Ao longo de uma década, a rede pública fechou mais de 41 mil leitos hospitalares no SUS (Sistema Único de Saúde), o que equivale a menos 11 vagas todos os dias, conforme aponta o estudo feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CMN). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo .
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Em tendência inversa, o sistema privado ampliou a capacidade em 18.300 novas vagas. Ainda assim, a perda dos leitos hospitalares no SUS é maior, o que colocou o País com 23.088 vagas a menos durante esse período.
Especialistas explicam que, em partes, a culpa pela redução geral das vagas é da mudança no atendimento psiquiátrico, que antes era centrado no ambiente hospitalar e, com movimento antimanicomial, passou a ser feito prioritariamente nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
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De acordo com entrevista feita pelo jornal com a consultora da CMN Carla Albert, dos 41 mil leitos fechados na década, 21 mil eram psiquiátricos. Porém, em grande parte das demais especialidades, a baixa na oferta de leitos está longe de ser um bom sinal. "Muitas vezes, representa falta de recursos e, sobretudo, dificuldade de acesso da população a um atendimento indispensável."
Albert observa que na Pediatria e Obstetrícia, por exemplo, o atendimento hospitalar caiu expressivamente. Entre 2008 e 2018, os leitos para atendimentos de crianças foram reduzidos em 26%, enquanto na Obstetrícia, a redução na capacidade foi de 16,87%.
A consultora da Confederação Nacional dos Municípios acredita que parte da desativação dos leitos se dá muito mais por razões econômicas do que técnicas. "E isso desorganiza o sistema. Basta ver as ações judiciais para garantir o atendimento."
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Além da área da Psiquiatria, a redução de vagas pode ser justificada por mudanças na Dermatologia e da Endocrinologia. "Basta ver o atendimento para pessoas com hanseníase. Hoje, é feito exclusivamente em ambiente ambulatorial." A consultora questiona, porém, a estagnação das vagas em Cardiologia. Em dez anos, apenas 23 foram abertas.
O Ministério da Saúde se manifestou sobre o questionamento da redução dos leitos hospitalares no SUS e informou que a tendência mundial é de "desospitalização". "É importante ressaltar que a redução no número de leitos gerais não afetou a oferta assistencial e a produção aprovada nos sistemas de informação do SUS. A quantidade de internações aprovadas no sistema em 2008 foi de 11,1 milhões e em 2017, de 11,6 milhões."