientes do Hospital das Clínicas e de outras instituições, já que, devido à portabilidade do substrato fecal, será possível fornecer esse tratamento para outros hospitais de Belo Horizonte e de outras cidades do Estado. O Centro de Transplante de Microbiota Fecal do HC-UFMG possibilitará ainda o desenvolvimento de investigações científicas sobre as relações da microbiota intestinal com a saúde humana.
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