Cientistas da USP tentam editar combinação genética de porcos, a fim de que transplante para humanos não sofra rejeição
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Cientistas da USP tentam editar combinação genética de porcos, a fim de que transplante para humanos não sofra rejeição

Duas pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) estão tentando reduzir ou até acabar com a fila de transplante de órgãos no Brasil por meio do xenotransplante – uma técnica que visa transplantar órgãos de duas espécies diferentes - entre porcos e humanos. A iniciativa foi divulgada no dia 11 de fevereiro, durante a FAPESP Week London, um simpósio de pesquisas científicas do Brasil e da Inglaterra.

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O estudo é liderado por Mayana Zatz, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e uma das principais geneticistas do país, e pelo médico pioneiro no transplante de fígado com doador vivo, Silvano Raia. O objetivo é que, em um futuro próximo, seja possível realizar o  transplante de rins entre porcos e pessoas.

“Os órgãos dos suínos são muito semelhantes aos de humanos, mas se fossem transplantados hoje seriam rejeitados. A ideia é modificá-los para que se tornem compatíveis com o organismo humano”, disse Mayana.

A geneticista ainda explicou que o porco é um dos animais vertebrados superiores mais próximos ao homem e, por isso, tem um ciclo biológico muito parecido com o dos humanos e de fácil manuseio. A partir disso, os cientistas do Centro de Genoma Humano da USP tentam editar o código genético de porcos, a fim de diminuir a rejeição no transplante para seres humanos.

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Após passarem pela edição gênica, o soro do sangue desses porcos será testado com o de pessoas que estão na fila de transplante de rim, com o objetivo de verificar a presença de anticorpos na população brasileira que possam rejeitar os órgãos suínos.

 Atualmente, alguns países, como a Alemanha e os Estados Unidos, já criam porcos modificados com essa finalidade e apresentam resultados promissores no transplante de seus órgãos em macacos.  

Por mais que o Brasil ocupe a segunda colocação em número absoluto de transplantes, a fila de espera por órgãos para serem transplantados ultrapassou os 41 mil inscritos em 2016, sendo que 24.914 esperavam por doação de rim . Desse total, somente 5.592 passaram pelo procedimento.

“Trata-se de desenvolver um produto de base biotecnológica nacional, cujo objetivo final será prover à população em fila de espera para transplantes uma alternativa terapêutica viável e definitiva, que pode encurtar o sofrimento do paciente e seus familiares”, explicou a geneticista à Agência FAPESP.

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Os pesquisadores preveem que a primeira fase do projeto dure três anos e que, nesse tempo, sejam analisados, por meio de uma cátedra sobre o assunto, os aspectos éticos, religiosos e legais que envolvem o transplante entre espécies diferentes.

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